Capítulo 09 - Bruno

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Não consigo respondê-lo quando confessa gostar de mim, principalmente porque não sei os seus motivos para ter tentado se afastar de mim. Leo também fica em silêncio, esperando que eu reaja e, principalmente, diga qualquer coisa. Eu queria dizer algo, queria dizer que posso também estar gostando dele e que me irritou o fato de vê-lo com Mica, mas eu não posso, pelo menos não sem ter certeza de que isso é realmente real.

Não sei qual a expressão que toma o meu rosto, muito menos sei o que realmente passa na sua cabeça, mas tenho a convicção de que o fato de eu baixar a cabeça e continuar quieto quando deveria respondê-lo faz com que entenda que não compartilho do sentimento ou da vontade que ele tem para comigo. Por isso ele solta o ar, antes de coçar a garganta e me deixar sozinho dentro de casa.

Leo não bate a porta, então ele provavelmente não tem raiva por eu não correspondê-lo, mas isso tampouco faz com que eu sinta um aperto menor no peito. Sei que pode estar triste ou, no mínimo, envergonhado, e isso faz com que eu me sinta da mesma forma. Ainda assim, minhas pernas não me deixam segui-lo e minha boca não pede para que fique.

Então ouço um trovão ao longe e em seguida uma chuva leve atinge o telhado. Me pego pensando em como não me recordo de como estava o céu mais cedo, talvez já estivesse com nuvens carregadas e preparadas para encher as poucas ruas da cidade, mas isso se torna irrelevante quando acabo de magoar um garoto bom e que sempre me tratou bem, mesmo que eu tentasse me convencer do contrário.

Mesmo enquanto penso nisso, também penso que posso estar me cobrando demais. Leo pode gostar de mim, mas esse gostar pode não ser algo tão intenso ao ponto de magoá-lo ou fazer com que abandone suas esperanças no amor. E, mesmo que eu consiga pensar nessa possibilidade, continuo pensando em como ele pode estar se sentindo.

Não tenho precisão de quanto tempo estou sentado na cama dura e velha deixada aqui, mas quando a chuva passa, mesmo sem saber o que dizer, quero procurar por Leo. Por isso recolho as chaves ao meu lado e saio pela porta. Ainda há uma chuva fina do lado de fora, que provavelmente logo será evaporada pelo sol que acaba de ser descoberto pelas nuvens. Agora, percebo, o céu azul claro está com uma grande quantidade de nuvens brancas espalhadas, como se chuva alguma tivesse passado por ali.

Eu fecho meus olhos assim que tranco a porta atrás de mim e, ainda que não consiga enxergar as palavras certas, enxergo um bonito par de olhos quase amarelos que não merecem perder o seu brilho. Então, ao abri-los novamente, vejo a caminhonete azul estacionada à esquina. Leo está dentro, sentado no banco do motorista com sua cabeça baixa, a testa apoiada no volante.

Ele parece ouvir meus passos na rua molhada e por isso ergue a cabeça de repente, se inclinando até o banco do passageiro para destravar a porta. Entendo que essa é a deixa para que eu entre e, por isso, o faço.

Por um instante o observo, seu rosto é inexpressivo, seus olhos fixos no vidro à frente, mas sua mão esquerda, sobre seu colo, está inquieta. Além disso, seus lábios até agora cerrados se entreabrem, antes de se fechar novamente, sei que ele quer falar algo e, por mais que eu saiba que eu era quem deveria o fazer, decido por esperar. Talvez eu estivesse errado sobre o quanto gosta de mim.

— Achei que... — ele coça a garganta, como fez antes — devia te esperar pra ir embora. Talvez... — Leo faz outra pausa e fecha os olhos, perceptivelmente mexido, antes de concluir ao reabri-los — Não quero ser irresponsável e te deixar aqui sozinho sem roupas ou comida e... acho que caso decida morar aqui, é melhor comunicar a seu pai antes. Então...

— Tudo bem — ele se cala quando falo, mas ainda não me olha — eu vou com você, se não for problema.

Leo liga sua caminhonete e dirige devagar pelo caminho curto de ruas até a estrada de terra. Há poças de lama por todo o caminho e sei que em determinados trechos da estrada ele aceleraria para poder passar por elas sem nenhum problema, por isso coloquei o cinto de segurança. Eu não podia esperar que ele me cobrasse mais uma vez para o colocar e, mesmo que eu soubesse que essa era uma regra básica de segurança no trânsito, me incomodou saber que ele não se importou por eu não tê-la seguido desde o início, ao sairmos da cidade.

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang