QUARENTA E OITO

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RAFE

Momentos antes eu agradeceria muito se eu tivesse um bom reflexo de autodefesa. Teria evitado estar caído no chão com estilhaços de vidro banhados com uísque sobre um dos meus olhos e imediações do meu rosto.

Meu pai havia atirado seu copo com uísque em minha direção no seu momento de fúria, e para meu azar, ele tinha acertado em cheio no meu olho. Ele não se deu o esforço de me socorrer, mas se esforçou pra me mandar ir pro inferno enquanto eu tentava ao menos tirar meu celular do bolso e ligar pra alguém.

Não sei mais o que esperar dele.

Eu estava ali, estirado no chão do escritório dele, com um hematoma horrível no rosto causado também por ele. O meu pai. Se é que eu ainda devo chamá-lo assim depois disso.

Estou confuso. Minha cabeça dói. Minha pele arde.

Meu coração se quebrou facilmente igual a esse copo.

Sinto uma vibração intensa vindo do meu bolso, é o meu celular que eu estava quase conseguindo alcançar. Minha visão estava turva e conturbada, mas respirei aliviado ao ver o nome na tela. Era ela.

— Rafe?! — a voz suave ecoou do outro lado da linha.

— Sim, linda? — respondi com dificuldade após fazer esforço pra tentar me levantar do chão.

— Você está bem? Demorou retornar desde que saiu pra conversar com o seu pai.

Por um instante eu esqueci que um dos meus olhos estavam feridos e o fechei abruptamente, um gemido de dor saiu pela minha boca e uma lágrima acabou por escorrer.

— Rafe, fala comigo — ela insistiu — O que tá acontecendo? Quer que eu vá aí te buscar?

Segurei o choro. Não queria de jeito nenhum que ela ou qualquer outra pessoa me visse nesse estado.

— Não precisa, não aconteceu nada — fui breve — Só tô sentindo um mal-estar, vou na emergência e mais tarde ligo pra você.

Ela murmurou.

— Eu te acompanho.

— Não precisa, S/N. — falei com a voz grave.

— Tem certeza? — perguntou.

— Sim.

Desliguei o telefone.

Levantei do chão e fui até o banheiro me olhar no espelho antes de ir pro hospital. E pra minha surpresa não estava tão ruim, mas doía pra cacete. Joguei uma água no rosto e saí.

Quando voltei da emergência, decidi ficar em casa sem avisar à ninguém, mesmo sabendo de que quando eu pisasse os pés em Tanny Hill, meu celular tocaria.

Dito e feito.

— Fala. — minha voz soou firme.

— Eu e o JJ estamos indo aí agora. — S/N avisou.

Quando eu ia abrindo a boca pra tentar dizer que não os queria aqui, ela foi mais rápida.

— Epa, nem adianta reclamar.

Se passaram alguns minutos desde a ligação. Eu havia tomado um banho e refeito o curativo no meu olho. Joguei uma pipoca no microondas e peguei uma cerveja na geladeira. Eu estava assistindo futebol no quarto quando vi a porta se abrindo.

Ela entrou primeiro e depois JJ, ambos se mostraram confusos ao ver o curativo e obviamente a minha cara de derrota. Abaixei um pouco a cabeça pois pra mim aquilo era o ápice da humilhação.

S/N veio correndo até mim e sentou-se ao meu lado, segurando meu rosto com as duas mãos. Em seguida o Maybank também se sentou na minha cadeira gamer em minha frente.

— O que houve meu amor? — sua voz e suas mãos estavam trêmulas, os olhos semi-marejados.

JJ em minha frente tentava conter sua feição confusa, e era como se eu pudesse ver vários pontos de interrogação flutuando sobre sua cabeça.

Odiava vê-los daquele jeito.

Ergui a cabeça para olhá-la nos olhos, e assim que a vi, uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

— Meu pai não gostou muito da notícia.

Ela e JJ respiraram fundo juntos, em perfeita sincronia. Apesar da situação, eu tava feliz pra caralho por eles estarem aqui.

— Filho da puta. — foi a única coisa que saiu da boca do Maybank antes dele sair do meu quarto num lapso.

Não fiz questão de tentar impedi-lo ou de bater boca com ele, que se foda essa merda toda. Eu tô cansado disso tudo, dos julgamentos, do meu pai, de não poder ser eu mesmo e da imagem que ele implantou sobre mim na cabeça das pessoas, e é essa porra que tá fodendo com tudo agora.

Não vi a hora que S/N saiu de perto de mim para ir atrás de JJ e ver o que quer que ele estivesse fazendo com Ward, e quer saber, eu não me importava nem um pouco.

Também não consegui mover um centímetro sequer do meu corpo, fiquei imóvel na cama com o balde de pipoca no colo enquanto a cerveja esquentava e o jogo rolava na TV.

Chega a ser até engraçado, um homem grande como eu e com a fama que sempre tive que carregar, se encontrar nessa situação deplorável.

Mas acabei saindo do transe ao ouvir um barulho muito alto vir do andar de baixo.

Merda.

𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐁𝐞𝐭𝐰𝐞𝐞𝐧 𝐓𝐡𝐫𝐞𝐞 || 𝗝𝗝 𝗲 𝗥𝗮𝗳𝗲.Onde histórias criam vida. Descubra agora