Capítulo 04 - Alpha

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Se tinha uma coisa que irritava Aomine era aquela história de ser um Alpha. Desde criança ouvia da família como era especial por ter nascido assim. Como se apenas por isso fosse bom nas coisas que fazia. Fosse bom no basquete. Como se ter, hipoteticamente falando, um animal dominante dentro de si fizesse alguma diferença.

Okay, pegara pesado.

O animal não era hipotético. Podia senti-lo como se fosse parte de sua alma. Uma parte muito viva, quase incontrolável. Mas inegável. Principalmente nas luas cheias.

Seria um lobo?

Não. Definitivamente não era um lobo. Conhecera shifters lobo: malditos controladores com um senso de hierarquia imutável, enrigecida.

Aomine não era esse tipo de pessoa. Preocupava-se muito mais em melhorar mais e mais a si próprio do que ficar mandando nos outros.

A dúvida sobre sua fera acabou sendo deixada de lado, até que teve a chance de ver seu animal interior e descobrir a verdade. Conheceu outros shifters, Betas em sua maioria. E Mestiços. Esses eram mais comuns. Mais fortes do que humanos, claro. Não tão poderosos quanto os Nascidos. Um desafio que logo vencia dentro das quadras.

Fora delas? Sequer se importava.

Sua melhor amiga era uma Beta. Uma menina barulhenta demais para o gosto de Daiki, meio espalhafatosa. Mas muito confiável e fiel. Criou um vínculo com ela. Experimentou um pouquinho do que os adultos chamavam de Pack quando se referiam às alianças que nasciam naturalmente entre shifters.

Mesmo que seus pais alimentassem alguma esperança sobre os dois logo perceberam que nada mais era do que um laço de amizade. Assim que funcionava entre os de sua espécie: se o animal não aceitasse o parceiro, o relacionamento seria tumultuado e difícil.

A fera interior de Daiki não reconheceu a fera de Momoi como nada mais do que uma amiga confiável. E vice-versa.

No caso de shifters o reconhecimento precisava ser mutuo. Diferente de quando um shifter se apaixonava por um humano. Humanos não tinham um animal interior que tivesse de aceitar e reconhecer o outro.

Relacionamentos entre shifters duravam a vida toda. Quando um humano entrava na equação o futuro tornava-se incógnito. Os laços eram frágeis...

Não que Daiki ficasse pensando nisso. Era jovem e cheio de outras ambições para perder tempo com devaneios e fantasias sobre relacionamentos.

Seu foco era único: se tornar o melhor no basquete. Vencer cada shifter que surgisse em seu caminho. Fosse Beta ou Alpha.

Então conheceu cinco pessoas incríveis. Cinco Nascidos que, mesmo sendo Betas, estavam em pé de igualdade com suas habilidades. Foi incrível, jogar com eles e não ter aquela dúvida de que só era bom por ser um Alpha, já que cada um deles tinha um ponto forte que Daiki precisava superar.

Entendeu que essa era a diferença entre Betas e Alphas.

Betas tinham um ponto extremamente forte. Algo que os destacava e os tornava únicos entre os demais. Fossem os arremessos que nunca falhavam, o poder de copiar jogadas ou a defesa intransponível.

Um Alpha não precisava de um ponto forte. Ele era absoluto em dominar todos os pontos e isso o tornava único.

Teorias aplicadas ao basquete, claro. Nunca se poderia esquecer da personalidade dos shifters. Fora das quadras Daiki não era um exemplo de boa pessoa. A força de Alpha logo subiu a cabeça e ele percebeu que ninguém podia derrotá-lo, a não ser ele mesmo. Tornou-se preguiçoso, folgado, arrogante.

A vida perdeu a graça. O basquete perdeu a graça.

Jogava por jogar, com a secreta esperança de encontrar aquela velha emoção na quadra, de uma vitória difícil. De lutar, por que superar o placar vale a pena no final.

Marcado (AoKaga)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن