Capítulo 11 - Zona

1.5K 174 107
                                    

— Relaxa, baka! Assim não vai dar certo.

Então Kagami moveu o pescoço e girou os ombros, alongando-os. A face suavizou mais e mais, até que se tornasse tranqüila.

---

Falar era fácil! Mas como faria aquilo de mergulhar em si mesmo? Já se sentia um pouco relaxado. As mãos de Daiki entrelaçadas às suas eram uma segurança a mais. O garoto dissera que estaria ao seu lado por todo o caminho. Confiava que o Alpha cumpriria a promessa.

Não... Aquilo parecia inadequado.

Kagami iniciaria uma jornada para encontrar aquilo o que os shifters chamavam de animal interior. Um processo muito íntimo e pessoal onde descobriria sobre si mesmo um significado jamais imaginado. Devia fazer aquilo sozinho.

Concentração. Já sentira coisas inexplicáveis antes. Principalmente quando estava ao lado de Daiki. Algo em seu corpo enviava sensações que não tinha certeza serem suas, ainda que o atingissem diretamente.

Estava ali, em algum lugar naquela imensidão escura. Escura e silenciosa.

Taiga deu-se conta de que todo e qualquer som desaparecera. Era como se estivesse flutuando em um espaço sem gravidade, descendo devagar, suave. Sim... Estava mergulhando para a profundeza. E continuou até que seus pés tocaram em algo firme. Tão escuro que não podia ter certeza de nada.

Juntou as mãos. Podia tocá-las, seu corpo era sólido. Mas Aomine desaparecera. Olhou de um lado para o outro, incapaz de visualizar qualquer coisa naquelas trevas, nem mesmo um contorno ou silhueta.

Então a intuição veio inexorável. Não estava sozinho ali. Sentia alguém. Ou algo. Bem próximo a si. O coração bateu forte e rápido. A respiração ficou difícil. Sabia com certeza o que era. Adivinhou.

Satisfação emanou da criatura presa consigo nas trevas e atingiu Taiga, relaxando-o. Não teve medo, receio ou hesitação. O que quer que esteja ali não tinha intenção de machucá-lo. Lembrou-se das palavras de Daiki. Seu animal era seu amigo.

— Oe... — começou meio tímido, desconfortável por lançar aquelas palavras enquanto tudo era escuridão, cerrou as mãos em punho, elas tremiam de expectativa — Vim aqui para encontrá-lo. Quero conhecê-lo.

As palavras saíram firmes e decididas. Aguardou que fizessem efeito e chegou a pensar que não teria resposta. Mas seu pedido foi atendido.

"Sequer imaginas o quanto ansiei por este momento, Taiga", a voz desconhecida era grave e rouca, um timbre sombrio, beirando ao soturno. Ancestral. Soou direto na mente de Kagami, enchendo-o de calma. Trouxe também certa nostalgia, como se o garoto encontrasse algo que perdera há muito tempo.

— Posso vê-lo? — girou sobre o próprio eixo e virou-se para onde intuía estar a criatura — Tenho muitas perguntas!

"Estais certo disso? O caminho que inicias é um caminho no qual não há retorno". As palavras vieram carinhosas e pacientes. Preocupadas a ponto de emocionar Kagami.

— Sim. Tenho certeza — desejou mais do que tudo poder conhecer seu animal interior.

"Então que assim seja".

Luz. Luz tão forte e brilhante que Kagami precisou proteger o rosto com os braços, temendo ficar cego. Foi obrigado a aguardar um minuto inteiro para se acostumar à súbita claridade. Lentamente abaixou os braços e abriu os olhos.

Ofegou deslumbrado com o que viu.

Um tigre. Um grande animal de pêlo rajado em laranja, preto e branco, deitado no que parecia ser o chão daquele lugar de luz. Tudo era luz, por todos os lados. Como se a escuridão de antes sequer tivesse existido. E no centro da luz, a magnífica criatura.

Marcado (AoKaga)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora