Capítulo 12 - Vínculo

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Daiki arrastou-se pelo chão, lutando para ficar de pé. Ignorou os cacos de vidro que cortaram sua pele. Tais ferimentos se curariam rápido. A prioridade era ajudar o Ômega que convulsionava, sofrendo com o poder excedente.

Subia na cama outra vez quando sentiu a presença dos Betas, guiados pela confusão que chegara a eles. Nem olhou na direção da porta, seu animal interior rugindo contra a invasão.

— Não se metam! — gritou para Kise e Kuroko, paralisando-os do lado de fora do quarto, obrigando-os apenas a assistir, incapazes de ir contra a voz de comando do Alpha.

O momento era extremamente delicado. Aomine sabia que a interferência de um Beta poderia acabar com tudo. Apenas um Alpha seria capaz de fazer algo na situação que saia de controle. Fôra imprudente e arrogante acreditando que seria fácil guiar um Ômega, assim como era fácil com Betas. Ignorara completamente a essência misteriosa dessas criaturas. Era sua culpa. Nunca deveria ter feito nada sem um vínculo.

Sentou-se sobre o colchão e trouxe Taiga para os seus braços, tentando impedir que seu corpo se debatesse tanto. O rosto se cobrira com uma palidez cadavérica. Mal parecia respirar.

Compreendeu que não conseguiria fazer nada sozinho. Precisava de seu animal interior para dominar e canalizar aquela energia toda, evitando que continuasse a consumir o corpo de Kagami.

Colocou-o de novo sobre a cama e segurou-lhe o rosto com as duas mãos que, sujas com o próprio sangue, mancharam a tez lívida. Contraste assustador.

Precisava entrar na zona. Não pela primeira vez, como o Alpha poderoso que era. Conhecia o caminho.

Fechou os olhos. Concentrar-se podia ser difícil em tal situação para qualquer um. Mas Daiki não era qualquer um. Respirou fundo, focando-se em si mesmo, permitindo que tudo o mais desaparecesse, os sons se calassem, as cores desbotassem, o mundo saísse de foco até que tudo o que restasse fosse o silencioso espaço que antecedia a Zona em sua alma.

Então luz descortinou a câmara, uma sala imensa, infinita. Tão grande que era impossível ver as paredes ou o teto inalcançável, apenas o chão coberto de ladrilhos brancos. E seu animal interior. Uma grande pantera, de pêlo absurdamente negro, tão negro que reluzia. Os olhos eram azuis, um tom muito próximo ao de Daiki. As patas da frente estavam cruzadas, em uma pose displicente. Às suas costas a cauda serpenteava de um lado para o outro, preguiçosa.

— Yo — Aomine coçou a nuca enquanto se aproximava da pantera. Ela acompanhava seus movimentos com interesse predatório — Preciso de ajuda.

"Precisas, é? Se não me dissesses eu nunca adivinharia...", debochou. A voz rouca vinha cheia de ironia. Tinha clara intenção de irritar.

— OE! — o garoto ergueu o pé para tentar chutá-la no focinho, mas seu animal apenas moveu a cabeça para o lado, desviando. Frustrado, deixou-se cair ao chão, sentando-se a moda dos índios — A coisa tá feia lá fora, Animal. Não é hora pra brincar. Nosso companheiro precisa de nós!

"Nós? Tens certeza disso, Daiki? Ou talvez ele mereça um Alpha melhor", insinuou sem hesitar.

—... não existe Alpha melhor do que eu.

"Claro", a cauda parou de mover-se e a pantera o mirou com os olhos estreitados, ameaçadores. "Eu avisei-te para que fizesses tudo direito. Eu alertei-te sobre a importância do vínculo. Eu percebi a irregularidade da energia do Ômega. E o que fizeste? Me ignoraste como o imprudente que és", a ironia agora totalmente substituída por recriminação impiedosa.

Aomine trincou os dentes. As mãos se fecharam em punho, desacreditando no que ouvira.

— E você escolheu esse momento pra me dar a porra de uma lição? Nosso companheiro está morrendo e você me vem com sermão?! É isso, Animal?! O tempo...

Marcado (AoKaga)Where stories live. Discover now