Capítulo 29 - Proibido

1K 119 19
                                    

A espera mostrou-se a pior parte do plano precário de Kagami. Depois de arrumar o colchão para ocultar o estrado quebrado, sentara-se e aguardara. Era impaciente e cabeça quente, não conseguia se concentrar e calcular se passaram várias horas ou poucas.

Vez ou outra Daiki entrava em contato, sondando a situação. Talvez por captar altas doses de sua ansiedade. Nesses momentos, Taiga o tranquilizava e garantia que ainda estava tudo bem e se certificava de que o próprio Alpha também estava bem.

Era um alívio que ainda não tivessem feito mais mal ao rapaz, já ferido. Por algum motivo que não compreendia, Aomine parecia enfraquecido. Isso fazia parte do esquema de Hanamiya. A angústia de captar seu companheiro fraco e machucado trazia uma sensação de impotência, de inutilidade. E culpa.

Afinal, ele fôra trazido como arma para causar danos a Kagami. Uma peça para aprofundar o tal vinculo negativo, como o inimigo tanto alardeara anteriormente. Fazia sentido: estavam na lua cheia, se encaminhando para a minguante. Mas a influencia do ciclo atual ainda era forte, a sentia em si.

Também sentia a força da Marca em seu corpo. Inconscientemente, levou uma mão ao pescoço e tocou a cicatriz que se curava lenta. Sabia que a pele sensível ainda tinha manchas feias e doía um pouco, não tanto quanto antes, todavia.

Taiga começava a compreender um pouco daquele mundo. Bastava somar as informações e até uma criança entenderia: precisavam da lua cheia para marcar um shifter, mas sem um vínculo profundo; a Marca que Daiki lhe dera não seria suplantada. Por isso Kentaro teria que esperar um mês, na certeza de que criaria um laço forte o bastante para afetar Taiga. Não por completo; afinal, lembrava-se claramente das palavras que ouvira na primeira conversa em seu apartamento, quando Kise ou Kuroko havia lhe dito: Daiki e ele teriam um vinculo de companheiros. Um vínculo criado pelo amor. E esse era o único tipo de ligação que não podia ser quebrada.

Precisava admitir uma coisa, mesmo a contra gosto. Sentia o vínculo negativo começando a tomar forma. Kagami não podia controlar. Pensava no que sofria naquele momento. No que Daiki sofria, e ondas de rancor e raiva o dominavam. Todos voltados contra os inimigos. Ainda não focava diretamente em um, desprezando Alpha e Beta igualmente. Mas sabia que isso mudaria em breve.

Tão logo Kentaro tomasse a iniciativa de fazer mal direto a si ou, pior, direto a Daiki, tornaria-se alvo de todo sentimento ruim que Kagami pudesse nutrir! Não podia evitar, tinha uma parte humana no fim das contas. Jamais seria sequestrado, maltratado ou assistiria alguém importante sofrer e manteria-se nulo. Não tinha sangue de barata!

O ciclo parecia infinito. Angustiava-se por compreender todos esses fatos. A angustia trazia desespero por não ser capaz de se controlar. Desespero causava mais rancor contra o Pack que os fazia sofrer assim. Tudo isso somava-se e começava o rascunho de um vínculo negativo profundo. Exatamente o que Hanamiya e sua corja desejavam.

Com um resmungo alto, deixou-se cair de costas no colchão e arrependeu-se quase imediatamente. Esquecera do improvisado bastão que estava na cama e acabou arranhando suas costas.

Ficou de pé e andou em círculos. Expectativa e ansiedade torturando seus nervos sem piedade. Voltou a sentar-se algum tempo depois, respirando fundo.

Foi então que seus sentidos ampliados captaram a movimentação do lado de fora do quarto. O Beta que vigiava a porta afastou-se, silencioso. Mas o animal interior de Kagami agitou-se sentindo a proximidade do Alpha e seu aparente braço-direito vindo naquela direção.

Imediatamente ficou de pé. Pegou sua arma e escondeu atras das costas, segurando-a firme com as duas mãos e tentando não parecer suspeito, na medida do possível.

Assim que a porta se abriu, Seto entrou no pequeno quarto. Vinha com um sorriso confiante, cheio de si. Sua presença deu a impressão de ocupar todo o local, quase fazendo Kagami dar um passo involuntário para trás. Apesar do instinto, o Ômega manteve-se firme no lugar. As mãos apertando a madeira com mais força, ignorando algumas ferpas ásperas que rasparam em sua pele.

Marcado (AoKaga)Where stories live. Discover now