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"I know you've never loved the sound of your voice on tape.
You never want to now how much you weigh.
You still have to squeeze into your jeans, but you're perfect to me"- Little Things

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Phoebe Moon

- Pai, estás bem?- olho em volta e agarro no meu pai agora embriagado mais do que nunca, seguro na sua cabeça que não para às voltas e olho para a sua faceta. Os seus olhos estavam incomparáveis com os olhos do homem que saiu hoje de manhã de casa, muito encarnados e com olheiras profundas.

Isto estava ficando mais preocupante do que nunca, sabia que quando o meu pai chegásse ia ser a mesma merda que os outros dias, bêbedo e violento, mas as coisas estavam diferentes desta vez.

Ele estava bêbedo, mas não violento, simplesmente sem forças e quase tendo um ataque. O que seria de esperar para um homem que sai de madrugada e só volta transburdando a um cheiro insuportável de alcool. Mas e se lhe desse um ataque? Eu não sei o que fazer exatamente. Agarro no telefone de casa e ligo para a vizinha, que de certo virá ajudar-me.

Aguardo com o meu pai suando e gemendo, eu repetia mensagens positivas de que tudo iria ficar bem, mas sinceramente? Eu não faço a mínima das ideias. Mas preferia pensar que sim. Respiro pensando numa vida sem o meu pai, sei que isto não é bem uma vida... Mas é a única coisa que eu tenho.

Minha mãe morreu quando me teve e meu irmão tem a sua vida, não vai querer cuidar da sua irmã mais nova, e então? Não tenho nenhuma opção e isso prova o quão injusta a vida pode ser. Só queria agarrar numa folha e escrever o meu futuro, mas isso nunca vai acontecer, não vale a pena eu criar metas e expectativas, nunca sei o que acontece no dia de amanhã, tudo é tão imprevisível... Como o que está acontecendo agora, nem nos meus pensamentos mais negros pensava na possibilidade do meu pai ter um ataque hoje...

- Ele ainda está acordado?- a vizinha pergunta, sempre que acontecia algo era ela quem eu chamava, sinto que tenho muito a agradecer a esta mulher que em vez de estar com a sua família aproveitando o tempo, está aqui aturando um bêbedo incontrulável, que por sua vez é meu pai.

- Não, já a muito tempo que não.- desesperei quando ela entreabriu a boca, devia tê-lo deixado acordado? Meu deus! Talvez a culpa de ele morrer seja minha, e não só.

A culpa também é minha quando ele começou a beber copos e copos de vinho nas tardes do fim-de-semana, assim chegar até hoje e não passar uma hora, nem um segundo sem um pingo de alcool. Minha culpa porque até antes da minha mãe morrer, o senhor Jonathan era um homem estável e feliz, mas bastou eu chegar para estragar tudo por completo.

Ou eu, ou a minha mãe, era essa a escolha, sei que fizeram a sua escolha, mas agora? Sinto que quando o meu pai olha nos meus olhos, vê a minha mãe e a sua morte, e isso é da maneira mais horrível, a pior coisa do mundo. Por vezes pergunto-me se fizeram afinal a escolha certa, não seria melhor ela estar viva, o meu pai feliz agora e não a risco de morrer e o meu irmão aqui, junto deles. Sim, porque eu sei que ele viajou só para fugir de mim e da lembrança que eu transmitia de que tinha perdido a mãe só para ter uma irmã.

- Filha, já liguei para a âmbulância, já vêm.- ela sorriu levemente, sinto que aquele sorriso é o mais triste que ela já deu, com pena de mim. Odeio quando têm pena de mim, sinto-me tão frágil e desprotegida quando olham daquela maneira, como se quisessem ajudar de alguma maneira fazendo isso, mas não conseguem.- Mas sabes como é que é, eles demoram e não sei se o teu pai vai aguentar esse tempo.

- Muito obrigada por tudo.- abracei-a, não consegui resistir as lágrimas e simplesmente deixei-as descer. Não era a altura de ser a forte da história, não agora que o meu pai podia morrer e eu ficar perdida pelo mundo, possivelmente ser obrigada a viver na rua, eu ainda sou nova para passar por isto tudo sozinha. Não quero isso para mim.

Passados dez minutos bem contados por mim com ajuda do meu telémovel, ainda não havia sinal de ambulância, começava a duvidar se a vizinha disse o endereço direito, isto não é normal. Largo o meu pai na cama e aproximo-me do seu peito, o corção ainda batia para meu alívio, suspiro de seguida. Mordi o lábio para prender as lágrimas que querem fugir, beijo a sua testa e vou até a porta.

- É aqui?- pergunta um bombeiro correndo na minha direção com uma maca, o alívio que sentia agora era maior, ainda havia esperança do meu pai voltar para casa.

- Sim, por favor!- agarrei um dos bombeiros no braço com todo o desespero que sentia.- Cuidem dele, por favor!- eu estou completamente desesperada e o bombeiro fez-se perceber o que eu sentia, pois duvido que realmente percebeu, talvez nunca passou por o que eu estou passando.

- Faremos o que está ao nosso alcance.- o bombeiro sorriu e foram buscar o meu pai, chorei quando ele passou por mim ainda aninanimado.

Sigo-os e entro na ambulância, agarro nas mãos do meu pai com força e beijo-as, apesar de tudo ele foi o único que nunca me abandonou, a bem ou a mal ele fazia com que nunca me faltasse comer nem casa. Ele também sabia que o esforço que a minha mãe fez ao sacrificar a sua própria vida pela minha não podia ser em vão, não podia negar aquilo que a minha mãe deu-lhe antes de ir, apesar de querer.

Chegamos ao hospital, o meu pai foi logo em urgência e eu fiquei na sala de espera. Aine não sabia qual era a sua sala, mas tinha de saber. Levantei-me e fui ter à mesa da secretária que se encontrava vazia, este hospital talvez seja um pouco imcompente, onde já se vimos um hospital sem secretária?

- Desculpe, eu tive de ir ali bus...- interrompi-a, não queria saber o que ela está fazendo, não mesmo, nem lhe perguntei nada.

- Procure aí o meu pai.- aponto para o seu computador, ela ficou meia esquesita quando eu agi assim, mas não me importo, quero saber do meu pai.- Jonathan Moon.

- Está na sala 25 no terceiro andar ao virar a esquerda.- ela falou e eu corri logo que acabou, entro no elevador e meto no terceiro andar, bato o pé impaciente até chegar à porta onde devia, olho em volta e entro na porta, má decisão! Eu entrei e tremi logo, os médicos estavam gritando ações uns aos outros e a máquina fazia um barulho estritamente. Grito quando estavam com umas placas tentando acordar o meu pai que parecia ter... morrido?

- Não pode estar aqui.- um médico disse e tentou tirar-me de lá, dou-lhe um estalo e corro para o pé do meu pai, abraço-o e choro tudo o que tinha de chorar. O pior aconteceu, e agora não sei de mais nada. Eu quero voltar no passado e mudar tudo o que aconteceu, só faço merda na vida dos outros, o melhor mesmo é ficar sozinha só para não atromentar mais a vida de ninguém.

Os médicos agarram-me e eu grito, grito a palavra mais triste para mim neste momento, "PAI!!", é triste porque eu estou perdendo essa palavra, daqui a uns dias já não vai fazer parte do meu dicionário, já não a vou falar com a mesma regularidade. Já nem vai fazer mais sentido para mim...

Os médicos percebem a minha agitação e para tentar acalmar-me ingetam-me uma vacina e só me lembro de ver um deles agarrar-me para não cair violentamente.

╯﹏╰﹏╯﹏╰

Espero que gostem desta fic do Harry, próximo capitúlo a sair quando tiver mais alguns votos para incentivar!!

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08.07.16

MIRROR OF LIFENơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ