Apocalypse

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Cheguei em casa vencida por duas coisas: cansado & tristeza. Estava com medo de me acharem isolada ou depressiva por nunca sair do quarto, mas com a Bruna aqui é impossível ficar no mesmo local.

Eu não a odiava de verdade, ela era uma boa garota... mas o fato dela ser a privilegiada do cara que sou apaixonada faz meu lado demoníaco florar.

Apenas entrei no meu quarto e fui tirando minha roupa e jogando pelo quarto, enquanto a banheira enchia eu trocava mensagens e checava minhas redes sociais. Coloquei Cigarettes After Sex pra tocar e desejei um litro de whisky pra degustar enquanto refletia sobre mim mesma na banheira.

Aquele momento era meu, meu corpo relaxava com a água morna, meu cérebro descansava ao som de Apocalypse, cantarolava e pensava no Júnior... lembrava dos momentos bons que passamos e do meu ódio repentino por ele que em pouco tempo viraria um amor incontrolável.

"Quando você estiver sozinho
Eu vou encontrar você
Quando você estiver se sentindo para baixo
Eu vou estar lá também"
— Apocalypse, Cigarettes After Sex

Lembrava das noites que tivemos, do calor que sentíamos, de como tudo parecia ao nosso favor, de como os lençóis nos cobríamos e dormíamos colados. Eu o amo e não posso mais impedir. Na verdade, nunca pude.

Alguns dias depois...

— Não acredito que você vai se mudar...
— Meu tempo aqui já deu, não é? -sorri de leve pra ela.
— Fiquei chateada desde quando me falou -Nadine continuou- mas você sabe que tem minha ajuda pra qualquer coisa!
— E como sei! -peguei nas mãos dela- vocês foram uns amores comigo e nem sei como retribuir.
— Você pode começar ficando mais tempo aqui, por exemplo...
— Rafaella, sua besta! -rimos- gente, o apartamento nem é tão longe daqui. Vou estar sempre enchendo o saco de vocês.
— Pior que você enche mesmo, viu?

Dei um tapa no Jota e todos gargalharam.

— Vocês acham que essa conversinha do Juninho com a Bru vai durar quanto tempo? -Rafa cochichou.
— Eles estão lá faz cota, né? -Jota completou.
— Vocês parem de ser fofoqueiros e vão arrumar coisa pra fazer
— Concordo com a Na! -rimos juntas.
— Gente, o pudim tá pronto!

Olhamos para a Marcela com cara de lobos mortos de fome e corremos pra cozinha.

— Você tá de dieta desde quando chegou e já tá no terceiro prato.
— Jota, acorda pra vida. Eu como cinco pedaços e queimo tudo amanhã na esteira!
— Eu só queria ter as coxas da Maya. Nada mais! -Marcela elogiou.
— Não é difícil gente...

Eles riram e zombaram de mim. Mal eles sabem que isso é só uma exigência caso você queira ser a garota de programa mais cara de uma boate.

Eu nunca fiquei tanto tempo sem transar como estou aqui, eu sentia saudade as vezes, por mais estranho que seja. Já pensei em contar pra Rafa sobre mim, sobre como eu e o irmão dela nos conhecemos... mas seria embaraçoso e podia me prejudicar.

Eu não falava com o Júnior com frequência, apenas quando eu realmente precisava. Eu não tirava mais fotos pra provocá-lo, não fazia piadinhas e muito menos o ignorava. Eu apenas evitava contato.

Baixei alguns aplicativos de relacionamento, já que eu estava nessa onda apaixonada... eu poderia muito bem me apaixonar por outro com facilidade. Mas a Júlia disse algo um dia desses que me frustrou.

"Nenhum desses caras te agradam porque nenhum deles são o Júnior, nenhum vai fazer o que ele fez contigo e nenhum deles sabem o que você faz e o que você foi no passado."

Julia as vezes era burra mas com certeza era a melhor pessoa pra me dar conselhos quando eu preciso. E tudo o que ela disse tem sentido.

Quem iria namorar uma garota de programa?

— Você tá bem? -Gil se sentou um pouco próximo de mim no sofá.
— Estou... por que? -não tirei os olhos da TV.
— Sei lá -ele de ombros- você ta sozinha aqui enquanto poderia estar no seu quarto.
— Ah... o pessoal foi indo dormir e eu fiquei, preguiça de subir pro quarto, sabe? -sorri.
— Saquei... mas então... -ele estava perdido- vai se mudar mesmo amanhã?
— Sim, sim -balancei a cabeça.
— Achei que levaria mais tempo, pra arrumar... decorar, enfim... fazer tudo.
— Eu sei o que você quer dizer.

Eu queria chegar aos finalmente naquela conversa.

— Sabe? -ele me olhou confuso.
— Sei! E eu só estou me mudando porque não suporto mais ver o Júnior de um jeito que eu não consigo. Vê-lo como amigo dói, vê-lo bem com a Bruna me machuca. E você tinha razão!
— Tinha?
— Sim, não se faça de bobo. Você sempre me chamou de amante, sempre brincava comigo e eu ficava puta mas era só a verdade. Eu não nasci pra ser do Júnior, a vida dele já tá feita.
— Mas o estrago no relacionamento dele também.
— Eu não fui a primeira amante dele, e mesmo se eu fui... eu não tenho controle de mim! Se eu tivesse, estaria com o meu emprego em São Paulo vivendo a vida que eu sempre vivi.
— Ele gosta de você, Maya. -Gil me respondeu grosso.
— Não o bastante pra me assumir. Agora vou dormir, Gil! Tenho um dia cheio amanhã -dei um beijo em cima bochecha com covinhas- Durma bem!
— Boa noite!

Ele deu um sorrisinho e acenou, subi pro meu quarto com lágrimas nos olhos. Estava tudo um inferno de se aturar, mas eu precisava respirar fundo e contar até cinco, eu iria embora amanhã e tudo estaria bem.

Acordei às oito da manhã e coloquei a roupa mais leve que eu tinha e chinelos, eu iria organizar a mudança e arrumar meu apartamento do jeito que eu queria. Desci as escadas soltando meu cabelo longo e o ajeitando.

Encontrei Júnior entrando em casa e fechando a porta atrás de si, era sábado. Ele não deveria estar acordado essa hora, estava de folga. Olhá-lo quando está só ele em algum lugar me faz tremer e meu coração esquecer de como se bate em ritmo adequado.

— Terminei meu namoro.

𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐎𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐁𝐑𝐀𝐈𝐍 | 𝐍𝐄𝐘𝐌𝐀𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora