Visita inesperada

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Cheguei em casa já a noite com os pés doloridos de tanto andar, espero que meu esforço seja recompensado e logo. Coloquei meu celular pra carregar e fui cutucar algo pra comer na cozinha...

Minha rotina era essa e eu não tinha pra onde fugir, eu só pensava em trazer a Júlia pra cá o mais rápido que eu podia. No momento Júnior deve estar em outra balada, curtindo a solteirice enquanto eu estou no lixo e provavelmente a Bruna também.

Meu celular ligou e eu deitei na minha cama pra passar o tempo fuçando nele mas na mesma hora a Júlia me ligou e eu atendi sem excitar.

— Amiga, eu fiz o que eu falei. Ta tudo muito estranho, mas você já fez entrevista de emprego?
— Maya, estamos com problemas. -a voz dela estava trêmula.
— Que?
— Seu pai morreu, né?
— Não sei. Sei lá daquele babaca! Por que isso? Tá louca? -me sentei na cama um pouco tensa.
— Tem um velho aqui na sala. Ele jura que é seu pai!

Ok, eu espero tudo da minha vida. Menos isso!

— Meu-Pai? -minha voz quase não saiu.
— O próprio! Quer dizer, eu não sei. Ele chegou dizendo que quer falar com você, que viu você junto com o Neymar e precisa da sua ajuda.
— Ajuda? -gritei- que porra de ajuda? Esse homem quer se aproveitar, Julia! Eu não tenho pai mais, o cara se escafedeu quando eu tinha menos de dez anos e você sabe de toda a história. Talvez o cara já até morreu e aparece esse embuste aí?! Pode expulsar. Se precisar chama a polícia

Eu estava puta pra caramba, eu não tinha mais pai há muito tempo e aparece um velho querendo se aproveitar de tudo? Mais burra é a Júlia pra deixar ele entrar, queria eu estar lá essas horas.

— Amiga, o cara tem foto sua e da sua mãe. Ele é teu pai sim, não tem pra onde correr!
— Mas eu não quero saber, Júlia! Tira esse homem daí! Agora! E não toque mais nesse assunto. Eu não tenho nunca tive a porra de um pai.

Desliguei o telefone na cara dela e me levantei da cama pilhada de ódio. Não é meu pai era isso que eu repetia na minha mente. Que inferno! Deus não vai parar de me atacar pedras? É um problema atrás de outro problema!

Caminhei de um lado pro outro e não me controlei, liguei mais uma vez pra Júlia e ela atendeu sem demora.

— E aí? O desgraçado foi embora? Ou ele tá esperando eu sair daqui pra empurrar ele pela janela e ele cair do 14º andar a baixo?
— Ele já foi, mas ele vai voltar. Ele deixou claro! Amiga, eu tô com medo.
— Era só o que me faltava. Era isso! O desgraçado de um homem aparecer dizer que é meu pai e pra finalizar, precisa da minha ajuda? Eu precisei da ajuda dele por muitos anos e nunca fui atrás.
— Eu acho que ele quer dinheiro. O bafo dele era de bebida, estava num estado deplorável!
— Ju, eu não vou aguentar mais... -eu segurava o choro- isso tá me matando!
— Maya... vem pro Brasil! Desiste! Você acha um emprego digno e eu te ajudo a manter o apê. Mas vem embora!
— Eu não posso... -as lágrimas caiam sem arrego.
— Por que não? -ela me perguntava indignada.
— Porque não...

Era o tipo de pergunta que eu não sabia responder. Na verdade, faz tempo que eu não sei responder muita coisa!

Dois meses depois...

Eu nunca nem limpei banheiro da minha casa e limpo banheiro desse inferno. Mulheres nojentas escrotas! Meu sonho é conhecer cada uma que joga os papéis de piriquita no chão pra eu fazer comer, banco de vagabundas.

A questão é que eu odeio essa lanchonete e odeio a vida que passei levar! Meu salário não compensava o que eu fazia aqui e foi o único lugar que admitiu mesmo eu entregando currículo até na puta que pariu.

Meu suposto pai que eu já até tinha visto a cara por uma foto não parava de ir na casa da Júlia e cobrar satisfações de mim, mas eu prometi pra mim mesma que assim que eu pisasse no Brasil eu iria picotar aquele velho com minhas próprias mãos.

Júnior fez sua casa nova de cabaré. O desgraçado se revoltou e agora mora sozinho pra fazer o que quer. Jota, o único que conversa comigo ainda diz que todo dia é uma festa nova, todo dia uma remessa de vadias entrando e saindo da sua casa. Eu estava me lixando pra aquele fodido, ele está levando a vida dos sonhos e eu a vida de uma princesa que ainda não foi encontrada pelo seu príncipe e se fode pra viver.

Eu trabalhava das sete da manhã até às dezessete da tarde. Isso não era vida, não era meu mundo! E que Deus me perdoe mas eu estava com saudade da prostituição.

No caminho de casa a Tina tagarelava no meu ouvido no banco do passageiro, eu passava pelo subúrbio para deixá-la em casa...
— Fico me perguntando que tipo de vida você levou pra ter esse carro, pra ter um apartamento de luxo e acabar trabalhando no Wianks.
— Uma vida que você não gostaria de levar. -respondi ríspida.
— Ah, eu gostaria sim! Você ainda está viva, inteira e é linda... com certeza não aconteceu nada demais com você.
— Você tenta tirar essas informações de mim todos os dias e não desiste por que?
— Porque tenho você como amiga e gostaria de te conhecer melhor. Você sabe tudo sobre mim.

Ah, e sei mesmo! Tina tem um filho de oito meses que fica com a mãe enquanto ela trabalha, ela perdeu o pai da criança para as drogas e pro crime. E hoje trabalha pra cuidar do Ethan e pagar sua faculdade de enfermagem.

— Você reclama tanto de onde você mora mas não vejo nada demais...
— Ah, vai por mim. Você iria odiar morar na favela. Mas isso é assunto pra outra hora. Obrigada pela carona, amiga! Amanhã nos vemos! -ela abriu um sorriso pra mim e fechou a porta.
— Até mais garçonete! -gargalhei.

Arranquei com o carro e segui o caminho de casa. Ainda eram dezoito horas e meu coração apertou de saudade e isso acontecia com tanta frequência. Eu ainda pensava no Júnior, e com certeza nem um por cento do que eu sentia por ele diminuiu... eu sentia falta de vê-lo, de ouvir sua gargalhada de moleque sapeca. Olhei o relógio mais uma vez, 18h03.

Talvez ele esteja em casa...

𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐎𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐁𝐑𝐀𝐈𝐍 | 𝐍𝐄𝐘𝐌𝐀𝐑Where stories live. Discover now