O inferno

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Julia já estava demorando da academia e isso não era dela, já havia ligado mil vezes mas não recebi retorno nenhum.

A louça já estava lavada e o almoço quase pronto, escutava uma música qualquer e lixava minhas unhas quando o interfone tocou.

— Oi!
— Boa tarde, Maya! O Seu Luís quer entrar, posso liberar?

Ah, não.

— Manda subir.

Eu estava sedenta pra esse momento, é hoje que o velho despenca do 14º andar. Não demorou muito pra minha campainha tocar, eu estava nervosa e minha mão suava. Respirei fundo e abri a porta.

— Fi-filha?!

Juro que quase vomitei. O velho estava acabado e com bafo de cachaça.

— Eu não sou tua filha, nunca te vi! Só mandei você subir pra resolver isso de uma vez.
— Eu sabia que você voltaria pra me ajudar -ele entrou.
— Ajudar? Você tá na noia?

Juntei minhas sobrancelhas já me irritando pela falsidade que o cara soava.

— Eu preciso de ajuda pra arrumar alimento, estou sendo despejado de onde eu moro. Não tenho dinheiro pra pagar o aluguel -ele lamentava.
— Trabalha. É assim que se consegue dinheiro!
— Quem daria emprego pra um velho como eu minha filha? -a voz dele era mansa e seus olhos pequenos forçavam algo que não era ele.
— Meu filho, eu não quero saber. Só vou deixar claro, não sou tua filha, nunca fui e você tá pedindo dinheiro pra pessoa errada.
— Olha o palácio que você mora, o carro que você tem... até ontem estava com o jogador Neymar! Eu vi nas revistas, você tá famosa filha.

O velho veio me abraçar e eu desviei.

— Você tá louco?
— Eu sei que você pode me ajudar, Maya!
— Eu estou grávida, preciso me mudar daqui e bancar uma criança por no mínimo 18 anos. Você acha mesmo que eu vou gastar meu tempo e grana contigo?
— Eu sou seu pai, eu sinto sua falta... sinto falta dos meninos...
— Fala qualquer coisa, menos dos meus irmãos! Você não sente falta de ninguém. Ou você esqueceu do quanto eu me humilhava por uns trocados? De como os meus irmãos foram criados na miséria? No tanto que eu apanhei de você me perguntando onde estava o meu dinheiro que você usava pra beber?
— Eu mudei, me arrependo!
— Mano, só sai da minha casa. Some! Eu não quero você aqui! -gritei e o empurrei.
— Eu não vou sair enquanto você não me dar o que eu pedi.
— Só sai antes que eu chame a polícia, eu não vou te dar nada, Luís! Eu não vou repetir o que eu fazia quando eu era menor.
— Você acha que eu não sei que você tá podre de rica andando com o teu namoradinho? Se vira, eu quero parte desse dinheiro!

Agora ele tinha se transformado. O mesmo olhar que eu guardava na mente, o mesmo olhar que eu guardei a minha infância inteira estava lá a minha frente novamente. Senti medo mas não me dei por vencida.

— Eu vou ter mesmo que chamar a polícia ou você acha que 14º andar é uma altura boa pra te jogar?
— Você não muda, né?!

Sem eu esperar Luís voou em mim e sua mão me enforcava contra a parede, eu arrancava a pele de sua mão o machucando mas ele não parava, as lágrimas dos meus olhos jorravam agora e eu sentia medo. Eu só conseguia pensar na minha filha.

— Quem você vai jogar do 14º andar mesmo?

Ele sorriu me encarando. Seu ar cortou minha pele e eu me estremeci, ele não folgava a mão nem por um minuto e meu corpo estava perdendo a força.

Tudo estava ficando meio turvo quando ele me soltou, meu pescoço estava doendo e eu buscava ar pra me recuperar. Observei Luís trancar a porta do apartamento e aquilo me deu desespero.

𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐎𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐁𝐑𝐀𝐈𝐍 | 𝐍𝐄𝐘𝐌𝐀𝐑Where stories live. Discover now