Só esperou e foi o último a ir embora...

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— Que? -segurei o grito.
— Teu pai voltou a me atazanar, eu não deixei ele subir mas ele acampou na entrada do condomínio. Disse pra passar contato teu pra ele, porque ele precisa de dinheiro e sabe que você anda com o Neymar.
— Júlia, da fim nesse cara. Eu não posso voltar agora e tô bem longe de conseguir grana pra te trazer pra cá.
— Mulher, eu ameacei até chamar a polícia, mas ele disse que quer falar com você, urgente.
— Manda esse desgraçado pra casa do-
— Nem precisa dizer. A questão é: quando eu vou viver em paz aqui de novo.
— Amiga, eu juro. Juro que vou dar um jeito! Agora preciso voltar pro trabalho.
— Olha eu tô cansada de pagar mais caro na conta de telefone com essas ligações internacionais, tá? -ela reclamou.
— Então para de comprar conjuntinho da Victoria Secrets pra economizar.
— Meus clientes merecem mais que um conjunto da Marisa fajuto. Beijo na boca e amo você.
— Amo você mulher!

Desliguei o telefone e enfiei no meio dos meus seios. Hoje eu não estava de faxineira, estava atendendo porque a Tina faltou pra levar o filho no hospital, bom é melhor do que limpar banheiro de homem porco.

O movimento estava tranquilo pra minha infelicidade. Porque eu sempre tenho tempo pra pensar no velho que se nomeou meu pai depois de tanto tempo. Meu estômago até embrulha em pensar que um homem nojento curte me chamar de filha por aí por puro interesse.

O tempo lá fora estava abrindo finalmente, mas as pessoas ainda andavam com seus cachecóis e blusas de lã por aí. Daqui eu conseguia ter a visão dos clientes sentados nas cadeiras estofadas grudadas na vidraçaria que dava visão pra rua, eu olhava alguns casais apaixonados tomando seus cafés quentes. Via crianças que provavelmente iriam pra escola em poucas horas e as pessoas caminhando lá fora.

Observei um homem com casaco preto e toca andar do lado de fora. Ele esfregava as mãos de luva e assoprava pra esquenta-las. Então ele começou a andar devagar e observava a lanchonete.

Era ele.

"Eu sempre soube onde você estava. Onde estava trabalhando e o que faz"

Arregalei meus olhos e virei as costas me escondendo dele. Droga, droga, droga.

Maya? -a estrangeira minha chefe chamou- Atenda a mesa quatro. Ande! Eu tenho que ficar pedindo? -ela virou as costas pra mim- que falta Tina faz.

Vi a velha ruiva se retirar e soltei uns palavrões, já que ela nem falava minha língua. Ok, Maya. Não é difícil trabalhar com a presença do cara que você ama te observando escondido do lado de fora. Só respira e anda.

— Olá! O que desejam? -sorri falsamente para as duas mulheres.

Elas fizeram os pedidos e eu anotei com muita pressa porque em segundos meu cérebro nem iria fazer o péssimo favor de colocar Júnior na minha cabeça de novo.

Por que eu não posso pensar no Arthur? Em tudo o que ele disse? Porque não valorizo as pessoas que me valoriza?

— Aquele cara sempre vem aqui observar a gente. Me dá até medo! -Joana chegou perto de mim pra cochichar.
— Hã...?
— O cara! -ela gesticulou disfarçando e mostrando o Neymar
— Ah, é... é verdade. -gaguejei.
— Ontem ele veio com um buquê de flores. Até entrou e passou horas sentado lá no fundo. Mas ele nem pediu nada, só esperou e foi o último a ir embora.
— Que? -a olhei assustada.
— Garota, você precisa de cotonete!

Ela bufou e saiu de perto de mim. Como as pessoas não o reconheciam? Eu sei, que ele esta com metade do rosto coberto pelo cachecol. Mas os olhos do Neymar são únicos e não devem ser difíceis de se lembrar.

Mas espera, meu cérebro finalmente processou a informação e foi isso mesmo? Buquê de flores e último cliente a ir embora?

O pedido das mulheres ficaram prontos e eu carreguei a bandeja com uma mão só. Antes de chegar na mesa das mulheres olhei pro Neymar novamente e dessa vez seu rosto estava descoberto e ele me olhava sem vacilar. Eu precisava de controle, precisava por meu coração no seu lugar mas quando eu notei, meu corpo queimava. E não era de amor ou de tensão.

Era café e chá de hortelã.

Porra!

Ouvi minha chefe gritar de longe e a funcionária que eu não conhecia me xingar nos murmúrios por eu ter esbarrado nela. O desespero começou a bater e eu estava tão perdida como criança no supermercado.

— Olha o que você fez sua incompetente. Se eu soubesse teria te deixado nos banheiros! -ela gritava.
— Perdão Sra. Wianks! Eu não queria, eu vou buscar as coisas pra limpar tudo isso. -me agachei pra pegar os cacos maiores das xícaras.
— Maya, deixe isso agora no chão! Você está demitida.

Demitida?!

[N/A] AS PERNA CHEGA A TREMEEER

𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐎𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐁𝐑𝐀𝐈𝐍 | 𝐍𝐄𝐘𝐌𝐀𝐑Onde histórias criam vida. Descubra agora