Dois minutos

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O olhar dele era profundo, era quase impossível saber o que se passava, talvez se eu não soubesse o porquê, eu iria me preocupar. Ele se mantinha lá, do jeito que entrou ele ficou. Na frente da porta encostado na mesma e olhando pro nada, o peito dele descia com paz mas o olhar dele... o olhar estava me assustando.

— Hã... eu vou buscar água pra você. -virei as costas as pressas, eu precisava pensar.
— Não! Não preciso de água, eu só quero raciocinar por dois minutos se isso realmente valeu a pena.

Ele saiu andando completamente cego pela tristeza do término e subiu as escadas, fiquei parada observando o local e pensando como eu deveria me sentir. Talvez se eu fosse a Maya Paes de uma semana atrás, estava estourando o champanhe mais caro da casa, mas agora eu só estava perdida. Tão perdida quanto ele.

— Bom, isso não é culpa sua. -eu falava pra mim mesma- você não fez nada para eles, apenas uma vez. E não funcionou como você esperava! Então relaxa. -sim, eu estava falando sozinha pra me acalmar- você já estava indo embora para deixá-los em paz, você estava fazendo o certo Maya!
— O que você estava fazendo certo, Mah?

Pulei de susto e meu coração junto, Jota me pegou de surpresa falando comigo mesma, ele deve estar me achando uma louca alucinada.

— Ah... estava pensando alto. Sobre qual apartamento eu deveria comprar.
— Você vai morrer com essa dúvida! -ele gargalhou- mas relaxa, seu apê é toppezera.
— Idiota!

Dei um tapinha nele e dei uma risada falsa, porque na verdade por dentro eu estava berrando de nervoso. Fui para o meu quarto e finalmente estava tentando ocupar minha mente com minha mudança.

Liguei o som do quarto e comecei a recolher minhas coisas, descobri que o número de roupas que eu tinha havia dobrado e eu precisava comprar uma mala, então corri pro shopping sozinha e comprei duas malas qualquer e voltei pra casa pra voltar a ajeitar.

Todo mundo perguntou se eu precisava de ajuda mas eu recusei, gostava desse tempo pra pensar. A essa hora todo mundo daqui de casa já sabe do término do Júnior com a Bruna e eu estava a salva no quarto com o volume do som no máximo pra não precisar ouvir absolutamente nada a respeito.

Eu deveria ficar feliz porque agora eu tinha oportunidade com o Júnior, mas no momento sinto medo. Sinto medo do que isso pode virar, no quão ridículo foi da minha parte me apaixonar. Estava feliz por ter aberto mão dos 500 mil por mês, e de todas as exigências... o que eu tinha guardado deu pra pagar metade do apartamento e como eu trabalhava para a empresa NJ eu conseguiria me manter.

Acredito muito em Deus e sei que nisso tem dedo Dele, estou me afastando dessa casa justamente no dia do término. Até agora não tive surtos de choro e meu coração não sofre tanto quanto um tempo atrás, eu apenas fico chateada e deixo levar.

Maya: Júnior terminou o namoro dele.

Julia: Que?

Julia: Vou até sentar

Maya: Pois é!

Julia: E você? Tá como? Berrando né? Nem vai se mudar mais.

Maya: Estou de malas prontas, Ju! Não quero mais nada disso.

Julia: Não tô entendendo nada

Maya: Um tempo atrás falei com o Júnior

Maya: Tipo, uns três dias atrás. Recusei o dinheiro e toda a regalia. Vou viver aqui agora e num trabalho digno.

Maya: Creio que não vou ter todo o luxo que eu tinha morando aí

Maya: Mas eu não quero nada disso

Maya: Preciso viver e com o Neymar bem afastado de mim

Ao falar aquilo me fez lembrar daquele dia, em que finalmente tive a iniciativa de tentar esquecer o Neymar.

Essa merda não tá me levando a nada, eu pensava que estaria próxima dele mas agora só existe um abismo entre a gente. Andava de um lado pro outro tentando entender onde eu queria chegar com isso, porque agora nem eu sabia.

O relacionamento dos dois estava indo de ótimo para perfeito e eu estava sobrando nessa casa, eu não queria mais merda nenhuma. Eu tiraria do Júnior o que ele tinha de mim todas as madrugas escondidas que passávamos.

Maya: Precisamos conversar e é urgente.

Mandei pra ele e ele logo visualizou vindo para o meu quarto em poucos minutos.

— O que aconteceu? -ele estava pálido.
— Por que essa cara?
— Sei lá, você esteve estranha esses dias... sua menstruação atrasou?

Gargalhei alto com aquilo, ele era um completo babaca.

— Cala a boca, nossa! Como você é inútil! -me sentei na cama.
— E você grossa e exagerada, pra quê falar que era urgente?
— Não quero mais seu dinheiro.
— Uou! Isso é urgente. -ele arregalou os olhos.
— É, chega de dinheiro na minha conta, chega de me incluir em tudo. Não quero mais!
— Mas por que? -o olhar dele estava confuso.
— Porque não quero. Não está me levando a nada isso que estamos vivendo e eu quero me livrar de você.
— Co-como assim se livrar de mim?
— Chega de transas, chega de dinheiro fácil. Eu não quero mais!
— Você tá louca mano, louca! -ele falava um pouco mais alto.
— Júnior, não quero discussão, muito menos dor de cabeça pra mim. É isso! Eu tô cansada de nós, e eu não aceito mais ouvir que você me ama mesmo sendo tudo uma mentira, porque quem você ama de verdade tá no quarto ao lado. Agora por favor...

Abri a porta para ele se retirar.

— Tenha uma boa noite!

Ele saiu do quarto desnorteado, como se passasse trilhões de coisas na cabeça dele, eu não tinha reação. Não estava triste e nem feliz, eu só sentia minhas costas livres de um peso que não estava me favorecendo em absolutamente nada.

— Vou sentir falta da sua companhia... você é uma amiga legal! -Rafa se afastou depois de um abraço.
— Prometo que sempre que eu puder venho visitar vocês, e quero vocês na minha casa também! -sorri.
— Boa sorte com a mudança, Mah! Você é uma mulher e tanto! -Jota me abraçou.
— Ainda vamos nos ver no trabalho, garoto! -todos gargalharam.

Me despedi do resto do pessoal e o Júnior não tinha saído do quarto dele desde ontem, e todos estavam preocupados... inclusive eu. Eu queria estar junto dele pra apoiá-lo, mas eu não era nem amiga mais.

Liguei o rádio do carro e fui dirigindo tranquilamente até minha nova casa. Estava nervosa, nunca tinha morado sozinha minha vida inteira, e agora eu teria que juntar um dinheiro pra trazer a Júlia pra cá.

Entrei no apartamento e respirei fundo aquele cheirinho de novo. Minhas malas estavam em casa e eu só precisava guardar tudo no guarda-roupa. Montei a TV e configurei, liguei os eletrodomésticos nas tomadas, e só as oito da noite eu estava realmente livre e terminado tudo.

Coloquei dois pedaços de carne pra fritar e cozinhava um pouco de arroz, eu estava morta de fome. Olhava a TV enquanto virava a carne e do nada minha campainha tocou.

Olhei desconfiada para os lados e assustada, ninguém iria vir me ver... mas aqui o pessoal tem mania de dar boas vindas para os novos moradores junto com algum agrado... geralmente era biscoitos, bolos... depois de enrolar alguns segundos decidi abrir a porta.

— Foram precisos mais de dois minutos pra raciocinar.

𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐎𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐁𝐑𝐀𝐈𝐍 | 𝐍𝐄𝐘𝐌𝐀𝐑Where stories live. Discover now