Cap 34: Inocência

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"Talvez um dia a gente se resolva
Talvez tu seja mais uma cicatriz
Mas sempre que falam de ti
Lembro da sua mão na minha: Meu Deus o que é que eu fiz?..."
             –Konai

Misaki on*

Lentamente ele separou nossos lábios me deixando com um pequeno gostinho de "quero mais", embora não soubesse o porquê aquele seu ato me deixava envergonhada ao mesmo tempo que me fazia pedir mais, esse era mais um dos inúmeros "charmes" de Jeff. Me olhando nos olhos e ainda extremamente próximo a mim ele parecia analisar minha alma, seu olhar frio agora embora estivesse mais aquecido mantinha a mesma aparência sombria de sempre como se suas íris negras fossem um completo vazio perdido em seu globo ocular. Permiti com que me perdesse em seu seu olhar, me parecia tão "fascinante" a maneira como Jeff conseguia esconder tudo e ainda sim ser humano, sempre via todos os humanos como seres mascarados dançando uma valsa no baile de máscaras chamado vida, mas Jeff era diferente, eu sabia que ele era mais um mascarado no fundo, mas ele era diferente, ao mesmo tempo que sua máscara era visivelmente negra e pesada, escondendo tudo nele, ela também era transparente e leve como se ele não sentisse a necessidade de esconder nada. Ele tocou sua mão na minha fazendo com que seu toque me trouxesse de volta à realidade me olhando agora com um olhar mais distante e com um pouco de malícia.

-Sabe o quanto... -Sussorou no meu ouvido, sua voz grave e rouca me dava arrepios estranhos, ele pareceu sentir meus arrepios e então soltou um leve riso irônico. - É tentador roubar essa sua inocência de um pequeno e belo anjo? -Sua voz soava agora mais estranha e doentia, no fundo eu sabia o que ele queria dizer só não queria me deixar levar.

Embora fosse uma adulta ainda me sentia como uma pequena e delicada criança, não queria aquilo pois por alguma estranha razão tinha medo, medo de tudo, mais principalmente de ser mais um objeto nas suas mãos.

Empurrei-o de leve e sai correndo como uma covarde, odiava fazer isso, sentia-me mais fraca que antes, se é que isso era possível, mas ainda sim fazer isto ao invés de lutar ia contra todo o meu mágico conceito de contos de fadas cujo a personagem principal fica para lutar e derrota o "vilão". Ainda penso desta forma, acho que serei uma eterna criança perdida na Terra do Nunca dentro da minha cabeça.

Parei de correr ao entrar em um cômodo: Um quarto com uma cama de casal com uma fronha branca mal arrumada, um guarda roupas de madeira ao lado //N/A: Partiu Nárnia?// e um pequeno baú aos pés da cama. Parecia o quarto de um casal. Isso só despertou mais pensamentos alheios em minha cabeça, tais como: "O que aconteceu com eles? Separaram? Brigaram?" "Eram felizes?" e o ultimo que bagunçava minha mente e me deixava visivelmente com medo "Um dia ainda olharei minha cama assim sentindo a ausência de Jeff?". É tão engraçado a maneira como as pessoas entram e saem da nossa vida, um dia elas são só sorrisos e alegrias enquanto no outro podem ser só um gole amargo de lembranças e pensamentos vazios. Entende o que quero dizer? Somos tão fortes como um castelo de cartas, firme e de pé cujo um vento forte pode derrubar e nos deixar no chão. É isso que humanos são: Metáforas vividas. "Coloque o te mata sobre os dentes mas não o dê o poder de matar." Penso me lembrando dessa metáfora linda que me fazia refletir afinal fazemos isso todo dia, corremos o risco de morrer todo dia, colocamos o que nos mata sobre os lábios: Cigarros, goles perdidos, beijos. Tão distintos e ainda sim possuem o mesmo poder de matar. Acho que de fato no fundo o amor é uma droga, literalmente, fica na sua cabeça, a faz girar de inúmeras maneiras, mata nossos pulmões com falsas esperanças e energias novas, vicia, e nos dá uma alegria diferente assim como um perigo em si. Um gole perdido de sorrisos e alegrias, uma ressaca amarga de realidade e dor. Mais uma vez eu era Alice perdida em um mundo de pensamentos nem tão bons assim, inocência perdida no país da malicia, Alice no país das maravilhas. -

Sentei-me na beira da cama olhando tudo ao redor e me vendo tão sozinha ainda com aquela questão duvidosa em mente. Eu deveria? Pensava comigo mesma, geralmente quando nos encontramos perdidos nestas estradas solitárias de dúvidas pedimos conselhos a entes queridos, parentes, amigos, e foi então que me vi mais uma vez tão perdida, sozinha, eu não tinha ninguém fora ele. Quando dizia que Jeff era meu mundo eu não estava brincando, e era isso que me assustava mais: A Realidade.

Se a vida fosse uma estrada e nós apenas viajantes em busca de sonhos distintos eu seria aquela viajante solitária. Se fossemos estrelas eu seria aquela que brilha longe de todas as outras, cintilante, faria com que meu brilho cinzentado e fraco fosse diferente de todas as outras estrelas apenas para lembrar que eu estava ali antes que o universo se esquecesse disto. Alguém havia me dito uma vez que seu medo era ser esquecido, irônico seria pensar que meu sonho é exatamente isto, queria ter medos, queria pensar em como seria se todos me esquecessem mas quando não tem do que se lembrar não há o que se esquecer. Acho que este é nosso destino de qualquer forma, esteja ele próximo ou longe todos seremos a mesma coisa um dia, mesmo destino. Um dia todos seremos apenas memórias, um dia apenas um corpo, apenas um túmulo, até que enfim chegará o dia em que não seremos mais absolutamente nada. Por mais melancólico que seja este pensamento ainda sim me alegra pois me faz lembrar que mesmo não parecendo, hoje, eu sou sim algo, mesmo que seja apenas mais uma presença oculta da sociedade, apenas uma garota que matou os pais e está foragida para a polícia, ainda sim eu sou algo, eu estou viva.

-Eu estou viva... -Digo para mim mesma baixinho percebendo o silêncio solitário que havia naquele quarto.

Era tão estranho admitir aquilo para mim mesma, era como se eu tivesse esquecido de um pequeno detalhe mesmo ele sendo tão importante. Acho que é isso que a vida é para todos, nós sabemos que ela está ali, sabemos que estamos vivos mas não ligamos para isso, é tão errado! Isso me faz ver a injustiça que acontece diariamente: Milhões de pessoas morrendo em hospitais desejando mais um dia. Milhões de pessoas com propósitos obscuros não dando atenção a nada. Milhões de pessoas saudáveis desejando a morte. Acredito que desejar a morte seja uma grande traição a vida. Isso me trouxe um grande e velho arrependimento de quantas vezes já desejei estar morta, fui tão egoista sem nem ao menos perceber.

Ouço uma pequena batida na porta tirando-me de meus pensamentos alheios de duplo sentido, era Jeff que me olhava com um olhar de arrependido embora não houvesse exatamente o porque de se arrepender, eu lhe diria isso se seu olhar me parecesse mais sincero, mesmo amando-o eu não conseguia nunca acreditar totalmente nele, em suas palavras e atos, se alguma vez fizesse isso sentiria como se estivesse me atirando de um alto precipício com destino a ilusões amargas.

-Desculpa atrapalhar seu momento é que... Ainda estou aqui, e sua falta me assusta... -Ele diz se perdendo em suas palavras. - Desculpe, sei que não deveria ter feito, falado, aquilo... //Referências e.e//

Desculpas, sempre me foram algo tão estranho ainda mais se vidas de Jeff, alguém cujo parecia nunca se arrepender, era nestes raros momentos que eu o via com ignorância, que eu o via apenas com um psicopata que tentava conquistar seus objetivos perversos.

Pensei mais um pouco, não havia nada a perder para nenhum de nós, minha inocência estava em jogo mas nesta vida tão suja ela não valia mais nada de qualquer maneira. Então naquela noite eu cedi, mesmo não querendo cedi-me aos seus desejos, emoções não são difíceis de se pegar emprestado de vez em quando para situações como aquela, ainda mais quando amor é uma palavra que você ainda está aprendendo. Era tão estranho a maneira como eu pensava sobre tudo aquilo, eu o amava isso era visível mas tinha medo de me entregar daquela maneira, afinal, quem sabe o que poderia acontecer na manhã seguinte? Acho que não se pode culpar uma alma que foi estuprada pela vida. Ainda sim a forma como o tempo muda as coisas é tão assustadora, naquela época eu via aquilo com tanto medo, mas ainda sim sentia que era uma prova de nosso afeto, mas hoje vejo isto de uma forma tão distinta, tão mais adulta, acho que hoje minha alma finalmente esteja amadurencendo, depois de tantos tombos finalmente aprende a se levantar, hoje percebo que o que de fato aconteceu naquele é que: Assim como o desejado, ele roubou minha inocência.

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Não que isso importe mas... Essa parte (marcada com - ) realmente me tocou muito, lembrei de alguém que não está mais aqui, e não sei porque mas senti vontade de pedir para que vocês valorizem quem está com vocês hoje... Nunca sabemos o que pode acontecer...

✞ Meu Doce Psicopata✞ ⇒Jeff The Killer⇐ (Versão Antiga, Cancelada) Where stories live. Discover now