2. Suspire

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"Sentindo como se estivesse
respirando meu último suspiro
Como se estivesse andando
meus últimos passos..."
—Justin Bieber

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A voz fraca e falha de Misaki me veio naquele momento, lembrando-me do que eu já supostamente havia esquecido. Dirigi meu olhar para baixo do banco de passageiro vendo apenas um pedaço de algo em tom meio azul esverdeado, meus pensamentos foram todos voltados para o que seria aquilo, entretanto, ainda tinha um certo receio em descobrir de fato o que era.
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Troquei olhares nervosos entre o chão abaixo de mim e o tão chamativo e curioso pano azulado, era como se estivesse me chamando e talvez realmente chamasse mas eu não tinha a devida coragem de sequer toca-lo, você mais do que ninguém deve saber o quão covarde eu sempre fui durante toda a minha vida e naquele momento específico não era diferente. Pela primeira vez em muito tempo eu sentia algo, um forte aperto no peito e um nervosismo estranho no estômago além de ter ficado com as mãos mais gélidas do que o normal, depois de alguns segundos mesmo que sem saber ao certo o porquê ou se de fato deveria me atrevi a tocar o pano, logo em seguida erguendo o banco para que pudesse tirá-lo todo de lá.
Acho que mesmo que eu tentasse jamais conseguiria explicar. Naquele momento eu só desejei fugir, mas primeiramente, para onde eu iria? Esse melancólico pensamento me mostrou algo que até então eu evitará pensar, sem Misaki quem eu tenho ao meu lado? Antigamente para mim era suficiente ter apenas eu mesmo, ou ao menos eu me convencia de que era assim. Não, eu nunca fui o tipo de garotinho sentimental que odiava ficar sozinho, mas, eu também era humano, embora a maioria acreditasse que não, para falar a verdade agora analisando bem eu posso compreender uma coisa: Não, não existem monstros, ao menos não embaixo da sua cama, os verdadeiros monstros são aqueles que não vemos, são aqueles que estão dentro dos pensamentos humanos. Acho que esse é um dos motivos pelos quais nunca entendi quem tinha medo de fantasmas ou bruxas, sempre tive medo dos humanos embora não demonstrasse e isso se devia ao fato de que eu sabia do que eles eram capazes, apenas analisar minha ações e saber do que já fui capaz é o bastante para me mostrar isso.

Correr, esse era meu único e mais covarde desejo, mas para que? Não importava mais para onde eu corresse aquilo sempre estaria a me perseguir, não importava o quanto eu tentasse apagar aquilo já estava cravado em mim, como uma forte inferno sobre meus ombros eu estava condenando a carregar aquilo para toda eternidade. E só o fato de saber isso me deixava mais vazio ainda, eu sentia algo estranho ao tocar aquele pano, mas não era o que eu deveria sentir, eu não estava triste como deveria, estava com raiva, banhando em chamas eu poderia sentir minha ira me queimar.

Aquele pequeno e delicado par de meias de bebê me trazia uma mensagem que eu não queria ler, não queria acreditar mas sabia que ela não brincaria com algo tão sério, não era de seu fetiche fazer isso.

Sem me conter soquei mais uma vez a janela do carro que agora já não aguentando mais se rendeu a dor e se quebrou, ouvir seus cacos caindo um por um enquanto alguns suavemente rasgavam minha pele era até que relaxante, junto a toda essa ira na qual eu ainda não era (e nunca fui totalmente capaz) de saber o motivo joguei o par de meias no banco traseiro do carro logo saindo desse indo em direção ao banheiro do hospital que ficava ao lado de fora.

Eu deveria estar triste, deveria estar bravo, deveria abandoná-los agora? Por mais egoísta que fosse no fundo eu desejava sua morte, eu sabia e nem queria ser um bom pai, aquilo só serviu para me mostrar que tudo havia ido longe demais. Eu não me arrependia de ter conhecido Misaki mas me arrependida de não ter matado-a assim que tive a chance, me ver de joelhos perante uma situação tão fútil, tão apegado a uma garota qualquer fazia aquele ódio antigo vir átona.

-Eu realmente te odeio Misaki... -Sussurrei baixinho enquanto lavava meu rosto soltando um longo e cansado suspiro, evitava olhar diretamente no espelho a minha frente também, acho que eu apenas não queria ter a resposta para a pergunta que tanto evitará. Sim, eu havia amolecido com o tempo, e sim, eu estava apegado a Misaki, e sim, eu sabia que nada daquilo acabaria bem e mais uma vez eu não me importava, meu desejo egoísta de ter ela em minhas mãos era maior do que qualquer pensamento são que eu pudesse ter.

-Calma rapaz... Você precisa de ajuda? -Um médico de aparência jovem disse ao ver meu rosto, acho que ele não estava acostumado a ver pessoas com pele queimada e um grande corte ao redor dos lábios.

-Não... -Disse ajustando meu capuz escondendo ainda mais meu rosto, havia feito um grande erro ao entrar ali para começo de conversa.

Sua reação era a que eu mais estava acostumado, não havia praticamente ninguém que não havia se assustado comigo, e só o saber disso me deixava orgulhoso em certa parte, eu era diferente e me orgulhava profundamente disso. Sempre odiei grupinhos que "pensam igual, agem igual" e ainda por cima são ditos como normais, ideais, pela sociedade, ao meu ver era a coisa mais estupida do mundo julgar e classificar alguém apenas pelo que ela gosta ou não, sim, essas são palavras de alguém que sempre esteve fora do padrão.

Antes que eu pudesse ir ele colocou uma mão em meu ombro me impedindo de fazer isso, nunca fui alguém muito paciente e isso era algo extremamente visível, portanto, não é nem sequer necessário dizer como aquele cara acabou, certo? Entretanto, sou dono de uma memória de ouro, algo que pode tanto me ajudar quanto me arruinar, e portanto, posso compartilhar exatamente o que ocorreu.

Peguei minha faca no bolso do moletom, e de modo rápido o empurrei na parede fazendo com que ficasse a sua frente e posicionasse agilmente a faca em seu pescoço, não estava com paciência e nem cabeça para ser criativo então apenas fazer com que ele calasse a boca já era o bastante.

-Shhhiu, shhhiu... -Disse colocando a faca entre seus lábios, seu olhar amedrontado e ao mesmo tempo paralisado pelo medo me deram mais prazer do que pensei. -Vá dormir. -Sussurrei em seu ouvido logo enfiando a faca em seu peito arrastando-a para baixo abrindo um buraco em si.

E então a parte que eu mais gostava, as suas últimas palavras junto dos últimos suspiros, era tão emocionante ao mesmo tempo que era entediante ver eles lutarem pela vida. Claramente eu não contaria isso para vocês se ele não fosse um pouquinho diferente da maioria, ao contrário dos outros ele não chorou, ele não implorou pela vida, apenas me olhou calmamente e disse:

-Ela deve ficar feliz em não ter tido-o... -Disse com dificuldade, e cuspindo um pouco de sangue. -Você está longe de ser um bom pai.

✞ Meu Doce Psicopata✞ ⇒Jeff The Killer⇐ (Versão Antiga, Cancelada) Where stories live. Discover now