Cap 36: Uma Dose de Passado (part 1)

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"Deite seu coração, o fim está próximo
Consciência te implora a fazer o que é certo
Todo dia é essa mesma faca tola
Perfure-a e justifique seu orgulho
...
E eu não posso seguir sem o seu amor, você perdeu, você nunca suportou
Nós tentamos nosso melhor... Apague a luz..."
–Knives And Pens (BVB)

Misaki on*

Olhando aquela vasta estrada vazia pude por alguns poucos segundos ter a fértil imaginação de que éramos sobreviventes de um grande apocalipse no qual havia devastado todo o resto da terra, sentia como se fossemos os únicos no mundo todo, e por mais aterrorizante que este sentimento pudesse parecer ele era incrivelmente bom, apenas nós em nossos próprio e particular mundo. Pensando bem acho que todos somos de fato sobreviventes, todos vencemos e perdemos lutas diariamente, lutamos por nossos próprios objetivos e tentamos sobreviver num mundo tão cruel, por mais que não parecesse eu me preocupava muito com segurança, acho que o perigo que Jeff me proporcionava me deixava com uma ausência de paz, segurança, tão grande que depois disso que só via tudo de modo perigosamente arriscado. Sentia como se ele tivesse me concedido a visão, como se fosse cega antes de o conhecer, pois, ele me deu uma nova visão do mundo, de mim mesma. Acho que este é um dos inúmeros efeitos colaterais de se estar apaixonada, você vê o mundo de outra forma, você se molda inteiro, tudo muda com esse simples sentimento (doença). Por mais que não devesse intrepretar e levar tudo que a filosofia de Platão disse-se ao pé da letra, nunca pude deixar de me ver como uma forte doente aos pés de Jeff, eu precisava dele como se fosse meu remédio, minha cura, mas ele ao contrário da maioria era um remédio diferente, pílula amarga de aparência doce que me atraía e fazia com que a pobre criança inocente que eu era caísse desajeitadamente sobre seus encantos, ao contrário da maioria era ele quem curava e criava minhas feridas, às vezes este pensamento fazia com que eu me sentisse um brinquedo em suas mãos, como se fosse capaz de me usar como bem quisesse, eu tentava afastar isso, claro, mas era quase inevitável.

Olhei para Jeff numa falha tentativa de o ler como o enigma que ele sempre fora, falhando miseravelmente mantive meu olhar fixo no seu, eu poderia fazer uma enorme lista com todas as coisas nas quais eu amava em Jeff, poderia traduzi-la a inúmeros idiomas diferentes que ainda sim seus olhos estariam ocupando o segundo lugar da lista, eu simplesmente me perdia em sua escuridão era amendrontador mas tão tentador, sua escuridão me atraía, aquelas íris quase mortas e cheias de mistério guardando uma história não contada, guardando páginas de um livro nunca lido. Dizem que todos, cada ser humano no mundo possui um globo ocular diferente, um olhar diferente, eu possivelmente ainda acharia isso uma verdadeira mentira se não tivesse conhecido Jeff, sem sombra de duvidas eu nunca pude achar alguém com um olhar sequer semelhante ao seu, o segundo e tão perfeito item da minha gigantesca lista apaixonada. Se este é o segundo então qual seria o primeiro? Você deve estar se perguntando, este meu caro nada mais é que seu assustador e galanteador sorriso, sim sua boca era cortada em um formato de um como muitos diziam, mas ia muito além disso, o seu verdadeiro sorriso, era tão triste, vazio, como o de alguém no qual nunca conhecerá a verdadeira felicidade e apenas estivesse se enganado a vida toda, eu sentia pena de Jeff por isso era como se ele tivesse sido enganado por si mesmo a vida toda, para mim este é o pior tipo de prisão, aquela em que você aprisiona algo por dentro, escuta-o gritar dentro de si tentando fracamente escapar e ainda sim sorri fingindo não estar escondendo nada, eu amava seu sorriso por que me identificava com ele.

Voltei a me focar no seu olhar, eu o sentia tão distante de mim, tão inalcançável, ele parecia uma estrela para mim, eu podia vêlo e mesmo que o tocasse sentia que ele não estava de fato ali, ele era impossível de decifrar, tão impossível quanto fogo que não queima, mas apesar disso tudo para mim ainda estava tudo bem, afinal, amava mistérios indecifráveis.

Pouco antes de parar em uma cabana começou a chover, o Sol lindo e caloroso que nos guiou o caminho todo havia se escondido em nuvens escuras e sem vida que vinham nos trazer sua melancólica chuva, seu melancólico choro de socorro.

Descemos e só então pude perceber que era a mesma cabana que estávamos da primeira vez, porém agora queimada e maltratada, esquecida no meio da grande Aokihagara, aquela floresta que me dava inúmeros e inexplicáveis arrepios.

Antes que pudesse até mesmo perguntar o que estávamos fazendo ali Jeff fez um sinal com sua mão para que eu o seguisse e mesmo contra minha própria vontade assim o fiz. Entramos e ficamos em pé, abaixo de um pequeno pedaço do telhado queimado, olhando o que antes fora a "nossa" sala, que é que a posso chamar assim.

-Foi a minha primeira... -Jeff disse passando a mão direita sobre a parede, mais necessariamente dizendo o que antes fora um pôster do Nirvana. //N/A: Doeu escrever isso, doeu muito!// Eu queria perguntar sobre o que estava falando mas seu ar misterioso me dizia que ele iria continuar falando por si só.

Quase que me perdi em pensamentos de novo ao ver uma foto queimada no chão, era a de Jeff e Nina, ao contrário de antes isso não me incomodava mais, ou pelo menos eu acreditava que não. Eu era uma garota muito estranha, cheia de mistérios nos quais eu mesma não compreendia, às vezes eu sentia que era um idioma que ninguém conhecia e por isso estava condenada a ficar trancafiada em meu próprio mundo.

-Depois de tudo... Ou melhor dizendo do que fiz. -Jeff disse, sua voz estava mais baixa que antes mas ao contrário do que suas falas sugeriam ele não parecia nenhum pouco arrependido. -Foi a minha primeira casa.

-Eu sinto... -Ia dizendo mas antes que pudesse terminar fui interrompida, como já deveria ter imaginado não era o melhor momento para desculpas e lamentos sem graça e falsos.

-Mas não te trouxe aqui para lamentar nada, afinal, não somos como adolescentes delicados que lamentam por tudo não? -Ele disse com um tom de humor em sua voz, por um motivo desconhecido acabei me sentindo um pouco ofendida com sua comparação, mas ignorei isso. - Sim, eu senti um pouco de arrependimento, eram meus pais não havia como não sentir mas... Isso se perdeu no tempo, entende? Assim como eu, esses sentimentos foram esquecidos e levados com o tempo. Assim que comecei a morar nesta casa, eu só me via perdido como de fato estava, não sabia que caminho tomar...

Seu olhar percorria perdido pelos inúmeros e queimados posters da sua parede, era como se estivesse desabafando comigo, e para mim aquilo era como um baú sendo aberto revelando o tesouro que havia ali por dentro. Acho que se eu pudesse voltar a um momento da minha vida seria esse, voltaria e passaria por tudo de novo, quietinha com medo de atrapalhar, apenas observando e matando aos poucos minha curiosidade.

-Não quero ser romântico nem nada do género mas você diminuiu esse sentimento, sabia? -Como estava de costas não pude ver seu rosto mas tenho a vaga impressão de que sorriu por alguns breves segundos. - Mas ainda sim, era tão impossível... Controla-lo, era como uma fera agora libertada, e mesmo agora sinto que não posso parar.

Eu seria que ele estava começando a se incomodar com tudo, e talvez até mesmo a se arrepender, então antes que pudesse demonstrar quaisquer uma dessas emoções fui ao seu lado, sentei-me no chão e encostada na parede mantive meu olhar longe do seu, de encontro as árvores ao redor da casa.

-Já fui aos Estados Unidos. -Disse e por uma rápida olhada pude perceber que ele mantinha uma feição confusa como se tentasse descobrir o que eu estava tentando fazer, pensei que fosse me interromper mas ele não o fez, pelo contrario foi até a outra parede mantendo uma boa distância de mim e começou a me olhar fixamente esperando pelo resto da história, ainda não entendo o porquê de querer distância mas nunca questionei sua decisão, acho que até mesmo o entendo, às vezes precisamos nós afastar um pouco de tudo, relaxar e deixar tudo apenas "rolar" sabe?

Seu olhar frio mantinha uma curiosidade em si ao mesmo tempo que continha uma grande dose de tédio, acho que beber o passado era mais amargo do que pensei, uma dose dessas sempre era acompanhada por uma ressaca de memórias e lembranças não esquecidas. Suspirei fundo me preparando para começar a contar tudo o que havia escondido por tanto tempo, naquele momento eu entreguei minha solução em suas mãos abrindo mão de ser um grande mistério como pensava ser.

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Espero que estejam preparados para descobrir tudo que a senhorita Misaki esconde por trás da "vida perfeita" que levava... rsrsrsrs. Preparados? 😁💕💕

✞ Meu Doce Psicopata✞ ⇒Jeff The Killer⇐ (Versão Antiga, Cancelada) Where stories live. Discover now