☾Cap 41: Suas vozes na minha cabeça ☾

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"É melhor queimar de uma vez
do que se apagar aos poucos."
–Kurt Cobain

Seus olhos verdes demonstravam uma natureza doentia, uma mente insana, um homem louco. E isso não era inteiramente mentira, Liu era louco, louco por seus objetivos, louco por sua vingança, ele era o caso comum de pessoa que não enxerga o próprio mundo bem na sua frente, cego por sua ignorância.

Sem se importar ele apenas deixou que aquele silêncio reinasse sobre nós, o que para fora uma surpresa, Liu sempre foi o tipo de criança tagarela, ele era tudo o que não era mais hoje, colorido hoje assombrado por sua mente cinzenta, feliz, sorridente, hoje era apenas uma sombra, assim como eu, era apenas um esboço mal feito do que costumava ser. Ele gostava de deixar claro que tudo era visivelmente minha culpa. Me deixava como um ladrão aos olhos de todos, dizia que eu havia lhe roubado tudo.

Ali, olhando um nos olhos do outro, parecia que éramos dois estranhos agora, eu não o conhecia, não mais. Era como se aquelas lembranças felizes nossas, duas crianças alegres brincando por um jardim colorido, não passassem de uma pura ilusão. Acho que é isso que acontece quando você colide com a realidade, suas lembranças felizes parecem não valer mais nada, afinal, memórias não podem comprar o presente, assim como uma borracha não pode apagar atitudes.
Não me entenda mal, eu não havia me arrependido do que havia feito aos meus pais, mas também não gostava de ver Liu daquele jeito. Nunca me dei o trabalho de demonstrar isso também, afinal, orgulhoso e arrogante como meu irmão era ele jamais aceitaria qualquer coisa que viesse de mim, ele era o tipo de pessoa que poderia estar sem as pernas, caído, sozinho em um deserto, se eu o encontrasse ele ainda seria capaz de cuspir na minha cara e dizer não precisar da minha ajuda. Por conta disso preferi não me importar também, ele se afogava sozinho nas águas do passado, e eu não me atreveria a me molhar para salvá-lo, não mais.

Mamãe havia me dito uma vez: "Querido o paraíso pode estar sobre um ombro, mas o inferno está sobre o outro." Não havia entendido na época o que ela queria dizer, não era capaz de entender também, assim como Liu é agora eu costumava ser tão arrogante a ponto de só ouvir a mim mesmo, eu era um homem surdo. Mas agora analisado o que mamãe havia me dito, pude finalmente entender o que ela queria dizer. Carregamos tudo sobre nossas costas, assim como um homem havia carregado diversas vidas nas suas, carregamos nossas cruzes. Eu, como um homem pecador, pela primeira em muito tempo, mais tarde naquela noite, pude sentir o tamanho do inferno que carregava sobre meus ombros.

Papai também era de todo filósofo, uma vez havia me dito: "As pessoas caem para aprenderem a se levantar." Este é um dos vagos momentos que tenho claro em minha mente, eu havia caído andando de bicicleta e chorava muito por isso, então ele ao invés de me levantar apenas me olhou e disse isso. Essa frase me fazia ter dó de Liu, ele estava caído há muito tempo, caído e abandonado onde escolheu ficar, ele poderia até mesmo andar mas nunca se levantou de verdade.

Por algum estranho motivo estar perto de Liu me trazia inúmeras lembranças da minha família. Inúmeras lembranças e ainda sim, eu não era nem capaz de sentir a falta deles. Acho que ao contrário de Liu, eu havia aceitado a realidade tão bem que mesmo que quisesse não poderia saborear o prazer de suas inúmeras e deliciosas ilusões.

Quebrando o silêncio. A porta do refrigerador começou a fazer um barulho estranho pelo lado de dentro, só então havia me lembrado de Misaki, isso me assustou um pouco, era a primeira vez que havia nadado tanto no passado a ponto de esquecer o presente. A porta continuou a fazer barulhos e mostrar fortes danos do lado de fora, ao contrário do que eu esperava, Liu parecia querer isso, um sorriso divertido havia voltado para seu rosto enquanto ele encarava a porta totalmente entretido. Em poucos minutos a fechadura do lado de fora se quebrou e a porta finalmente abriu revelando uma Misaki dez vezes mais pálida e com alguns de seus cabelos meio congelados, no mesmo instante em que a porta se abriu Misaki largou o extintor de incêndio que havia utilizado para abri-la e se jogou no chão parecendo mais exausta do que nunca. Por mais machucada que estivesse senti orgulho dela, ela não havia se esquecido de ser forte, essa era minha garota, minha forte garota.

✞ Meu Doce Psicopata✞ ⇒Jeff The Killer⇐ (Versão Antiga, Cancelada) Donde viven las historias. Descúbrelo ahora