Cap 35: Céus sangram estrelas

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"Eu sei que os céus irão sangrar
Mas nossos corações acreditam
Que todas as estrelas irão nos guiar para casa
Eu posso ouvir seu coração
Pelo rádio ele bate
...
Tudo me levava de volta à você
Então, você pode ver as estrelas de Amsterdã
e ouvir a canção que bate no meu coração?..."
   -All Of The Stars (Ed Sheeran)

Certamente como já era de se esperar após anos conseguia lembrar de tudo claramente como se fosse ontem, seu toque bruto numa falha tentativa de ser mais delicado comigo, seu corpo pesado se deitando ao meu lado no final de tudo, meu sangue sobre os lençóis bagunçados, mas o que eu certamente jamais irei esquecer é de sentir sua ausência de manhã e acordar sozinha naquela cama que agora parecia tão grande. Nunca soube ao certo que tipo de "magia" esses pequenos objetos carregavam consigo, eram tão pequenos mas ao som da solidão soavam tão grandes e amedrontadores, a velha sensação de estar sozinha numa casa tão grande me invadia numa forte e inevitável nostalgia na qual eu tentará fortemente esquecer em vão. Eu realmente odeio as lembranças, sabe porque? Elas nunca vão servir como um lindo lembrete de uma luta ganha, ou uma conquista por exemplo, elas sempre serão mais como grandes cicatrizes marcadas fortemente em nossa pele, escondidas por um pequeno e delicado pano de consciência que sempre estará lá para nos lembrar de uma luta perdida, sempre serão como fortes pesos em nossos ombros nos quais carregaremos eternamente, mas eu admiro e admito que tem que ser assim, afinal, jamais saberíamos valorizar um sorriso sem sentir a dor de uma lágrima caindo, somos humanos, valorizamos mais quando perdemos.
Estar com Jeff era de longe a coisa mais normal que me aconteceu, era insano, louco, eu odiava as grandes subidas e descidas dessa grande montanha russa, sentir as nuvens no meu rosto era tão bom, aquele velho sentimento de paz, mas aguentar o inferno de mais tarde era terrível, as chamas ardentes e vozes demonicas não era algo tão simples de lidar. Estar com ele era como passar uma eterna tarde de chá com o Chapeleiro Maluco, bebendo ilusões, comendo emoções em forma de bolo de aparência tão doce mas contendo um gosto tão amargo capaz de azedar a alma, uma tarde que nunca passava, risadas e choros eram nossa música sempre tocando em nossos rádios particulares, mas o que eu mais odiava dessa eterna tarde era quando nossa música era desligada, a tão famosa canção do silêncio que eu tanto falo não é tão ficcional ou boa quanto parece, pelo contrário, é tão real quanto os sentimentos dos quais sempre descrevo, e tão ruim, amarga quanto um calise do veneno mais bonito do mundo, te chamava aos poucos para uma morte lenta cheia de arrependimentos vazios.

Olhei pela janela vendo o sol de meio dia tentando invadir o quarto mas sendo impedido pela pequena e delicada cortina de cor carmim, senti saudade das estrelas, da chuva de ontem, dos céus sangrando. Por mais estranho que fosse sempre estava a "filosofar" com a chuva, para mim aquelas águas não eram apenas algo "científico" ou comum, para mim poderia haver muito mais sentindo se nos permitimos imaginar. Acho que é isso que falta em muita gente, se deixar levar, flutuar em pensamentos, afogar em sentimentos, não vou mentir é horrível, mas um horrível bom, um doce envenenado destinado a crianças chamadas humanas, é nosso dever aprecia-lo ao máximo. Voltando a chuva, como por exemplo, sequer já paramos para pensar que talvez as nuvens sejam tão humanas quanto nós? Que também choram, sangram. Para mim chuva era uma grande queda, luta, entre lágrimas e sangue, como a vida, uma grande batalha vivida diariamente, o motivo de chorarem não cabe a mim dizer, são suas histórias, suas lutas, suas trajetórias. Lembro-me claramente de ser chamada de infantil por pensar assim desde pequena, até hoje isso não foi capaz de me incomodar.

O som do silêncio reinava fortemente naquela casa vazia, um ar de tédio pairava todo o ar, era tão estranho, eu devia estar triste com Jeff por ter me abandonado novamente após um acontecimento tão importante, tão marcante para mim, mas eu não estava triste, estava sozinha e pela primeira vez isso não me entristecia, havia finalmente aprendido a lidar com a solidão, ou talvez o fato de saber que nós dois tínhamos muito o que pensar me acalmasse daquele jeito.

✞ Meu Doce Psicopata✞ ⇒Jeff The Killer⇐ (Versão Antiga, Cancelada) Where stories live. Discover now