CAPÍTULO 1: Alienígenas no Metrô

1.2K 255 2.8K
                                    

Estou falando sério! – Esbravejou Bianca com indignação, atirando as sacolas no banco e os braços magrelos para o alto, afim de deixar a afirmação com um ar mais incisivo. – Se aquela mulher aparecer na minha frente de novo, eu sou capaz de matá-la! Ela e aquele demônio disfarçado de cão. Eu os odeio! Odeio, odeio, odeio!

Os semi gritos da garota não tardaram em despertar o interesse de quem estava naquela parte do Madison Square Park. Haviam alguns casais em busca de um ambiente romântico, adolescentes procurando um pouco de diversão noturna e adultos apressados almejando suas casas após o longo dia de trabalho – e agora a maioria deles tinham os olhos cravados na garota irritada, afim de descobrir o quê tinha acontecido. Rebeca, melhor amiga e maior ouvinte das lamúrias de Bianca, estava tão acostumada com a loira chamando aquele tipo de atenção que se contentou em empurrar as sacolas dela para o lado e se sentar.

– Você os conheceu essa manhã – disse Rebeca, sem fazer o menor esforço para disfarçar o tédio na voz. – Não acha que está exagerando um pouquinho?

Bianca fingiu um engasgo de incredulidade.

– Exagerando? – ela repetiu, esbugalhando os olhos na direção da outra. – É o segundo ataque em menos de vinte e quatro horas. Não estou exagerando, estou sendo perseguida! – E puxou a barra da camiseta para a frente, como se a enorme mancha de queijo e mostarda que havia ali fosse uma prova incontestável do que dizia.

Rebeca – e os cerca de quinze curiosos que observavam atentamente as duas garotas – olhou preguiçosa para o motivo de histeria da amiga. Todas as suas energias haviam sido gastas nos últimos dez minutos em tentativas falhas de convencer Bianca de que ela não estava amaldiçoada nem nada parecido, alegando que era perfeitamente comum trombar com a vizinha nova e seu cachorro baderneiro e acabar com o hambúrguer imaculado no chão e o molho dele escorrendo pela barriga. Mas, afinal, era Bianca em sua frente, e se tinha uma coisa na qual a garota era boa, era dramatizar toda e qualquer situação.

– A camiseta já era, Bianca – murmurou Rebeca, interrompendo a série de lamentações da loira sobre como sair de casa tinha se tornado algo extremamente perigoso. – Reclamar não vai adiantar de nada.

– É claro que vai! – retrucou Bianca de volta, finalmente parecendo compreender que esfregar a mancha à seco não iria fazê-la desaparecer magicamente. – Vai aliviar a raiva acumulada em minha alma e me impedir de ir até o apartamento daquela bruaca clamar por vingança.

– Tudo bem – disse Rebeca. – Você está exagerando.

Os grandes olhos verde musgo de Bianca se estreitaram automaticamente.

– De qual lado você está, afinal? – questionou ela acusadoramente.

– Então existem lados agora?

– Mas é claro que existem lados, Rebeca! – a voz de Bianca subiu algumas notas. Ela parecia alarmada. – E saiba que você está provando não ter lealdade alguma comigo não dando a mínima para os meus problemas.

Rebeca não pode evitar a risada seca que lhe escapou pelos lábios.

– É isso o que você chama de problema?

– Sim, é isso o quê eu chamo de problema! – Bianca se exaltou novamente, atiçando outra vez os bisbilhoteiros que esperavam por alguma agitação por parte das duas. – Começando pelo nome daquele monstrengo. Quem, em sua sã consciência, batiza um buldogue de Nietzsche? E aliás, que tipo de pessoa invade o apartamento alheio às sete da manhã para se apresentar com um destruir de bolsas daquele à tira colo? – ela se jogou no banco ao lado da amiga, amaçando as próprias sacolas e soltando muxoxos. – Era a bolsa que a vovó me deu de aniversário.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now