CAPÍTULO 14: Pandora

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Foi a primeira vez que Rebeca não se esborrachou no chão ao atravessar um portal. Milagrosamente tinha caído em pé e, mesmo que as pernas estivessem reclamando e bambeando de dor, estava orgulhosa de si mesma pela conquista.

Arrumou a compostura e olhou em volta, não reconhecendo o ambiente. Era um escritório, grande e acolhedor. As paredes eram cinzas claras e o piso escuro e brilhoso constrastava com elas. Haviam duas prateleiras cheias de livros e um grande mapa pregado em uma das paredes, cheio de rabiscos e anotações feitas com canetas coloridas. Um sofá escuro estava encostada em uma parede, cadeiras acolchoadas se posicionavam diante de uma mesa de madeira negra e fosca com diversos papéis e livros espalhados por sua superfície e, atrás dela, uma janela que ia do chão até o teto, revelando um extenso jardim bem cuidado. Havia um homem sentado a mesa, porém, antes que Rebeca conseguisse enxergar o rosto dele, braços fortes a agarraram e a puxaram contra o tronco de um corpo cheio de músculos.

Ela gritou e se debateu, até perceber que não estava sendo atacada, mas sim abraçada.

Surpresa, levantou a cabeça até conseguir reconhecer o rosto aliviado de Brian Palathorn – ou Malonen, ainda estava confusa quanto a esse detalhe.

– Você está viva – murmurou ele, não fazendo menção alguma de que a soltaria tão cedo. Havia um brilho nos olhos dele, revelando as lágrimas que estavam sendo contidas. – Está bem.

Rebeca piscou para o loiro. Ele era meu amigo. Pensou lentamente, sem saber como reagir àquilo tudo. Meu melhor amigo, e eu não lembro dele.

– É claro que ela está bem – a voz de Noah soou atrás deles. Ela girou a cabeça a tempo de vê-lo se jogar no sofá verde musgo. – Diferente de você, sou um ótimo guardião. Não tem com o que se preocupar, loirinho.

Brian sequer pareceu ouvir a provocação.

– Na última vez que te vi, você disse que ela estava prestes a morrer. Como eu poderia não me preocupar? 

– Quanto a isso... – Noah limpou a garganta e sorriu – Eu menti, mas não espalhe essa história por aí.

– Você não pode estar falando sério...

– Sua amiguinha é mais difícil de se lidar do que eu esperava – Noah deu de ombros, displicente.

Rebeca olhou para Brian, os dedos dele escorregaram para longe, findando o contato, enquanto seu maxilar trincava de raiva.

– Seu bastardo filho de uma...

– Certo, já é o bastante. – Pronunciou o homem que estava à mesa enquanto se levantava e espalmava as mãos sobre ela. – Ou os dois dão um jeito de agir como pessoas civilizadas, ou irei informar Marco sobre o quão felizes estavam quando se voluntariaram para serem seus ajudantes pelo resto do semestre.

Os punhos de Brian, que estavam erguidos de forma acusadora na direção de Noah, despencaram no ar até as laterais de seu corpo, que parecia ter espasmos nervosos. O outro se limitou a revirar os olhos e apoiar o rosto no encosto do sofá.

– Ótimo – disse o homem, e então começou a se mover na direção de Rebeca. Os cabelos eram uma mistura de fios cinzentos e fios negros, mas ele não era velho – aparentava ter menos de quarenta anos. Os olhos eram tão escuros quanto a noite e o rosto era todo anguloso, com um bigode engraçado e uma barba propositalmente por fazer o enfeitando. Ele se aproximou rapidamente com suas pernas enormes e estendeu uma mão para ela. – Sou Lisandre Durbis, o diretor de Pandora, e saiba que é uma honra conhecer a filha de Natasha.

Rebeca apertou a mão estendia, meio perdida quanto ao que fazer e dizer. Já tinha frequentado diversos jantares e encontros como companhia de sua avó ou de sua tia, então tinha certa prática em socializar com pessoas mais velhas. Mas perguntar sobre as férias em família ou sobre o último quadro arrematado em um leilão não pareciam ser tópicos para aquele lugar. No fim, tudo o que conseguiu dizer foi:

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now