CAPÍTULO 49: Invasão

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E então? Ninguém tem nenhuma ideia? Nenhuminha que seja? – perguntou Lana pela segunda vez com a voz esperançosa, recebendo um silêncio muito expressivo como resposta. – Qualquer coisinha serve. Tipo, qualquer coisa mesmo. 

– Ainda não entendo porquê estamos fazendo isso – resmungou Rebeca, se ajeitando melhor sobre a colcha que cobria a cama.

Lana soltou um suspiro alto.

– Estamos fazendo isso porque esse clima mórbido de merda estava me deixando doente e também porque qualquer coisa que te impeça de afundar ainda mais o chão enquanto anda de um lado para o outro é válida e bem-vinda. – Retrucou ela de prontidão, como se já estivesse pensando naquilo há tempos.

– Eu não afundei o chão! – indignou-se Rebeca, firmemente convencida de que não tinha andando tanto assim em círculos.

– Brian? – chamou Lana, lançando um olhar para o loiro, que abriu um sorrisinho amarelo.

– Bom, estava no processo, sem dúvida alguma.

Rebeca se exasperou.

– Vocês são muito exagerados.

– Lorenzo? – foi quem Lana chamou agora – Você mora aqui e tem muito mais propriedade de fala do que o resto de nós, então, diga-nos: O piso não parece meio torto perto do tapete pra você também?

Lorenzo arregalou os olhos, evitando cruzar o olhar com o de Rebeca.

– Talvez um pouquinho...?

– Há há – desdenhou Rebeca, cruzando os braços. – Como vocês são engraçados.

Eles estavam no Núcleo, no quarto que Narisa tinha preparado para Rebeca passar a noite. Lorenzo tinha confidenciado que aquele quarto outrora pertencera a uma Sábia do clã Lerofer, que possuía a habilidade de manipulação de água, e que por isso tudo era tão monstruosamente decorado em tons de verde, azul e perolado e revestido de móveis antigos que fariam Lilian chorar de emoção e felicidade. Rebeca estava enfurnada ali já faziam algumas boas horas, mas o quarto refletia tanto a personalidade de outra pessoa que ela ainda não tinha conseguido se livrar da sensação de que, a qualquer segundo, um fantasma surgiria por uma das paredes para assombrá-la.

Lorenzo estava grudado nela desde que tinha atravessado o portal de Neko, tentando distraí-la de suas paranóias e temores com suas infinitas perguntas sobre o mundo humano enquanto a levava de um lado para o outro do Núcleo, mostrando-a quase todos os cômodos do lugar. Brian e Lana tinham surgido quando o sol já estava se pondo, assim que se viram livres das aulas de Pandora. Os Sábios, por outro lado, estavam ocupados e mal tinham ficado dois minutos junto dela antes de correrem para ajustar algum detalhe pendente das preparações finais para o ritual.

Rebeca observou as unhas que tinha roído mais cedo. Estava tentando evitar pensar no ritual para não ter uma crise, e até estava tendo bons resultados desde que os três tinham se disponibilizado para ficar com ela a noite inteira se fosse necessário, mas era quase impossível não titubear um pouquinho em alguns momentos. 

Ela sabia que estava fazendo a coisa certa, tanto por poder eventualmente ajudar as pessoas se conseguisse sair viva daquilo, quanto por garantir a segurança das pessoas com quem se importava. Mas ainda assim temia que, em algum momento, pudesse perder o controle.

Seu momento de desespero silencioso não demorou para ser notado por outra pessoa:

– Ei, ei, ei! Pode parar com essa cara! – Lana praticamente gritou, gesticulando para ela. – Nada de carinhas tristes ou derrotadas aqui, elas estão terminantemente proibidas e não ouse me interromper, Palathorn! Comecei a falar e não irei parar até terminar. – Ela grunhiu, apontando um dedo para o loiro que mal tinha começado a mover os lábios antes de se voltar para Rebeca outra vez. – Você é a droga da filha da Receptora mais foda que já existiu, você já sobreviveu a um massacre e, caramba, você já é uma sobrevivente! Consegue passar essa fossa e superar aquele ritualzinho de nada. Tenha um pouco de fé em si mesma garota, por Oen!

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now