CAPÍTULO 25: Vidente em Fuga

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Noah era muito bom em fazer discursos repressivos.

Duas ruas depois da que se separaram de Miguel, ele havia começado a listar todas as coisas erradas que Rebeca tinha feito nos últimos minutos – fazendo uso de uma eficiência que deixaria Lilian extremamente orgulhosa –, não deixando de citar como ela alegremente havia colocado a vida dos dois em apuros e acrescentando o quão idiota tinha sido ao se deixar levar pelo vampiro.

Após dissertar sobre como nunca mais iria lhe dar ouvidos, ele disse:

– Eu ainda não posso acreditar que você realmente estava caindo na dele.

– Ele não iria nos machucar – defendeu-se ela pela primeira vez desde que tinha começado o falatório.

– Eu não teria tanta certeza assim – retrucou Noah.

– Bem, ele parecia inofensivo pra mim – ela deu de ombros, embora tivesse suas dúvidas quanto ao que dizia.

Noah estreitou os olhos.

– Ele é um vampiro, Rebeca – ralhou ele – Não existe nada de inofensivo nele.

Rebeca suspirou, dando-se por vencida.

– A espada – disse evasiva, torcendo para que Noah se distraísse o suficiente para se esquecer do sermão. – De onde você tirou ela?

Noah olhou para a espada que ainda permanecia firme em sua mão, depois olhou em volta, e finalmente pareceu compreender porquê todos que passavam por eles apressavam o passo ou os lançavam olhares atravessados. Ele colocou as duas mãos nos gumes escuros da espada e os empurrou na direção da lâmina, que se contraiu para trás até que os gumes fizessem um casulo ao seu redor, guardando-a. Ele girou o prisma quadrangular entre os dedos, como se o testasse, antes de prendê-lo no cinto cheio de compartimentos.

– Isso deve responder sua pergunta – disse e se moveu na direção de uma travessa. – Se Miguel não mentiu, é por aqui.

Rebeca sentiu uma nova onda de ansiedade e nervosismo atingi-la. Cruzou as mãos na frente do corpo, tentando se conter para não ter uma crise similar a que tivera depois de ser expulsa da pousada.

– Aquele papo de casamento que Miguel disse, sobre aquele "pedido" não ser o último que eu vou receber – Ela fez aspas com os dedos enquanto falava, fazendo o seu melhor em ocupar a cabeça com qualquer conversa fiada que pudesse arranjar com Noah. – Você entendeu aquilo?

– Casar-se com uma Romanblack é visto como um dos maiores prestígios de Clanos – respondeu ele enquanto chegavam ao final da travessa, saindo em uma rua larga e de terra batida. – Para alguns, é a única chance de ser alguém importante. Por isso é melhor começar a se preparar, porquê se você for uma Receptora, não vai demorar até que o Congresso te arrume um noivo.

Ela congelou.

– Está brincando comigo... não está?

– Para seu único e exclusivo azar, não estou. O Congresso já perdeu a sua mãe, não vão correr o risco de perder você também. – ele sorriu para ela. – Rua das Amaléias, aqui estamos nós.

Rebeca desviou o olhar dele para olhar em volta, ainda perturbada pela nova informação. Assim como Miguel havia dito, havia uma pequena barraca verde musgo no final da rua. Frascos e potes coloridos estavam dispostos encima do balcão e havia uma placa ao lado da barraca, onde "Poções e previsões por um preço acessível e irresistível" estava escrito. Uma mulher que deveria ter cerca de quarenta anos estava sentada em um banquinho atrás da barraca. Vestia um quimono verde e encarava o nada com um interesse enfezado. Correntes prateadas enrolavam-se nos dedos e subiam pelas mãos, desaparecendo dentro da manga do quimono.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Donde viven las historias. Descúbrelo ahora