PRÓLOGO: A Virada do Ano

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Faltavam poucos minutos para que o relógio indicasse a chegada da meia-noite quando Brian Palathorn se enfiou dentro do elevador, apertando desesperado e impaciente o botão da cobertura. Ele quase podia ver uma ampulheta brilhando diante de seu rosto, mostrando seu tempo acabando sem que ele pudesse fazer algo que não fosse observar.

Brian bem sabia o tamanho do problema em que tinha se metido. Sabia das chances enormes de ser preso ou, quem sabe, exilado. Estava quebrando regras, leis, e nem se importava com isso. Nenhuma consequência parecia grande o suficiente para impedi-lo de seguir em frente. Não agora. Não tão perto de se encontrar com ela.

As portas do elevador se abriram e as rimas de 50 Cent adentraram seus ouvidos, fazendo seus ossos vibrarem junto da música, que estava tão alta que fazia as paredes tremerem. Adolescentes se espalhavam pelo hall de entrada, pela sala de estar e pelos corredores, balançando, girando e rebolando. Garotas jogavam seus cabelos e remexiam em investidas até o chão. Os garotos estavam logo atrás delas, balançando os quadris no ritmo da música.

Em todos os seus anos na Terra, Brian nunca conseguiu entender como humanos podiam gostar tanto daquela bagunça de corpos e suor. Não fazia o menor sentido para ele. Empurrou o devaneio para o fundo da mente e olhou em volta, focando em seu objetivo ali.

Mas onde diabos ela estava?

Não demorou nem meio segundo para que Bianca Harding entrasse em seu campo de visão. Ela estava entre os aspirantes a dançarinos, o cabelo loiro preso em um rabo de cavalo pulando de um lado para o outro enquanto ela dançava de olhos fechados e com os braços para o alto. Brian a observou por alguns segundos, sentindo uma incomum vontade de ir até a loira e abraçá-la. Por mais que os dois parecessem incapazes de dividir o mesmo ambiente por mais de um minuto sem se alfinetar ou discutir, ele sabia que, admitindo ou não, iria sentir falta dela.

Ele suspirou, passando as mãos pelo cabelo emaranhado e seguindo em frente. As lágrimas presas no fundo da garganta estavam ameaçando chegar até os olhos muito antes do que ele tinha imaginado. Tinha apostado com seu subconsciente que choraria no caminho de volta, não ali, no meio de uma festa lotada de gente que ele muito provavelmente nunca mais veria.

Brian saiu na enorme sacada do apartamento. Possivelmente por conta do frio cortante, havia bem menos gente ali do que lá dentro, e ele logo encontrou quem tanto ansiava em ver.

Rebeca!

A garota, que estava apoiada na mureta apontando para os fogos coloridos que explodiam no céu escuro junto de Mason Lawson, girou assim que ouviu seu nome ser chamado e sorriu pra ele. Ela estava embrulhada dentro de um casaco enorme que, se Brian bem se lembrava, era de Benjamin, mas ainda parecia tremer de frio. O nariz e as bochechas estavam vermelhas, se por conta do frio ou do álcool que ela claramente havia ingerido, ele já não sabia dizer.

Brian sentiu cada músculo de seu corpo travar enquanto observava os olhos azuis dela. O sangue em suas veias pareceu congelar e ele podia jurar que seu coração tinha parado de bater. Não conseguia se mexer. Não conseguia falar. Não conseguia nem pensar. Os olhos estavam ardendo e ele teve de usar a última gota de seu autocontrole para se impedir de começar a chorar e gritar ali mesmo.

Rebeca correu para ele, o abraçando apertado pelo pescoço. Ele levou meio segundo para respirar fundo e abraçá-la de volta, afundando o rosto no cabelo dela e notando pelo canto do olho Mason saindo de fininho.

– Você disse que ia passar a virada na casa dos seus avós – Rebeca murmurou soltando-o devagar – Mas está aqui. O quê aconteceu?

Ele suspirou enquanto prendia a franja dela atrás da orelha. Observou o rosto da garota em sua frente por alguns segundos, tentando decorar cada traço e detalhe que ele continha – como se já não a conhecesse por inteiro, desde o segredo mais bem escondido, até a mania mais idiota. Não sabia quando seria a próxima vez que iria vê-la, não sabia nem se algum dia voltaria a colocar os pés naquele lugar, e apenas essa possibilidade era o suficiente para quase fazê-lo desmoronar. Rebeca tinha, inegavelmente, se tornado a coisa mais importante de sua vida e pensar em um futuro sem ela doía mais do que ele achava que pudesse suportar.

Seu eu de alguns anos atrás riria dele se o visse naquela situação: Despedaçado e choroso por causa de uma garota humana.

Brian se forçou a sorrir quando percebeu a testa dela começar a franzir em confusão.

– Houveram uns problemas com o voo, tempo ruim ou alguma coisa assim. Só vamos de madrugada agora – mentiu, sentindo-se ridículo. – Vai ter que me aguentar mais um pouco antes de se livrar de mim.

– Não seja idiota! Nova York não tem graça sem você ditando o que é seguro de fazer e o que não é.

– Engraçadinha – ele soltou uma risada seca. – Vão ser só algumas semanas – mentiu outra vez, a língua parecendo uma lixa na garganta – Mas faça-me o favor de tentar não se matar enquanto eu estiver fora.

Rebeca riu e alguém atrás deles berrou que a contagem iria começar.

– Você sabia que as promessas feitas durante a virada do ano sempre acabam se cumprindo? Independente do que aconteça? – ela perguntou e olhou para cima enquanto fogos de artifício vermelhos e azuis pintavam o céu, iluminando o rosto dela com suas cores.

– Não fazia ideia.

Rebeca revirou os olhos, sorrindo.

– Você nunca faz ideia de nada – disse e pegou as mãos quentes de Brian com suas mãos frias. – Brian Finnegan Malonen, eu quero que você me prometa uma coisa.

Brian sentiu o estômago revirar.

– Qualquer coisa – ele sussurrou sem ânimo. Dentro do apartamento, as pessoas começaram a gritar.

Dez. Nove. Oito...

– Promete que, independente do quão insuportável eu seja, não vai me abandonar nunca? – pediu em um sussurro, a voz tornando-se chorosa e arrastada. Ela sempre ficava emotiva nos finais de ano e a bebida não ajudava em nada. – Eu não quero perder você também.

– Prometo – Brian apertou as mãos dela, sentindo alguma coisa se partir dentro de seu peito, e sorriu para a garota. – E quanto à você, vê se tenta não me esquecer, ok?

– É claro que eu não vou te esquecer, seu idiota!

... Três. Dois. Um.

Fogos de infinitas cores explodiram acima deles, iluminando os dois enquanto eles se abraçavam pela última vez. Brian murmurou que precisava ir e Rebeca mal conseguiu reclamar antes de ser envolvida pelos braços de Bianca, que fez um breve interrogatório do porquê da amiga estar chorando antes de começar a gritar "Feliz ano novo!" para qualquer um que passasse perto dela. Ele aproveitou a deixa para escapar, olhando as duas se abraçando e rindo antes de se virar e praticamente correr para longe.

Brian parou de segurar as lágrimas assim que entrou no elevador e ainda estava na esquina de onde acontecia a festa quando foi cercado e algemado por um grupo que usava roupas escuras. Eles o arrastaram para dentro de um beco mal iluminado, desaparecendo lá dentro.

Ele ainda chorava quando isso aconteceu, mas não tentou resistir, agarrava-se na promessa que tinha feito com sua melhor amiga minutos antes: não iria abandoná-la e ela não iria esquecê-lo. Confiava que, cedo ou tarde, eles dariam um jeito de se encontrar outra vez.

Ele só não podia imaginar que, quando Rebeca acordasse no dia seguinte, nem de seu nome ela lembraria mais.

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Acho que tudo que eu tenho a fazer é deixar aqui um "OLAAAAAAA!" bem escandaloso e exagerado pq sou dessas!

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now