CAPÍTULO 50: Constelações

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Antes que pudesse pensar duas vezes e se impedir, Rebeca se encontrou se arrastando entre grama e arbustos para não ser vista pelos guardas sonolentos e lerdos que cercavam o Núcleo naquela madrugada. Noah a puxou para um caminho de mato alto e seco que ficava entre o muro de pedra e os prédios do centro comercial, evitando as ruas e qualquer um que pudesse estar fora de casa naquele horário. Rebeca só teve uma noção de para onde estavam indo quando o telhado angular e cheio de torres e pináculos do Septo surgiu, reluzindo contra a luz do luar. Era a primeira vez que ela o via por trás, e a primeira vez que percebia a construção acoplada atrás dele: Uma cerca viva de quase cinco metros e revestida de fios prateados que chiavam baixinho, já alertando sobre a quantidade de energia que carregavam.

– Deixe-me adivinhar – ela sussurrou – É aqui que vamos entrar?

– Muito perspicaz – Noah sussurrou de volta, sorrindo e conduzindo-a para perto da cerca, onde o chiado era mais forte. Rebeca já podia se imaginar fritando como um ovo em uma frigideira. – Eu fiz um buraco na cerca algum tempo atrás, e Samuel reduziu a voltagem em volta dele. Mesmo que encoste em um dos fios, não vai sentir mais do que cócegas.

Ele se abaixou, afastando uma moita e revelando a abertura rente ao chão que tinha ali. Rebeca mordiscou os lábios, ainda hesitando um pouquinho.

– Vai ficar tudo bem, coração – assegurou Noah. – Eu prometo.

– Espero – ela resmungou enquanto se ajoelhava – Ou minha alma vai voltar para atormentá-lo.

Grudando a barriga no chão, Rebeca se arrastou pelo buraco, sentindo que cada nervo de seu corpo vibrava junto dos fios. Por sorte, conseguiu a façanha de não encostar em nada até sair do outro lado da cerca viva. Haviam algumas lanternas posicionados sobre a cerca, permitindo-a notar que estava em um jardim planejado interligado ao Septo. Um considerável lago retangular com uma fonte circular ficava no centro, cercado por bancos de pedra e flores coloridas. Calçadas faziam um caminho quadrangular por todo o lugar, intercalando-se com a grama bem aparada e úmida. Um aglomerado de árvores, arbustos e flores que Rebeca nunca tinha visto na vida se derramavam por todos os lados, enchendo o ambiente com seu cheiro.

– Vou ter que admitir, é lindo – ela se ouviu dizendo depois de Noah surgir pelo buraco atrás de si.

– O Congresso é bom em fornecer uma exibição gratuita e de qualidade, isso eu não posso negar – ele disse, se levantando e estendendo uma mão para ela. – Vem, eles devem aparecer logo mais.

Mesmo um pouco relutante pela recusa de Noah em dizer logo quem eram os tais amigos, ela pegou a mão dele, deixando-o a levar até a borda do lago, passando por cima da calçada de pedra para se sentarem lado à lado na grama úmida que o cercava.

– Então esse é o tal jardim do Congresso – ela murmurou distraída, olhando ao redor – Brian tinha falado alguma coisa sobre me trazer aqui.

– Você e seu garotinho de ouro – Noah resmungou, soando quase incomodado. Quando ela desviou os olhos dos peixinhos coloridos no lago percebeu ele olhando para ela com uma expressão indecifrável. – O quê? Vai dizer que nunca ouviu o apelido?

– Você implica demais com ele – ela apontou – Não cansa?

– E seu senso de proteção aumentou consideravelmente nesses últimos dias – ele retrucou, revirando os olhos antes de voltar a olhá-la. – Você se lembrou dele, não é? – Ela acenou positivamente com a cabeça, sorrindo com a informação. – Está explicado o motivo de vocês viverem se agarrando agora.

Rebeca ergueu uma sobrancelha.

– E você me parece particularmente incomodado com isso.

Noah abriu um sorriso tão reluzente quando uma faca bem amolada.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Onde histórias criam vida. Descubra agora