CAPÍTULO 28: Hora do Intervalo

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A loção que Calista deu a Rebeca tinha um efeito quase imediato. O machucado tinha se fechado e parado de doer antes mesmo deles deixarem a Cidade de Prata, como se nunca nem tivesse existido. O mesmo, entretanto, não podia ser dito sobre a camiseta e a jaqueta: Ambas estavam arruinadas – Noah se lamuriou bastante sobre a perda da última, resmungando que nunca mais acharia uma igual.

O retorno para Esdom aconteceu sem nenhum imprevisto ou empecilho. Eles também não encontraram problemas enquanto Noah recolocava Oreo em sua baia e o entregava algumas cenouras, sussurrando congratulações por ele ter sido um bom garoto; nem enquanto se esgueiravam pelos corredores tentando evitar professores, guardas e, principalmente, Marco.

Rebeca não tinha entendido o que eles estavam fazendo em Pandora, mas estava tão contente pelos últimos dizeres de Calista que decidiu não questionar Noah sobre aquilo.

Após alguns minutos de perambulação, eles entraram por um par de portas metálicas que estavam no final de um grande corredor, chegando em um refeitório. Provavelmente era duas vezes maior que o refeitório da Nightgale, com diversas mesas retangulares e metálicas espalhadas pelo recinto, acompanhadas de dois bancos ao lado de cada uma. Uma das paredes era inteiramente feita de vidro, mostrando uma grande parte do canteiro de flores do enorme jardim. Do lado contrário da janela estava a cozinha, de onde vozes podiam ser ouvidas. Uma longa mesa estava disposta do lado de fora dela, onde rechauds, bandejas e talheres estavam.

Rebeca sentiu um solavanco na barriga, só então percebendo o quão faminta estava. Ela se perguntou que tipo de comida eles comiam ali e se sua fome era grande o bastante para fazê-la engolir seja lá o que fosse o cardápio do dia.

Estava prestes a fazer um questionamento sobre isso quando um sinal agudo e irritante invadiu seus ouvidos.

– Faça sua melhor cara de inocente – disse Noah, segundos antes das portas metálicas serem abertas por aquele que Rebeca reconheceu como sendo Samuel, o garoto das jujubas.

Samuel praticamente correu para agarrar sua bandeja, sequer notando a presença dos dois enquanto se servia. Logo, outros alunos começaram a surgir, conversando e rindo entre si. Ela reconhecia alguns poucos como Edmundo, que ignorou solenemente a fila que se formava próxima a comida e se sentou sozinho em uma mesa, concentrado em um bloquinho de notas, e Lana, que conversava alegremente com uma menina de cachos volumosos. Rebeca observou todos eles com fascínio. Olhando-os daquele jeito até pareciam adolescentes comuns em um intervalo comum de uma escola comum. 

Ela continuou com suas observações até ter sua visão obstruída pelo garoto que se aproximou quase correndo, estancando em sua frente. Piscou para Brian, lembrando-se das instruções de Noah sobre não deixar ninguém – principalmente ele – descobrir sobre onde eles tinham ido até que os Sábios estivessem a par da situação.

– Onde é que vocês se enfiaram? – questionou o loiro, só faltando colocar as mãos na cintura e bater o pé para se igualar a uma mãe irritada.

– No arsenal – disse Noah ao mesmo tempo em que Rebeca dizia "no jardim".

Noah semicerrou os olhos para ela, claramente mandando-a manter a boca fechada, e Rebeca ergueu os ombros, livrando-se de qualquer culpa. Brian quase parecia ofendido.

– Pra onde é que ele te arrastou? – ele insistiu, voltando-se para ela.

– Mas o que te leva a crer que eu a arrastei? – disse Noah, esbanjando um sorriso discreto.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now