CAPÍTULO 16: Oreo

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Essa sua ideia foi uma péssima ideia – resmungou Rebeca enquanto tentava e falhava em sua missão de não se arranhar nos espinhos das rosas vermelhas.

Eles tinham conseguido passar tranquilamente pelos corredores enquanto tentavam sair para o estábulo. Mas quando estavam quase chegando lá, toparam com o homem que os tinha prendido e algemado alguns dias antes, Marco, acompanhado de mais dois homens que não pareciam lá muito amigáveis. Por muito pouco não foram pegos em flagrante. Não tinham como passar por eles para alcançar o estábulo. Marco era esperto demais e saberia na hora que eles estavam indo escondido para algum lugar, Noah informou em um sussurro. E foi então que ele teve a grandiosa ideia de saltar pela janela e dar a volta pelo jardim. Rebeca acabou deixando a vontade de encontrar Calista falar mais alto que a razão e pulou atrás dele depois de contar até cinco – três vezes.

Foi desastroso, como já era de se esperar.

Noah não foi muito sábio na escolha da janela, e eles acabaram caindo a vários metros do desejado. Mais especificamente, ao invés de caírem em alguns arbustos fofos, caíram em cima de um canteiro de roseiras com espinhos afiados e pontudos espetando para todos os lados.

– Sua sugestão de passar correndo por eles também não era lá essas coisas – Noah grunhiu de volta exatamente quando um espinho cutucou sua coxa por cima da calça.

Depois de mais alguns xingamentos e gemidos de dor, eles finalmente conseguiram passar pelo canteiro e dar a volta pelo portão leste, se arrastando contra o muro para não serem vistos pelos guardas.

– Me lembre de nunca mais confiar em você pra nada – disse ela, batendo a terra do jeans e retirando alguns espinhos teimosos da camiseta. O estábulo estava a poucos metros de distância e Rebeca já podia sentir o cheiro do feno e ouvir o relinchar de alguns cavalos.

– Com todo o prazer – retrucou Noah e a puxou para dentro.

O estábulo era muito maior do que Rebeca imaginava, mas não abrigava tantos cavalos quanto ela esperava encontrar. Eram sete no total: dois brancos, um caramelo, dois mesclados de marrom e branco, um negro e um totalmente marrom. Cada um deles em uma baia própria. A construção era toda de madeira roliça clara, desde as baias, até as vigas e as paredes e o teto alto. Haviam pilhas de feno na extremidade oposta a entrada e alguns tufos caíam pelo chão.

– Você sabe montar? – ela perguntou enquanto Noah se aproximava da baia do grande cavalo marrom.

Rebeca o observou esticar a mão e acariciar o animal, sendo recompensado com um relinchar satisfeito pelo carinho feito perto da crina escura.

– Obviamente – respondeu Noah antes de se afastar para pegar a sela pendurada ao lado da baia dele. Ele olhou para ela. – Você não?

Ela soltou uma risada seca.

– Cavalos não são o meio de transporte mais comum de Nova York.

Noah pareceu quase desapontado.

– Não acredito que vou ter que te carregar por aí – murmurou abrindo a baia para colocar a sela sobre o dorso do animal. – Por que tudo que envolve você tem que ser tão complicado e trabalhoso?

Rebeca ignorou os resmungos e se aproximou alguns passos, hesitante e nervosa. O cavalo era muito grande e tudo o que passava pela cabeça dela era o tamanho do estrago que aquelas patas deviam causar com um coice. Noah se abaixou para prender a sela nele.

– É seu? – ela perguntou – O cavalo?

– O nome dele é Oreo – ele informou apontando para o cavalo, mas concentrado demais em arrumar a sela para sequer olhar para ela. – E sim, é meu. Lisandre me deu como presente no meu aniversário de dez anos.

Rebeca piscou, espantada.

– No meu aniversário de dez anos, eu ganhei uma casa da Barbie. – Resmungou para ninguém em especial e foi atingida em cheio pelo reconhecimento do nome. Tentou conter a risada. E não conseguiu. – Espera, você o batizou de Oreo? Tipo a bolacha?

Noah finalmente tirou os olhos do animal e os moveu para ela. Parecia horrorizado, ultrajado, como se ela tivesse falado a maior atrocidade de todos os tempos. Era o mesmo olhar que ele a lançou na prisão, quando ela riu dele por não saber quem eram as Tartarugas Ninjas.

– Ele não é uma bolacha – disse o óbvio.

– Mas tem nome de bolacha.

Noah fez uma careta de desagrado.

– Humanos são mais estranhos do que eu poderia imaginar – murmurou azedo. – E o nome é derivado do francês Or, que significa ouro, só pra você saber. Eu achei que seria uma alusão legal depois que descobri que a fazenda onde ele nasceu fica próxima de uma mineradora.

– Você sabe francês? – havia tanta incredulidade em sua voz quanto em seu rosto. Nem ela, com seus dois anos e meio de aulas vespertinas, sabia francês muito bem.

Foi a vez de Noah rir.

– Não chego a ser fluente – disse ele com os cantos da boca repuxados em um sorriso zombeteiro – Mas sei bem mais do que o suficiente.

Rebeca continuava com sua incredulidade estampada na cara.

– Clanorians são mais estranhos do que eu poderia imaginar – ela retrucou.

Haviam muitos traços de bom humor no rosto de Noah – adquirimos as custas dela – quando ele conduziu Oreo para fora de sua baia. Rebeca deu alguns passos inseguros para trás, tanto para dar espaço para o cavalo, quanto para garantir que não seria agraciada com um coice inesperado e mortal.

– Sobe – ouviu Noah dizer enquanto ela olhava o cavalo.

Rebeca nem se mexeu, continuou encarando o animal. Percorreu os olhos pelo tronco de Oreo, que batia mais ou menos na altura de seu peito, antes de lançar um olhar amedrontado para Noah.

– E como é que eu faço isso?

Uma ruguinha surgiu na testa dele antes que ele suspirasse, parecendo se lembrar do que ela tinha informado há menos de cinco minutos. Noah abaixou o tronco enquanto colocava as mãos juntas, formando uma escadinha para que ela conseguisse subir.

– Você não vai me derrubar propositalmente no chão assim que eu firmar o pé na sua mão, vai? – perguntou Rebeca com uma careta, mas se aproximou dele mesmo assim.

– Me magoa de profundas e diferentes formas você pensar que esse tipo de coisa passa pela minha cabeça, coração.

Rebeca revirou os olhos e o encarou irritada. Obviamente ele não perderia uma oportunidade de debochar dela. Mesmo contrariada, ela aceitou a ajuda oferecida. As pernas pareciam feitas de água enquanto se apoiava em Noah e subia em Oreo, o medo de cair para os lados e arrebentar a cara no chão coberto de feno predominando seus pensamentos e a deixando aterrorizada. Quando finalmente conseguiu montar no cavalo, se manteve o mais imóvel que podia, temendo fazer algum movimento bruto demais e assustar o animal.

– Você é a bolacha mais adorável que eu já vi – murmurou para o cavalo enquanto Noah montava atrás de si, enfiando os braços por entre os dela até alcançar as rédeas.

Rebeca ficou tensa e ereta instantaneamente, inutilmente tentando não encostar o corpo no dele.

– Eu preferiria ir atrás – ela resmungou, quase só com um mover de lábios de tão baixo que foi. – Mesmo.

– Iria se desequilibrar e cair antes que saíssemos do estábulo – argumentou Noah e puxou as rédeas, fazendo Oreo começar a caminhar para fora do estábulo. Rebeca se viu agarrando os braços dele, desesperada por um apoio. – Eu não me importo de você se agarrar em mim coração, mas não precisa fazer isso com tanta força. Não vou te deixar cair.

– Ah, cala essa boca – ditou carrancuda e moveu as mãos para a sela, firmando-as ali.

Ela sentiu a risada de Noah subindo por seu peito e reverberando levemente em suas costas antes de escutá-la. Já estavam fora do estábulo e as vistas de quem quisesse ver. O sol brilhava estonteante contra o céu azul e livre de nuvens, fazendo Rebeca semicerrar os olhos para enxergar. E então Noah puxou as rédeas outra vez, com um pouco mais de força agora, e Oreo partiu por uma estradinha de terra batida antes que acabassem sendo flagrados por alguém.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now