CAPÍTULO 34: O Primeiro Teste

190 41 108
                                    

Então, se eu entendi direito, essas coisas de ferro... – Lorenzo fez um pausa, mordiscando os lábios enquanto tentava se lembrar do nome. – Desculpa, como se chama mesmo?

– Avião – respondeu Rebeca, não conseguindo se impedir de batucar os dedos ansiosamente na mesa.

– Essa coisa aí mesmo – disse ele. – Isso voa, e não é mágico?

– Acho que planar é o termo mais correto, e não, um avião não usa magia pra isso. É apenas... hm, tecnologia? – ela arriscou, mas soava perdida para si própria.

O nariz de Lorenzo se franziu em pura confusão.

– Isso parece assustador.

– É um pouco – Rebeca deu de ombros, preferindo por manter oculta a crise de choro que tinha tido na primeira vez em que tinha viajado de avião. – Mas como não existem portais na Terra, a gente teve que se virar de um outro jeito.

O garoto se recostou na cadeira com olhos franzidos, sua expressão entregando o quão desacreditado estava.

– Eu certamente jamais vou andar num treco desses! – Ele decretou decididamente.

Rebeca sorriu. Sabia que Lorenzo estava tentando distraí-la com toda aquela conversa fiada disfarçada de curiosidade, e não podia se sentir mais grata por ele estar tentando ajudá-la – mesmo que ainda se perguntasse de onde ele tinha tirado que falar sobre meios de transporte humanos era algo interessante.

– Você ainda está aflita – disse o garoto, tombando a cabeça como se pudesse examiná-la melhor assim.

– Estou bem – dispensou Rebeca, apertando as mãos no colo na esperança de tentar esconder o sútil tremor que havia nelas. O frio desconcertante que embrulhava sua barriga desde que acordara tinha se intensificado quando chegara em Clanos, e a falta de notícias de Noah desde que ele havia atravessado o portal para a Cidade de Prata afim de buscar Calista só piorava sua crescente ansiedade, deixando-a profundamente angustiada.

– Você parece tudo, menos bem – apontou Lorenzo, olhando para ela com seus grandes olhos azuis e inquisitivos.

– Eles estão demorando demais – anunciou, por fim, notando como sua voz estava irregular. – Alguma coisa deve ter acontecido.

– Mas só fazem alguns minutos.

– Meia hora – ela corrigiu imediatamente.

– Está deixando o nervosismo tomar conta de você – disse o garoto com suavidade, soando como um adulto. Um constraste interessante com sua aparência. – Precisa se acalmar.

Rebeca mordiscou o próprio lábio.

– Mas...

– Tenho certeza de que eles estão bem, e de que você também vai ficar. – Ele determinou com a voz firme. Rebeca encolheu os ombros, dando-se por vencida.

Um pigarreio irritado a fez desviar o olhar para o centro da biblioteca, onde outrora a grande mesa de pedra ficava e onde agora Narisa verificava as velas aromáticas minuciosamente, procurando o menor dos defeitos. Ela havia criado um círculo intercalando candelabros e lampiões, seguindo as instruções que Hemuri lia em um grande livro de páginas amareladas. Era quase desconfortável ver alguém tão centrado e calmo quanto Narisa naquele estado, mordendo os lábios e esfregando as mãos incontrolavelmente.

Levias e Dalton não estavam ali. Hemuri tinha dito algo sobre eles estarem preparando alguma coisa para entregar ao Congresso, mas Rebeca não tinha prestado muita atenção para ter certeza do que era.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now