CAPÍTULO 10: Sorvetes e Apostas

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Você não pode estar falando sério – disse Rebeca, dando uma colherada generosa em seu sorvete de flocos.

– Nunca falei tão sério em toda a minha vida! – Garantiu Bianca com seu característico tom dramático. – Ben está totalmente, completamente, irrevogavelmente e infinitamente afim de você. Na verdade, afim nem é a definição correta. O mais certo é apaixonado mesmo! E ele está prestes a se declarar, então pode ir se preparando.

Rebeca soltou uma risada desacreditada. Benjamin DeFer apaixonado soava engraçado demais para ser real. Não conseguia sequer imaginar o garoto apaixonado por alguém – ainda mais se esse alguém fosse ela. Deixar esse sentimento externo então? Totalmente fora da realidade; Benjamin era cheio de si demais para fazer qualquer coisa semelhante a isso.

– Supondo que eu acredite nisso e deixando claro que não acredito, como você sabe dessas coisas?

– Connor não sabe manter a língua dentro da boca quando está bêbado, nem quando está sóbrio na verdade – ela riu. – E acredite ou não, eu digo a verdade.

Rebeca revirou os olhos e puxou a taça de sorvete para perto. Depois de fazerem o taxista dar algumas voltas sem rumo pela cidade, acabaram parando na Serendipity 3, a lanchonete e sorveteria que as duas frequentavam com os pais desde a infância. O cardápio continuava praticamente o mesmo daquela época, assim como o som característico do lugar: choro estridente de crianças birrentas misturado com o desespero das garçonetes que corriam de um lado para o outro anotando e levando pedidos. A única diferença era que, enquanto Bianca continuava com a tradição de arrastar os pais em alguns finais de semana para lá, Rebeca ia sozinha ou com Elisa.

Ela tinha usado o celular de Bianca para mandar uma mensagem para a tia e avisar que estava viva, e a mesma tinha respondido dizendo que tentaria acalmar a fera – mais comumente conhecida como Lilian Westgan – até que ela voltasse. Uma tarefa difícil, mas Rebeca decidiu confiar nela.

– Nós estamos perdendo o foco – disse Rebeca se ajeitando no banco. – Essa sua amolação com Ben pode esperar, bem diferente do meu assunto de emergência.

– Mas você ainda está nessa? Pensei que tivesse desistido de arruinar a vida do pobre garoto – disse Bianca com os lábios sujos de calda de morango.

– Pobre garoto? – Rebeca riu – Você não o conhece mesmo.

– Nem você – rebateu a loira – Ou se esqueceu de que só ficou sabendo da existência dele essa manhã?

Rebeca piscou e desviou o olhar para sua taça, que já beirava pouco menos da metade. Detestava com todas as forças mentir sobre qualquer coisa que fosse para Bianca – elas até tinham um pacto secreto de nunca mentir uma para a outra –, mas contar como e onde tinha conhecido Noah estava totalmente fora de questão.

– Esse não é o ponto, Bianca – resmungou sem ânimo. – Eu não quero um estranho me vigiando por aí.

– Mas talvez ter um Kevin Costner particular não seja tão ruim assim. Pensa, isso vai fazer sua avó ficar mais tranquila e é temporário. – Disse a loira pensativa. – Além de que o cara pode ser legal. Ele parecia legal pra mim.

Ela revirou os olhos. Podia classificar Noah como muita coisa, mas nada do que passava por sua cabeça chegava sequer perto de legal.

– Já tive um vislumbre de como ele é e acredite, não é nada agradável, então nem tenta.

– Eu nem disse nada! – indignou-se a outra fazendo-a rir.

– E precisa?

A loira revirou os olhos e a dispensou com um balançar de mãos. Rebeca suspirou.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now