CAPÍTULO 51: O Ritual de Iniciação

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Rebeca apertou os dedos trêmulos nos cotovelos. Mal podia ouvir os estalos dos passos apressados de Vanessa e dos outros quatro guardas que se agrupavam ao seu redor enquanto era conduzida pelos muitos corredores e escadas do Núcleo. Quase não enxergava o chão que se estendia em sua frente. Não sentia seus braços ou suas pernas e certamente não conseguia pensar em nada além da morte quase certa que estava esperando de braços abertos por ela.

Ela tinha cerca de oitenta por cento de certeza de que não faziam nem dez segundos que tinha se despedido de Noah, deitado a cabeça no travesseiro e fechado os olhos quando Vanessa irrompeu dentro do quarto, praticamente derrubando-a da cama com seus gritos incessantes. O estupor pelo sono somado ao pavor que se apoderou dela assim que despertou era tanto que ela não fazia ideia de como o vestido branco que estava usando tinha ido parar em seu corpo, ou quem tinha prendido uma fita branca com pequenos guizos prateados em seu cabelo, tampouco em que momento tinha calçado aquelas sandálias baixas que certamente não lhe pertenciam. Estava tudo confuso e embaralhado, como um perfeito quebra-cabeças.

O longo corredor escuro que eles percorriam desembocou em uma escadaria, que os levou para o que se assemelhava à um túnel que dava direto para o centro do Núcleo, de onde Rebeca já podia ouvir inúmeras vozes abafadas e sobrepostas. O sol ainda começava a dar os primeiros indícios de que logo despontaria no horizonte, mas, como era de se esperar, isso não tinha impedido que todos os Clanorians – e Inferiores curiosos que se esgueiravam aqui e ali – se reunissem para acompanhar o ritual, deixando todas as arquibancadas do Núcleo abarrotadas de gente.

– Acho que você não deve conhecer o termo espaço pessoal, Vanessa – a voz de Noah soou de algum lugar. Rebeca se colocou na ponta dos pés, vendo-o junto de Brian por cima do ombro da loira. – Mas seria muito útil descobrir agora.

A mulher mal se moveu.

– É minha responsabilidade manter a garota a postos para...

– Que seja – interrompeu Noah com a voz seca – Mas ela também precisa respirar.

– Cinco minutos, por favor? – pediu Brian, em um tom muito mais ameno que o outro.

Vanessa soltou uma lufada de ar, mas murmurou algo para os outros guardas, que finalmente saíram do arredor de Rebeca, montando guarda ao longo do túnel e dando a garota a sensação de ser um prisioneiro esperando no corredor da morte. Tentou afastar a morbidez, lutando para não deixar seu pessimismo triunfar sobre seus pensamentos.

– Oi – Brian murmurou, ensaindo um sorriso hesitante enquanto vinha na direção dela.

– Oi – sussurrou de volta, notando que estava tremendo, e não era de frio. Brian não demorou mais do que um milésimo para notar isso.

– Como você está? – perguntou o loiro.

Nervosa, apavorada, ansiosa, perdida. Ela teve vontade de despejar, mas não queria passar aqueles últimos minutos se lamuriando, pelo menos não em voz alta, então sacudiu a cabeça e abriu um sorriso seco.

– Sonolenta – disse, o que não era uma mentira. Suas pálpebras estavam pesando tanto quanto chumbo. Algumas horas antes, tinha decidido que ficar alguns momentos a mais do que deveria com Noah na sacada não seria um problema. Estava começando a repensar seriamente sobre aquilo. Ergueu o olhar para Noah que, diferente dela, parecia perfeitamente disposto e acordado. Rebeca se permitiu praguejá-lo um pouquinho quando ele a encarou de volta e abriu um sorriso divertido.

– Não teve uma boa noite de sono? – ele questionou, com um tom de voz que qualquer um que ouvisse pensaria que estava preocupado, mas Rebeca sabia que ele só estava tirando uma com a cara dela.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now