CAPÍTULO 12: Os Sábios

441 95 696
                                    

Passaram por mais dois corredores que o único diferencial do primeiro eram as portas fechadas que possuíam. Rebeca podia jurar que Noah, embora dissesse o contrário a cada dois minutos, não fazia a menor ideia de para onde eles estavam indo.

– Admita logo que estamos perdidos – ela provocou risonha. – Não vai te arrancar nenhum pedaço, sabia?

– Não estamos perdidos! – garantiu Noah mal-humorado.

– Pra mim parece que estamos – ela praticamente cantarolou.

Noah resmungou alguma coisa que ela não ouviu e, ao dobrarem a esquina do terceiro corredor, eles saíram em um tipo de sala de estar. A decoração seguia a mesma paleta de cores escuras dos corredores, variando para um vermelho um pouco mais vivo nos sofás e nas poltronas. Haviam cortinas grossas e escuras caindo em uma das paredes, encobrindo a janela, e um tapete cheio de formas e cores no centro da sala, que se dividia em mais dois corredores diferentes. Rebeca só percebeu o garoto que lia distraído no sofá quando Noah se aproximou dele.

– Ei, Lorenzo! – chamou Noah, fazendo o garoto gritar e saltar do sofá, assustado. O livro que ele lia despencou em um baque contra o chão.

O garoto, Lorenzo, girou para eles parecendo ter dificuldade em acalmar a respiração, uma das mãos pousada sobre o peito. Parecia ter a idade deles, talvez poucos meses mais novo. Era magricela e tinha cachos bagunçados e emaranhados em um tom de loiro queimado enfeitando o topo da cabeça. Rebeca sentiu alguma coisa tentando escavar o cantinho de sua consciência, causando um comichão incômodo, mas tão rápido quanto veio, se foi.

Os grandes olhos azuis celestes do garoto olharam de Noah para Rebeca quase que em pânico por dois segundos. As bochechas estavam extremamente vermelhas, deixando-o com uma aparência tão assustada quanto confusa. Rebeca não tentou se impedir de murmurar um "fofo" enquanto o observava.

– Eu entendo que minha aparência possa causar admiração e espanto pelo esplendor que ela possui, mas isso foi um pouco exagerado, não? – questionou Noah, pegando o livro de capa colorida do chão e o estendendo para o outro. – O quê é isso?

O garoto respirou fundo.

– Narisa disse que seria bom aprender mais sobre a literatura moderna dos humanos – ele resmungou timidamente, parecendo prestes a gaguejar, enquanto pegava o livro e o apertava contra o peito.

Rebeca franziu o rosto, reconhecendo o livro pela capa.

– Fala sério... Você está mesmo lendo Nicholas Sparks? – exclamou ela apontando para o exemplar de Um Amor Para Recordar que Lorenzo segurava. Ele o afastou do peito e encarou a capa antes de olhar para ela, ainda hesitante enquanto balançava a cabeça em concordância. – Como é que isso existe aqui?

– Não somos trogloditas – interviu Noah, revirando os olhos. – Alguém simplesmente foi na Terra e comprou.

Os olhos de Lorenzo pareceram brilhar.

– Você é aquela garota? A humana que os Sábios estão esperando? – perguntou ele.

Pela primeira vez, pensou Rebeca, a palavra humana não soava como uma ofensa ou uma maldição. Ela se viu simpatizando automaticamente com o garoto tímido em sua frente.

– Aparentemente, eu sou.

Ele sorriu, parecendo aliviado ao ouvir aquilo.

– Que meigo, os protegidos viraram amiguinhos – riu Noah – Narisa ficará emocionada. E, falando nela, onde estão os Sábios?

Lorenzo apontou para o corredor da esquerda.

– Biblioteca.

– Ótimo – disse Noah e lançou um olhar para Rebeca – Vamos?

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Onde histórias criam vida. Descubra agora