CAPÍTULO 27: Amargas Lembranças

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Não... – murmurou a menina, quase podendo enxergar o fiozinho de esperança que a tinha levado até ali se esfarelando e desaparecendo.

– Se é que posso perguntar, mas... O que você quer com minha irmã? – questionou Calista, curiosa.

Noah, percebendo que Rebeca estava muito ocupada se lamuriando, resolveu responder.

– Estamos tentando impedir um Ritual de Iniciação – disse e desviou os olhos para Rebeca. – E você deveria esperar um pouco mais antes de surtar.

– O que quer dizer com isso? – quis saber ela, virando-se para o garoto.

– Loreta facilitaria as coisas – respondeu Noah, quase aborrecido – Mas não é o elemento principal da história. Ainda é possível fazer o feitiço sem ela, só vai ser mais complicado.

Rebeca entortou a boca. Por que ele não tinha dito aquilo desde o início?

– Narisa quer fazer um dos feitiços primais – Calista murmurou para si mesma, recebendo um aceno positivo de Noah. – Nesse caso, tudo o que precisam é de alguém experiente nesse tipo de feitiço.

– Tem a Mila – murmurou ele, soando incerto.

– Mila? Está brincando comigo, não está? – Calista emitiu uma risadinha curta e debochada. – Aquela ali não sabe fazer nada além de mexer com plantas, boa sorte com isso.

– Você, por outro lado, parece entender bastante sobre isso – apontou Rebeca, fazendo sua melhor cara de "não pretendo chegar em lugar nenhum com essa conversa."

Calista remexeu os ombros e estralou o pescoço, abrindo um sorriso relutante.

– Nem tente, garota – ela disse – Eu fiz um juramento a dezesseis anos. Jurei por tudo o que mais me era sagrado que jamais voltaria a me meter em assuntos de Clanorians, e não tenho interesse em reverter isso, nem mesmo por você.

A mulher quase se parecia com outra pessoa agora, alguém muito mais relaxado e receptivo. Ela gesticulou para que os dois se sentassem no sofá enquanto ia até a velha poltrona, empurrando-a até que ficasse de frente para o sofá. Um pouco temerosa e ainda sentindo as costas arderem em dor, Rebeca o fez. Noah deu uma olhada desconfiada em Calista, que tinha se acomodado na poltrona, esticando as costas e relaxando os ombros, antes de se apoiar no braço do sofá e cruzar os braços.

– Você poderia abrir um exceção – Rebeca quase cantarolou, agarrando-se a possibilidade de poder contar com uma ajuda extra.

– E cruzar o caminho de Damion outra vez? Obrigada, mas eu passo. – Ela sacudiu uma mão diante do rosto como se afastasse a ideia.

Noah se inclinou no sofá, muito interessado no assunto.

– Outra vez? Você já se encontrou com ele? Quando foi isso? Como foi isso? – ele despejou tudo de uma vez, como se não pudesse se conter.

Calista cruzou as mãos no colo e desviou os olhos para uma caixa de papelão que estava largada ao chão.

– Eu estava lá naquele dia – ela se voltou para Rebeca, encarando-a quase sem piscar. – O dia em que Damion atacou sua mãe.

A menina a encarou de volta, sem saber como reagir ou o que dizer.

– O que você estava fazendo lá? – Noah questionou e era impossível ler a expressão em seu rosto.

Calista suspirou e lançou um fantasma de um sorriso triste para Rebeca.

– Eu ainda atuava como assistente de Loreta na época, e ela e sua mãe já eram conhecidas de longa data, tinham confiança uma na outra. Elas mantiveram contato enquanto sua mãe estava fugida e, um dia, Loreta apareceu dizendo que Natasha estava voltando e que precisaria de ajuda.

A Receptora - O Ritual de Iniciação (livro um) Where stories live. Discover now