Turbulência

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- Jack? – chamo novamente, mas ele parece perdido em seus próprios temores. Florence surge correndo, mas nem me olha assim como todos os outros presentes nessa ave metálica prestes a se despedaçar.

Solto meu cinto desesperada tentando me lembrar de algo que eu deva fazer, corro cambaleando até um funcionário.

- Ei com licença, o que está acontecendo? – pergunto num fiapo de voz e as mãos mais tremulas do que minhas pernas que lutam para me manter em pé. O funcionário nem me olha.

- Volte para seu acento e afivele seu cinto senhorita. – Atordoada com as constantes e bruscas turbulências do avião eu volto para meu acento. Meu coração erra as batidas assim que vejo que Jack sumiu, procuro por ele ao redor, mas começo a entrar em pânico completo ao perceber que junto a ele, as outras pessoas também se foram.

O avião treme violentamente e eu caio no chão. Me arrasto até o acento e me prendo a ele no exato momento em que espécies de sacos plásticos surgem do teto. Nos filmes as pessoas respiram naquilo então tento fazer o mesmo.

Jack surge da traseira do avião, pálido como o raio que acaba de rasgar o céu. Ele tenta correr em minha direção, mas antes que possa chegar seu corpo é arremessado para trás, eu sou jogada com força contra a janela e as coisas começam a cair.

Tudo gira em câmera lenta. Minha vida começa a fazer sua retrospectiva, todos os momentos surgem em minha mente, uma enxurrada de memórias. Jack e eu, meus pais, irmãs... Joseph, o velório depois o sequestro. O casamento que não vou ter, filhos, bailes... tudo.

Pela janela vejo os raios, as nuvens negras, o avião despencando mundo a baixo.

- Não! – grito em profundo desespero.

- Allice!? – abro os olhos desesperada e dou de cara com Jackson me olhando preocupado. Olho ao redor e tudo está normal, nada caindo ou plásticos no teto. Tudo calmo e em seu devido lugar. -Allice, o que aconteceu? – me viro para ele e apenas me deixo chorar em seus braços, foi tão real...

- Você sumiu... aí a Florence não me viu... ele caiu... plástico do teto... a gente ia morrer!  - Choro feito criança, ele fica sem reação no início, mas logo me envolve em seus braços e afaga meus cabelos.

- Foi só um pesadelo, meu amor. Está tudo bem, estamos todos bem.

- Foi tão real... – Ele me segura mais firmemente. Eu apenas fico ali tentando regular minha respiração e meus batimentos descompassados.

- Já passou meu amor, estou aqui com você. – Ele deposita um beijo em meus cabelos e levanta o encosto de braço que fica entre a gente, nos permitindo se aproximar mais. Coloco as pernas sobre o banco e fico ali encolhida em seus braços.

Ficamos em silêncio. Meu corpo vai relaxando com o tempo, e vou voltando ao normal. Olho pela janela e o céu está estrelado sem nenhum sinal de tempestade, sem nenhum sinal de morte.

- Acho que estou melhor. – Digo sem sair do lugar.

- Dentro de mais algumas horas já estaremos chegando em Stormiland. – Sinto que ele ainda está preocupado, mas não sei o que dizer para tranquiliza-lo.

- Que tal falarmos do noivado? – Sugiro e sei que ele entendeu que estou tentando mudar de assunto e agradeço por ele não insistir no antigo tema.

- Eu terei que anunciar ao vivo. – ele se ajeita na poltrona – Mas antes preciso eliminar todas as outras selecionadas para que fiquem apenas duas.

- Você já sabe quem vai ser a outra? – pergunto esbanjando curiosidade e sinto seu peito chacoalhar com sua risada.

- Não me importo com quem será, desde que você roubou meu coração eu não tenho mais me importado com mais ninguém além de você. – sorrio corando, ainda bem que estou com o rosto virado para o lado. – Mas acredito que meu pai quem vai escolher a outra. Depois que restarem só vocês duas, eu devo contar a vocês quem eu escolhi e então depois irei anunciar ao reino.

Princesa?Eu?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora