40 | Ainda não estou surda.

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B l a i r

"Blair."

Viro o meu tronco para o puder encarar. O meu coração batia descontroladamente enquanto as minhas mãos tremelicavam, já com possíveis situações futuras na minha mente. O seu ar emproado, cheio de arrogância e altivez, era apenas um disfarce dos seus verdadeiros sentimentos. Eu, infelizmente, conheço-o demasiado bem para acreditar que ele está bem com toda esta situação.

"Diga, Mr. Malik."

O seu lábio inferior de Zayn é mordido lentamente com o tom trocista inesperado que usara para lhe falar. Esboço um pequeno e hesitante sorriso sínico quando me apercebo do controlo que ele estava a exercer sobre si próprio para não dizer ou fazer algo inapropriado. Não eramos apenas nós que nos encontrávamos aqui, por isso, ele iria ter que ser cauteloso com o tipo de linguagem e com as referências.

"Eu precisava de falar com a menina. Em particular, de preferência."

Niall, provavelmente confuso, coloca o seu olhar em mim já com possíveis intenções de me abandonar. Eu não iria deixar que ele controlasse as pessoas à minha volta, inclusive eu, desta forma.

Eu não quero ter mais nada a ver com Zayn, ainda que os meus sentimentos por ele contradigam esta afirmação. Inclino a cabeça para o lado e delibero continuar a testá-lo. Eu gosto de exceder o limite e irei provar-lhe que nada em mim mudou. Irei provar-lhe a ele e irei provar a mim própria.

"Decerto que não tem nada que não possa dizer à frente do meu amigo além de, claro,assuntos relacionados com as aulas."

É assim mesmo, Blair. Digo a mim própria com um assenti de cabeça e orgulhosa do meu feito.

Todavia igualizar Niall, um mero conhecido, como algo acima disso fora algo que me fizera arrepender interiormente. Argumentando para mim própria de que se tratara de um impulso, decido não fazer grande caso.

Zayn dá um passo em frente, aproximando-se mais de nós os dois, sem sequer se mostrar receoso ou intimidado. Niall, notoriamente envergonhado com a situação, dá um passo para trás. Os meus olhos estavam focados nos de Zayn e tentava a todo o custo não demonstrar a minha vulnerabilidade. Eu não irei mais submeter-me à tristeza e deixar-me ser controlada por este maníaco.

"Se fosse sobre as aulas eu não teria problemas mas consta que não é."

O duelo estava renhido e estava a ser difícil pensar em algo para me conseguir escapar do seu controlo. Havia muitos estudantes em nosso redor, ainda que tivessem as suas atenções colocadas em outra coisa. Niall retoma a sua posição e decide fazer-se ouvir.

"É melhor eu ir andando, Blair..."

"Não, Niall, não precisas de ir." Eu digo determinada e volto a colocar a atenção em Zayn, tentando acabar com esta conversa imprevista. "Sobre que é, então?"

"É sobre a sua mãe. Ela pediu para lhe dar um recado e tenho que cumprir com a minha obrigação, não é verdade?"

Zayn meio que dá uma gargalhada para tentar libertar este pesado ambiente ainda que se tenha notado a légua a falsidade da mesma. A forma formal como ele me trata faz-me remoer por dentro de raiva. A contradição em mim faz-me desesperar e admito ter receio de enlouquecer. Eu quero-o junto ao mim e, ao mesmo tempo, quero distanciá-lo. Eu quero sofrer sem me magoar deste modo. Nada dentro de mim faz sentido.

"Blair, fala com o senhor que nós depois encontramo-nos. Além disso, ainda temos que combinar melhor aquilo."

Niall beija-me o meu rosto de forma calma e delicada e sorrio quando as suas mãos se despedem de mim com uma pequena caricia na minha bochecha. A forma distante como ele separou a posição de professor e aluno fora algo que me deixara incomodada mas, se não estivesse tão dentro desta situação, provavelmente concordaria com ele e sem querer estranharia a forma como ele o tratou. Senhor.

O rapaz loiro é, sem sombra de dúvidas, um rapaz muito querido e sei que a forma como se despedira de mim não fora nada de mais para ele. Acho-o, em vários aspetos, muito parecido comigo ou, pelo menos, com quem eu costumava ser.

"Aquilo o quê?"

Zayn torce o nariz assim que Niall nos abandona. Os seus braços cruzam-se na zona do seu peito e consigo notar o quão tenso ele se encontra. Deixo um suspiro escapar por entre os meus lábios, secos do tempo inconstante, e coloco o peso numa só perna, batendo com a outra constantemente no chão. Nego com a cabeça, não lhe querendo fazer revelar a informação.

"Eu fiz-lhe uma pergunta."

"Eu sei que fez. Ainda não estou surda."

"Então responda-me."

"Vamos sair. Os dois."

"Tu não vais."

Uma expressão de desentendimento pinta o meu rosto e imobiliza o meu corpo. Ele não podia insinuar aquilo. Ele não pode controlar aquilo que eu faço ou deixo de fazer. Ele não pode controlar as minhas ações.

Quem é que ele pensa que é insinuar tal coisa?

"Não vamos falar aqui. Segue-me." Zayn ordena de forma fria e com uma expressão sisuda esboçada.

Após as suas atitudes, não tenho qualquer intenção em o seguir. Não quero pois consigo prever que se o fizer e, com ele neste estado, as culpas irão cair todas para cima de mim e irão acabar por me magoar. Nos dois sentidos.

Zayn começa a andar calmamente e estou quase certa que ele esperava que eu também o fizesse. Contudo, acabo por lhe virar costas, não concretizando o que me requeria. Assim que ele se apercebe que eu teimara em assumir a minha posição, volta para trás. Sorrio mais uma vez de forma cínica quando ouço a sua voz pronunciar o meu nome. Eu havia resistido à sua ordem.

"Blair. Eu disse para me seguir."

"E se eu não o fizer? Vai bater-me para se sentir superior?"

"Se for preciso eu faço-o mas não irá ser para eu me sentir superior. Irá ser para você aprender a lição."

"Então faça-o. Desafio-o a fazer aqui, em frente a toda a gente."

"Não me provoques, Blair."

A sua forma de tratamento, desta vez informal, obrigara-me a fazer uma análise à situação. A infantilidade fora o meu único recurso como forma de troça do seu comportamento e estou quase certa que ele não irá achar nada agradável.

"Mr. Malik pede para eu não o provocar. Ele franze a sobrancelha. O seu ar está pálido, prestes a rebentar de raiva. Ela suspira como se não houvesse amanhã. O seu olhar revira-se com a impaciência. Vai a falar, vai a falar, vai a falar..."

"Blair."

"Golo!" Eu exclamo prolongadamente semelhante aos locutores das rádios ligadas ao futebol.

"Blair, eu quero falar contigo. Eu quero resolver as coisas." A sua mão agarra discretamente no meu cotovelo, forçando o meu corpo a aproximar-se do seu. A dor percorre o meu corpo devido ao desconforto que ele me estava a proporcionar e olho-o nos seus olhos que espelhavam raiva e desespero.

"Eu não vou falar contigo, Zayn. E se não me largares em três segundos eu irei contar à minha mãe tudo o que se passou nas suas costas."

Zayn decide não arriscar e acaba por soltar o meu braço. Todavia, a distância entre nós permanece.

Levo a mão do meu braço oposto até à zona magoada e massajo lentamente de força a atenuar a dor.

"Tu não eras capaz disso, Blair. Eu conheço-te bem e sei que tu não irias dar uma desilusão dessas à tua mãe."

Olho-o e sorrio de forma cínica feita a sua provocação. Mordo o lábio para tentar acabar com o sorriso e mostrar uma expressão séria. Teria que mentir para o afastar de mim. Teria que mentir para me manter segura, para me manter estável. E se essa for a solução, há que fazê-lo, há que arriscar.

"Tens razão, não era capaz de lhe contar sobre nós mas eu sou bem capaz de dizer que te vi com a Catherine Smith em grandes preparos, se é que me faço entender." Para além de ter conseguido a confirmação que tanto desejava, sobre Zayn se ter envolvido com a 'pãozinho sem sal', acabara ainda por entender que ele ficara mal perante a minha confrontação. "Por isso, Zayn, não me testes tu a mim porque o teu emprego, à mínima coisa que faças, pode acabar."

Toxic 》 malikWhere stories live. Discover now