37 | Isso só acontece nos livros.

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Z a y n

O seu olhar esteve distante a aula toda. Podia jurar que o mesmo fixava e, ao mesmo tempo, admirava o exterior que podia observar através da janela, que se encontrava a seu lado. O seu cabelo, perfeitamente esticado, davam vida ao seu rosto angelical. Ela estava bem ainda que eu soubesse que tudo não se passava de um ato falso e ilusório.

Quando, por vezes, passava por ela para me dirigir a um universitário duvidoso, conseguia sentir o seu agradável aroma, que mais tarde vim a confirmar ser o do meu perfume favorito. Recordações dos dias em que ela se levantava primeiro para se arranjar invadiam a minha mente e destruíam-na com a infelicidade e com a nostalgia. Contudo eu tentava tomar controlo dos meus sentimentos e esconder as saudades que eu sentia do seu toque, do seu sorriso, dela.

Os meus alunos olhavam o powerpoint que eu trouxera sobre a fotossíntese. Devido à dificuldade desta matéria, e tendo em conta a sua relevância, resolvi insistir para confirmar se esse assunto havia ficado bem consolidado.

"Ainda ninguém me respondeu à pergunta." Insisto num tom impaciente e cheio de frustração, frieza. "Qual dos gráficos, representados no diapositivo, mostra que o comprimento de onda das radiações permite uma maior intensidade na fotossíntese?"

Todos os olhares estavam fixados no diapositivo que era projetado no quadro interativo. Ninguém parecia saber resolver o exercício dando-me, por isso, a entender que houvera pouco trabalho e esforço das suas partes para a frequência. Blair nem sequer prestava atenção. Ela apenas deixava um suspiro escapar por entre seus lábios secos, enquanto intercalava a visão do exterior com alguns rabiscos do seu caderno.

"Isto saiu quase igual na vossa frequência. Se vocês não estão a conseguir revolucionar agora este exercício, tão básico e simples, consigo concluir que, ou não entenderam nada desta parte da matéria ou então não a estudaram."

Posso afirmar que o toque de saída fora o que os salvara de uma confrontação e intimidação proveniente de mim. Já estava preparado para os alertar e os aconselhar a estudar, ainda que de modo pouco ou nada simpático. Eles têm que tomar consciência que as coisas na vida só vão dificultando e que para alcançarem os seus objetivos é preciso trabalharem no duro.

O meu fim de semana fora calmo ainda que cheio de perguntas carregadas de preocupação por parte da minha mãe. Não estava com grande disposição para conviver com as minhas irmãs e tivera que me desculpar por isso mesmo na hora da despedida. A minha irmã, Safaa, abraçara-se a mim com muita força e sussurra-me a meu ouvido palavras doces de conforto. Tão nova e tão sábia. Apenas desejava que a minha família tivesse estabilidade e alegria.

"Podem arrumar e sair. Quero a resolução do exercício na próxima aula nas minhas mãos." Eu digo, com uma postura correta.

Assim que olho para a minha secretária, reparo na confusão que se encontrava em cima da mesma. Neste preciso momento não desejo muito ir para a sala dos professores e conviver com os meus colegas. É sempre uma confusão e admito ainda não me enquadrar muito bem entre os docentes. Talvez pela grande diferença de idades.

Olhar para Blair é doloroso. É estupido quando duas pessoas se amam e não se falam. Ambas têm o coração acelerado, ambas sentem o seu corpo tremer e implorar por contacto, ambas sentem aquele nervosismo na barriga, ambas sentem a necessidade de ouvirem e de serem ouvidas. No entanto ambas se afastam como se fossem meros desconhecidos, como se não tivessem nenhuma história por detrás de tudo.

Gostava de saber amá-la da forma como ela merece. Gostava de não ser tão inibido e de não ocultar tanto os meus sentimentos. Gostava de não estar constantemente a errar e conseguir saber o verdadeiro significado do amor. Significado esse sem dor, sem malícia.

Toxic 》 malikWhere stories live. Discover now