34 | Pareces-te tanto com a tua mãe, Blair.

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▕  B l a i r

 A escuridão do quarto cega os meus iludidos olhos assim que acordo. O calor não era muito mas fora eu que propusera esta solução. As minhas mãos mornas agarram as beiras do meu cobertor para me aconchegar melhor.

 No dia em que implorara a minha mãe para vir uns dias para casa dos meus avós, ela mostrou-se incompreendida e posso até afirmar que se mostrou ligeiramente preocupada. Eu não referi na altura o que Zayn me fizera pois, contrariamente ao que qualquer pessoa no meu lugar o faria, eu não o quero por em jogo. Não é fácil prejudicar alguém de quem se gosta verdadeiramente, por isso, a minha posição não é algo compreensível, inversamente ao que muitos possam pensar.

 A minha mãe mudara um pouco a sua postura para comigo, ligando-me agora diversas vezes ao dia. Eu, honestamente, dispenso a sua atenção em momentos como estes pois sinto que tudo o que necessito é de espaço e tempo. Quero pensar com clareza sobre todos os sucedidos nestes últimos dois meses e meio. Quero pensar com clareza sobre todas as minhas atitudes, refletir se todas elas foram corretas e quero igualmente pensar onde é que eu errara.

 É quase impossível não carregar com o peso do arrependimento sobre os meus ombros. O peso é realmente excessivo chegando quase a desequilibrar-me e a humilhar-me perante uma multidão de críticos que esperam sempre o melhor de mim. Metaforicamente falando, claro.

 Eu própria esperava mais de mim. Eu sei que tenho uma personalidade muito despreocupada e extrovertida (muitas das vezes derivada do défice de atenção) mas gostava de mudar. Eu não gosto de quem sou.

 Existem aquelas pessoas que no ano novo se mentalizam que o ano seguinte irá ser melhor porque a passagem de ano é um incentivo para mudanças. Perante todas as minhas experiências posso afirmar que a passagem de ano é apenas para celebrar o período de translação da Terra. Nós, humanos, não mudamos. Pelo menos não temos mudanças radicais como aquelas que nós desejamos nos nossos pensamentos mais remotos. Nada em nós muda completamente e seria um choque se, de um dia para o outro, isso acontecesse. Assim como por exemplo, eu não posso simplesmente chegar à escola com outro estilo de roupa, com outra forma de falar, com outra personalidade porque isto é quem eu sou realmente e, por mais que eu tente, não posso alterar nada.

 "Oh, já estás acordada."

 O meu avô comenta quando abre ligeiramente a porta do meu quarto. A luz que habitava o corredor logo tentou alcançar o mais que podia do chão do meu quarto, quase alcançando a minha cama. Felizmente, o meu corpo continuava escondido pela imensa sombra.

 "Já..."

 "Vamos comer. A avó fez o teu prato favorito."

 "Eu não tenho fome mas obrigada, avô."

 Nisto, o homem de certa idade, por quem eu tenho uma grande admiração e consideração, abre ligeiramente mais a porta e caminha até mim. Mordo o meu lábio com receio que ele visse o estado lastimável em que ainda me encontro, mas esforço-me por lhe mostrar um sorriso.

 Estou aqui há três dias e é muito raro sair da cama. Uso diversos pretextos para me manter aqui sozinha e o mais usual é a indisposição. O meu avô senta-se na beira da minha cama e leva as suas mãos rígidas e rugosas até à minha bochecha onde a acaricia de forma natural e carinhosa.

 "Pareces-te tanto com a tua mãe, Blair."

 "Sim, nós somos parecidas."

 É um facto que toda a gente afirma observar parecenças entre mim e a minha mãe e é normal que sejamos parecidas visto que ela é a minha progenitora. Contrariamente ao que muitos dizem, eu não concordo. Tirando o pormenor do cabelo, negro em ambas, e os nossos lábios não consigo notar mais nenhumas semelhanças.

Toxic 》 malikWhere stories live. Discover now