54 | Inacreditável...

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B l a i r

"Agora que já viste a mensagem, podes fazer o favor de te sentar?" A minha mãe inquere com um ar aborrecido, demonstrando já estar quase a alcançar o seu limite de tolerância.

Mordisco o meu lábio inferior, com um nervoso incómodo em mim, e nego com a cabeça, pouco capacitada. Algo parecia aprisionar os meus pés ao pavimento frio da divisão, não me deixando, por isso, mexer. Zayn estava na base de todos os pensamentos e os mesmos encontravam-se carregados de preocupação e de tristeza.

"Desculpa se não tive a oportunidade de falar mais contigo mas a verdade é que as coisas não estão fáceis cá em casa. O que deviam ser breves segundos dão a sensação de horas e o que devia ser um bom ambiente familiar está a cortar-me a respiração de tão sufocante que está.

A minha irmã mais nova teve uma recaída novamente mas, desta vez, as coisas estão muito mais graves do que fora em casos anteriores. O seu cancro está a alastrar-se tão rápido pelos seus outros órgãos que não me resta nada mais além de receio de a perder. As esperanças dos médicos são mínimas, isto é, se realmente existirem.

Estou há duas noites sem dormir e tudo aquilo que eu mais quero é a felicidade da minha irmã. Queria que estivesses aqui para me abraçares e sussurrares aquelas palavras meigas e acertadas que só tu consegues pronunciar nos momentos certos, Blair. Tudo está de pernas para o ar e, como se não bastasse, o meu pai voltou, trazendo consigo uma cara carrancuda como se todos lhe devessem e ninguém lhe pagasse.

Ele culpa a minha mãe de negligência pois acha que cuidar de alguém canceroso é fácil. Honestamente, estou a chegar ao meu limite e não sei como irei aguentar isto tudo. Eu só quero chorar, Blair.

Aproveitei agora que cheguei a casa para te mandar mensagem pois estive dois dias no hospital sem o telemóvel. Espero que compreendas a minha ausência, beijinhos.

Amo-te."

Zayn - 13h28

Quantas não foram as vezes que ele me falava da sua pequena menina, daquela que ele tanto queria proteger. Ele falava incansavelmente dela e admitia com grande orgulho que era por ela que ele se esforçava, que era por ela que ele se movia. A ambição que ele tinha em vê-la melhor, em ajudar financeiramente nos tratamentos dela deve ter sido, muito provavelmente, arrancada forçosamente e de forma tortuosa do seu corpo após ter recebido a notícia. Sei que nunca conheci a sua pequena irmã, de quem ele tanto falava, mas eu quero muito estar lá para ele.

"Blair, estás-te a fazer de surda? És capaz de me obedecer e de te sentares à mesa?"

"Sim, claro. Desculpa..."

Uma imensidão de culpa recai, metaforicamente, sobre os meus ombros por ter pensado que todo este seu eu afastamento se devia a um feito meu. Eu fora realmente egoísta ao ponto de ter este tipo de pensamentos. Estava errada por só me estava a focar em mim e estava errada por ter esquecido todas as outras situações complicadas que revestiam o mundo sério de Zayn.

"Fico muito triste por saber isso, Zayn. Eu tenho a certeza que tudo irá ficar bem, não penses no pior. Eu gostava muito de aí estar mas pouco ou nada poderei fazer relativamente a isso, infelizmente. Não sejas negativo, a tua irmã vai ficar boa depressa."

- 13h32

Sento-me novamente na mesa, colocando o olhar na minha meia-irmã e pouso o telemóvel na minha beira. Desculpo-me uma vez mais, ao homem charmoso da casa dos cinquenta anos e à jovem de cabelos curtos, por ter interrompido a refeição e coloco o olhar na televisão que nos notificava com as desgraças do mundo.

Toxic 》 malikWhere stories live. Discover now