35 | A minha mãe mandou-te beijinhos.

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B l a i r

Os minutos passavam tão vagarosamente que podia facilmente ser considerado tortura. Tenho que ser verdadeira e admitir o quão mau se encontra o meu cabelo. O mesmo tem um brilho sujo, devido à oleosidade, e é em momentos como este que eu gostava de ter um cabelo encaracolado, seco.

Autorizei Elaine em vir até a casa dos meus avós visto que ela não parava de insistir que me queria ver. Ela dissera-me que estaria aqui por volta das quatro e meia, visto que tem aulas até às quatro. Pedira à minha avó que, assim que a minha meia-irmã chegasse, a fizesse vir até ao meu quarto. Eu estaria mais à vontade se tivesse pedido ao meu avô mas ele, normalmente, passa as manhãs e as tardes na loja que tem numa rua antiga aqui da cidade. Admito ter uma melhor relação com o meu avô devido a um passado alegre que ambos compartilhamos. Ambos temos uma personalidade muito alegre e é por isso que nos damos tão bem. Já a minha avó tem um feitio muito carrancudo, completamente oposto ao meu. De qualquer das formas é compreensível visto que a minha mãe tinha que herdar o seu mau-humor de alguém.

Ainda faltava o fim de semana passar para eu regressar à normalidade e, agora que reflito sobe isso, questiono-me qual é essa normalidade que eu tanto ambiciono. Já era tão habitual a minha relação com o Zayn que, para mim, essa é que era a minha rotina, a minha verdadeira normalidade.

O estranho toque polifónico do meu telemóvel acaba por soar e quase que já esperava que isso acontecesse. A minha mãe, antes do almoço, havia-me informado de que teria uma reunião importante, por isso, já estava a contar que assim que a mesma acabasse, ela me ligasse para saber notícias de mim. Não a queria ter preocupado tanto e, agora que penso claramente, envergonho-me do estado em que me colocara por causa daquele monstro.

"Olá, Blair. Já lanchaste?"

"Ainda não. A avó deve estar a fazer alguma coisa agora mesmo."

"A Elaine. Chegou?"

"Não. De qualquer das formas vou esperar por ela para lanchar."

"Fazes bem, Blair. Ela. Quase a."

O ruído de fundo era realmente incomodativo e, no fundo, acabava por me impedir de entender a cem porcento o que a minha progenitora dizia. Ela deve se encontrar, provavelmente, a atravessar o corredor que dá acesso ao seu gabinete privado. Essa é a zona onde se verifica maior agitação devido ao facto de ficar perto da entrada da instituição. Até agora, ainda fora conseguindo compreender o que ela me estava a tentar transmitir, pelo sentido e pelo tema da conversa, mas desta vez, fora-me de todo impossível.

"Desculpa, o quê? Podes repetir?" Eu questiono-lhe.

"Estava a dizer, A Elaine deve estar quase a chegar."

"Ah, sim, ela deve estar a caminho."

"Fico mesmo feliz. Te dês bem com ela."

"Sim, a ela é realmente simpática. A princípio estava um pouco de pé atrás com a ideia mas agora, depois de a ter conhecido, acho que nem é assim tão mau."

"Ainda bem que achas isso, a sério, Blair. Bem, vou ter de ir fazer a ata da reunião. Eu depois ligo-te, sim?"

Esboço um pequeno sorrio, como forma de cumprimento, ao ver que Elaine já se encontrava na mesma divisão que eu. A rapariga de cabelos curtos está de braços cruzados e com o seu corpo magro encostado à borda de maneira da porta, também com um sorriso no rosto. Esforço-me por demonstrar, através de gestos, que me encontro ao telemóvel e esta, quando compreende, assente com a cabeça e mostra a palma da mão, comprometendo-se com isso a esperar. Felizmente a conversa com a minha mãe estava prestes a acabar.

Toxic 》 malikWhere stories live. Discover now