51 | Tu andas a fumar o quê mesmo?

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B l a i r

A minha casa. Já nem reconheço os cantos da mesma pois é-me difícil recordar a última vez que cá estivera. O meu pai não conseguira guardar segredos da esplêndida notícia, quando eu lhe ligara a informar da minha única, ainda que excelente, nota à cadeira de Biologia, e conta-me que regressaria amanhã para Inglaterra, com a intenção de passar, pelo menos, o Natal comigo.

Tenho a certeza que o meu bondoso progenitor ficara sem ouvidos após escutar os meus guinchos histéricos. Não cabia em mim de contente após a notícia, pois, já há alguns meses que não estava com ele. As saudades contraiam cada vez mais o meu coração, com o passar dos segundos, como se de uma plasmólise se tratasse.

Sou tão inteligente que até utilizo termos de Biologia para descrever sentimentos, amem-me.

Devido ao divórcio dos meus pais, tenho duas casas mas, infelizmente, esta, pertencente ao meu pai, não fica na mesma cidade onde me encontro a tirar o curso. Tive de, por isso, fazer uma longa e cansativa viagem de comboio até aqui chegar. Planeio tirar a carta nas férias de verão, isto se a minha mãe concordar com tal proposta e se se disponibilizar para pagar as aulas de condução.

Lamento, progenitora, por ser tudo menos poupada.

O interior do comboio tinha um ambiente sufocante de tantas pessoas que levava. Todavia, elas iam abandonando o transporte público à medida que o mesmo fazia as suas habituais paragens. Nenhum rosto me era familiar mas também não me atrevera a analisar detalhadamente as pessoas que dividiam o mesmo espaço comigo, portanto, não é algo que possa afirmar com clareza.

Segui o meu caminho sossegada, algo pouco comum em mim, ao mesmo tempo que admirava a paisagem que corria apressada através do vidro. Enquanto isso, dava uma total atenção e importância às minhas duas companhias, a solidão e o silêncio.

Chamei um táxi assim que me posicionei à frente da velha, ainda que bonita, estação de comboios e aguardei pelo menos durante uns vinte minutos. Ninguém, naquela altura, mostrava disponibilidade para responder às minhas mensagens sendo, por isso, obrigada a escutar música para que o tempo não demorasse tanto a passar.

Deito-me no sofá, assim que me descalço, e, após me embrulhar numa manta grande e acolhedora, mudo os canais televisivos, completamente aborrecida, em busca de algo interessante para assistir. Ainda ninguém me havia respondido às mensagens, toda a gente parecia estar demasiado ocupada. A imensa escuridão da noite transbordava pelas ruas e, aquilo que aparentava ser o começo das férias, era apenas o começo de um tempo entediante visto que não havia nada de atrativo para fazer na cidade além de acompanhar as senhoras complexadas nas suas caminhadas de emagrecimento.

Estou enclausurada numa cidade fantasma, ajudem-me!

O programa de culinária parecera-me, até ao momento, a única coisa interessante a dar a estas horas da noite. O meu jantar fora unicamente o iogurte e o pão que a minha mãe me obrigada a trazer visto que ela já sabia que o frigorífico daqui de casa se encontrava vazio.

Agora, se me dão licença, vou morrer de fome até amanhã.

Uma chamada inesperada faz o toque o meu telemóvel soar num volume muito elevado, acabando logo, de imediato, com o meu momento dramático. Imponho ao meu corpo preguiçoso que se mexa para alcançar o telemóvel e atendo num abrir e fechar de olhos ao ver que de quem se tratava.

"Olá, princesa da minha vida e razão da minha existência." Zayn pronuncia do outro lado do telemóvel, num tom baixo, deixando-me completamente enojada com as suas palavras repletas de mel.

Toxic 》 malikWhere stories live. Discover now