55 | Pronta para o ano novo?

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B l a i r

O tecido, leve e cor de pérola, do meu vestido raspava docemente na minha coxa, não tendo um comprimento suficiente para chegar aos meus joelhos. O meu cabelo estava atado, algo bastante raro em mim, expondo os meus ombros magros e largos, assim como os meus ossos bastante salientes da zona do pescoço. Eu estava estranha visto que não conseguia sorrir sem ter um ar preocupado. Os meus pensamentos baseavam-se em Zayn, na sua situação para se mais específica, ou então baseavam-se no facto de a minha mãe, em menos de vinte e quatro horas, ter ficado a par de tudo o que se sucedera nas suas costas.

Coloco uns fios negros de cabelo, que não conseguiram ser capturados pelo meu bonito elástico negro, atrás da orelha e deixo o ar escapulir-se por entre os meus lábios carnudos, muito mais vistosos após lhes ter passado um pequeno e discreto gloss.

O ano novo está prestes a começar e, muito honestamente, nada me dava mais prazer do que passar essa celebração na cama, a ouvir as minhas músicas favoritas. Sem promessas ou desejos futuros, apenas a escutar as melodias marcantes das minhas bandas prediletas.

"Blair?" A voz de Elaine soa por detrás da bonita porta, e recentemente pintada de branco, após um bater calmo na mesma. "Posso entrar?"

"Claro..." Afirmo, sem uma coragem que me valesse para prosseguir com mais palavras.

Assim que a porta se abre, observo a minha meia-irmã com um grande sorriso e com um ar deslumbrante junto da mesma. Os seus óculos haviam sido substituídos, muito provavelmente, por umas lentes de contacto dando-lhe com isso um ar bastante diferente, para melhor, é claro!

"Tu estás linda, Blair!" Elaine complementa-me enquanto caminha na minha direção. O seu braço envolve a minha cintura e ambas nos olhamos ao espelho. O seu vestido é ligeiramente mais comprido que o meu ainda que seja mais aparatoso tendo em conta o tecido florido de que o mesmo é feito.

"Tu também estás."

"Pronta para o ano novo?"

"Parece-te?" Questiono, meia sarcástica, com o meu olhar baixo.

Os seus lábios beijam o meu rosto e a sua cabeça encosta-se na minha como se de um ato de compaixão, compreensão, se tratasse. Entendo a sua ânsia para fazer menção do assunto relativamente a Zayn visto que nós ainda não havíamos tido a oportunidade ideal para falar. Sei que ela está mesmo prestes a perguntar-me mas, também, mais tarde ou mais cedo acabaria por o fazer de qualquer das formas.

"A tua mãe vai mesmo despedi-lo?"

"Eu não sei, Elaine, mas eu tenho tanto medo."

Encaminho-me até à cama e sento-me na beira da mesma com as mãos pousadas em cima das minhas pernas. Nego com a cabeça, ainda incrédula que a situação tenha realmente acontecido e dou de ombros procurando uma forma simples de explicar o meu ponto de vista, o que eu realmente pensava relativamente a toda esta circunstância.

"Eu não me arrependo do que fiz com ele, entendes? Nunca pensei que este sentimento fosse, algum dia, ser tão sério como é hoje, é um facto que tenho que admitir, mas também não voltava atrás em nenhum momento passado. Além disso, ele agora está muito mal e este meu descuido só acabará por prejudicar tudo pois sei que ele não irá estar com vontade de falar de algo tão insignificante com a minha mãe quando tem a irmã no estado em que está atualmente..."

"Eu compreendo que esta pressão toda não vá ser fácil para Zayn mas, espera, tu achas mesmo que és insignificante para ele?"

Um silêncio incomodativo acomoda-se no meu quarto, imobilizando-nos às duas por completo. A única coisa que faço é encolher os ombros pois não entendia de verdade a sua pergunta, quero dizer, é óbvio que eu sou insignificante para ele. Não sou eu, uma rapariga de dezanove anos que irá revolucionar a vida de um homem de vinte e cinco anos. Ainda que ele me ame hoje, amanhã pode não sentir o mesmo e eu, da forma insana como sou, entendo que ele acabe por se encher de mim. Se até acontece com a minha própria mãe, porque não há de acontecer com ele?

Apenas me estou a precaver para o pior, para que a queda não seja tão grande.

"Blair, tu és louca, só pode! É claro que tu não és insignificante para ele, nem nunca duvides disso!" Elaine exclama, após se abaixar à minha frente, abando ligeiramente o meu corpo numa tentativa de me chamar à razão. "Nunca nenhum adulto com uma vida já encaminhada, motivado como ele estava a ganhar dinheiro para ajudar a sua irmã cancerosa, deitaria tudo a perder por uma simples rapariga universitária como tu."

"O que queres dizer com isso?"

"O que eu realmente quero dizer com tudo isto é que tu, para ele, não és uma simples rapariga com quem ele gosta de passar um mero tempo. Ele não deitaria tudo a perder por uma rapariga qualquer e, se o está a fazer por ti, não devias duvidar dos seus sentimentos ou, pior, fazer o que estavas a fazer e rebaixar-te por seres de determinada maneira."

"Elaine..."

"Eu sei que não o conheço mas, Blair, o que vocês tiveram até agora deve ter sido algo muito sentido e não apenas uma mera diversão. Por isso, não te deixes afetar pela distância e continua a pensar na forma como vocês eram antes destas férias se terem iniciado."

Abraço a pequena e bela rapariga que se encontrava à minha frente e reconforto-me nos seus braços e no seu ombro, como se se tratasse de uma forma de agradecimento pelo excelente conselho que havia acabo de me dar. Sei que me distanciara de todos os amigos que havia feito até o secundário e, como tal, estava limitada agora. Contudo, Elaine, Samantha e Louis sempre se mostraram disponíveis em ouvir-me e até ao momento não tenho nada a apontar-lhes, ou seja, não tenho razão de queixa deles.

"Já contaste ao Zayn o que se passou?"

"Ainda não. Estou à procura de coragem, honestamente."

"Talvez agora não seja a melhor oportunidade para o fazeres."

"Sim, eu concordo contigo."

"Talvez no início das aulas lhe consigas explicar o sucedido."

"Sim, Elaine, talvez aí..."

A minha meia-irmã sorri-me e após dar um jeito ao meu cabelo afasta-se um pouco passando as mãos pelo seu bonito vestido de flores. O mesmo assentava-lhe que nem uma luva, como se tivesse sido feito à medida exclusivamente para ela. O seu corpo era invejável e a sua beleza era em abundancia.

"Eu vou para sala, ainda ficas aqui?" Ela questiona, já caminhando em direção à saída do meu quarto.

"Eu já lá vou ter, não precisas de te preocupar comigo."

Uma vez que a rapariga de cabelos curtos abandona o meu quarto, deito-me na minha cama e desbloqueio o meu telemóvel. Pouco importada com o meu penteado sofisticado esborracho o meu rosto contra a almofada que tinha por debaixo do mesmo e procuro o seu nome por toda a minha lista de contactos. Uma vez que o encontro, delibero ligar-lhe, ficando como consequência disso a ouvir atentamente as marcações que a espera me obrigada.

No entanto, Zayn não devia estar perto do telemóvel pois a chamada acabou por ir parar à mensagem de voz. Nego com a cabeça para mim própria, numa tentativa de não dar muita importância e, ao mesmo tempo, rezo para que nada de mal tenha acontecido à sua pequena irmã.

Não podendo ficar no meu quarto para sempre, pouso o telemóvel na minha mesinha de cabeceira e mordisco o meu lábio inferior. Só de pensar que tenho que passar mais uma horas ao lado da minha mãe, que ainda se encontrava desapontada comigo, dava-me a volta à barriga. Todavia, eu iria aparecer junto a eles de cabeça erguida como se os problemas não existissem na minha vida, como se nada tivesse acontecido.

Eu odeio-me por ser fraca mas, secretamente, adoro-me por mais ninguém conhecer esta minha faceta derrotista e pessimista que, para ser sincera, raramente aparece.

Eu terei que ter paciência e aguardar pelo regresso das aulas universitárias. Dentro de uma semana tudo isso ir-me-á ser possível e terei que ser eu a ajudá-lo ao máximo a esquecer os problemas que atualmente martirizam o seu pequeno mundo. É possível que passe mais esta semana sem a possibilidade de falar com ele mas terei que aguentar, como sempre faço, independentemente de todos os fatores externos que me pressionam e me levam a querer vê-lo e estar com ele.

Toxic 》 malikWhere stories live. Discover now