ZERO | A QUEDA

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      Conta-se pelos cincos reinos a história do surgimento do continente de Lucem, de como uma terra infértil deu origem a povos e criaturas diversas. O dia em que a estrela Dália caiu dos céus, abandonando a solidão do horizonte vazio.

     Pobre estrela, tão pura e gentil, mas que viveu toda sua vida vislumbrando um solo fétido e morto. Quanta inveja sentia de suas irmãs, a quem foram dados pedestais de observação onde a vida fluía opulenta.

      Todo pedestal é importante, escutava sua mestre dizer. Toda estrela tem seu propósito, o seu é manter a balança equilibrada naquele mundo, a mestre consolava. Em vão, nada adiantava para lhe tirar da tristeza.

      Até que um dia, sua solidão chegou ao ápice. Seu coração se apagou, rachando o pedestal onde vivia. Caiu, riscando o céu com uma chama alva e límpida. Pousou no solo esmarrido, sentiu a textura da terra infecunda. No fundo da sensação estéril, havia algo. Algo pulsante e irrequeto. Aquele lugar queria viver tanto quanto Dália.

       Maravilhada pelo desejo de florescer daquela matéria, Dália deu seu último suspiro em forma de brilho. Seu corpo celestial penetrou a gleba, espalhando-se como uma hemorragia incontrolável. Explodindo uma excitação vívida e flamejante, que preencheu cada molécula presente. O anseio por vida, gerou vida.

     Plantas surgiram, enraizando-se firmes. Criaturas diversas foram moldadas pelo brilho da estrela, que também dera origem a seres humanos, espalhados pelos cinco reinos. Não demorou muito para que novos pedestais fossem colocados no céu, transformando-o em uma densa colcha iluminada. Dália se tornou uma benção lendária, a mais pura das das estrelas criara um mundo inteiro. Um sacrifício cândido.

      Os povos daquele continente, o qual recebera o nome de Lucem, dividiram-se em cinco reinos. Cada um com sua própria autenticidade.  Os cabelos alvos e olhos de diamante da estrela por todos eles eram celebrados.

      Smaragdine foi presenteado com florestas densas e abundantes em magia, junto delas floresceram berços de pedras preciosas

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      Smaragdine foi presenteado com florestas densas e abundantes em magia, junto delas floresceram berços de pedras preciosas. Esmeraldas cobriam os vales e montanhas do território, não demorou muito para que uma monarquia surgisse a fim de controlar as riquezas dali. O povo smaragdino se tornou próspero e poderoso, o mais rico dentre seus irmãos. E o mais arrogante também.
     
    Amaranto recebeu como dádiva um solo de fertilidade infinita, tudo que se semeava crescia frondoso. Tinha a capacidade de alimentar todo o continente, se assim desejasse. No entanto, ao povo amaranto, da pele negra como a noite, só interessava proteger sua colheita e família. Tudo além disso, tratava-se de futilidade. Dentro das montanhas vermelhas, nada mais importava que os laços sanguíneos e o solo sagrado.

      Ivory, o reino gélido, fora muito difícil de colonizar. Mas em seu território um povo de pele alva e olhos vermelhos resistiu, desenvolveram-se como uma potência das ciências e tecnologias. O frio não era pário para inventividade e técnica ivoriana, mas sua sociedade não se igualou à racionalidade de suas invenções, era estamental e dividida em castas. Determinista. Até mesmo eugenista.

      Celosia, o reino do sol infinito, parecia permanecer anecúmeno mesmo após a queda de Dália. Os desertos áridos e tornados constantes se mostravam como desafios intransponíveis, mas a humanidade não desistiu. Com a ajuda de seus irmãos, um auxílio caro que prendeu os celosianos às grandes dívidas, pessoas se fixaram nas areias. Celosia virou o canteiro de obras dos outros reinos, com suas fartas minas de carvão e numerosa mão de obra.
      
      Palladian, o reino desconhecido, ficava numa ilha, separado dos outros. As águas que percorriam o lugar eram tão cheias de poeira de estrela, que não existia doença, a qual elas não podiam curar. Sabendo disso, os palladianos fecharam suas fronteiras e findaram contato com seus irmãos. Todo aquele que saía da ilha possuía o dever sagrado de nada revelar.

     Por cinco séculos, Lucem cresceu. Os seres dali se reproduziram e povoaram a terra. E a cada nova criatura que ali nascia, mas a superfície se forçava contra o mundo subterrâneo. Até que um dia, a rachadura provocada pela queda de Dália se rompeu. Revelando das profundezas um sexto reino, Tenebris, a terra habitada pelas maldições e demônios.

    O rei Nocti queria seu lugar na superfície, mas isso lhe foi imediatamente negado. Os humanos nunca se permitiriam compartilhar um mundo com as sombras. Então uma guerra foi iniciada, mas do que nunca a união entre os reinos irmãos era necessária. Juntos marcharam e morreram unidos, fora um massacre avassalador o suficiente para que as estrelas descessem do céu para aos humanos ajudar.
 
    Um pacto entre seres celestiais e terrenos foi sacramentado, as estrelas deram aos humanos o Coração de Dália como arma. O órgão que jazia secretamente em Lucem possuía um poder inigualável, capaz de vencer Nocti e seus servos. E assim, a superfície venceu o submundo, estabelecendo a ordem outra vez. Os cinco Campeões foram para sempre lembrados.

      Contudo, os seres celestiais não poderiam deixar que os humanos seguissem com o Coração de Dália, mas tirá-lo de Lucem era deixar aquelas terras vulneráveis outra vez. Então, uma profecia foi criada. O Coração foi separado em cinco partes, que deveriam ser unidas por novos cinco guerreiros sagrados no dia em que Tenebris se abrisse outra vez.

       E essa era a versão mais conhecida que narrava o nascimento de Lucem e o fim da Guerra Sombria que se tornou a história de ninar de tantas crianças do continente, as quais ouviam sobre o retorno de Nocti com medo e excitação. Por muito tempo, achou-se que a volta de Tenebris era apenas uma lenda, mas agora ela assombra a superfície outra vez.

      Nocti e os inferos querem a superfície mais uma vez.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioOnde histórias criam vida. Descubra agora