VINTE E SETE | KELAYA VIMONAR

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     Malya tentou manter a respiração controlada, depurando os fatos devagar. Não queria fazer nenhuma acusação infundada, seu histórico não estava favorável para que tivesse o direito de errar. Continuou analisando os movimentos da outra, buscando comparar cada traço com o do afanador.

       — Se o Mago Idrovras está mesmo morto, precisaremos mais do que nunca de tua agilidade, Kelaya. – Halina repreendeu a cunhada.

        — Eu sei, não consigo entender a razão pela qual as pedras não funcionaram. – tocou a último elemento do saco.

        Percebeu que a celosiana lhe sondava. Malya sabia o porquê da outra não aparecer em Amaranto, no dia do incêndio. A meia bruxa era a incendiária.

        — Ele morreu em paz? – Arden ainda processava o fim de Idrovras.

        — Sim, como um grande Mago. – sorriu para ele, tocando o antebraço do homem, na tentativa de oferecer consolo.

       As pulseiras soaram outra vez, alarmando a mente de Malya. Ela tinha certeza.

        — E então, Kelaya? Antes de discutimos sobre o desafio de Celosia, tu poderias nos dá outro modo de lhe chamar, ou até quem sabe partir conosco. – a princesa insistiu, não estava com paciência para o romance do irmã, acordara nauseada naquela manhã.

       — Façamos um acordo, – começou a mestiça, depois dessas palavras os ouvidos de Malya.

        A sentença saiu com a mesma entonação do afanador, eram perfeitamente iguais, exceto pela voz deturpada do ladrão. Todo o resto era idêntico, até os trejeitos realizados.

        — Repita. – a celosiana exigiu.

        — Perdão, não entendestes minha proposta? – Kelaya devolveu.

        — Repita a primeira sentença. – aproximou-se ameaçadora da mulher de cabelo azulado.

        Os outros se entreolhavam confusos, buscando uma resolução para o conflito recém nascido.

     — Estás bem, Malya? – Arden tentou se achegar para perto dela.

      A postura da celosiana permanecia irredutível, não tirava os olhos da mestiça. Queria matá-la imediatamente. Arrastar a meia bruxa pela areias, arrancando os tufos de seu cabelo.

      — Façamos um acordo. – Kelaya repetiu, apenas deixando a morena mais certa de sua suposição.
   
       — É você! – Malya rugiu para mestiça. Kelaya falou exatamente igual ao afanador.

        A meia bruxa recuou acanhada para trás do noivo, parecia confusa. A celosiana tirou as espadas de suas costas, pronta para atacar a outra.

         — O que está fazendo, Malya? Você está bem? – Zaire olhou para ela preocupado, tocando em seu ombro.

         — É ela! – respondeu como se todos tivessem percebido.

          Sua mente trabalhava a mil por hora, o cheiro da magia que sentiu no dia que Zaire e Arden brigaram arduamente, deixando-os vulneráveis para o roubo do primeiro fragmento era o mesmo da mestiça. Percebia semelhança nos modos das duas figuras se moverem, somente agora. A pronúncia das palavras também era similar, mesmo com a voz  distorcida usada pelo afanador. Os mínimos detalhes se encaixavam, impulsionados pelos simples tilintar das pulseiras de Kelaya.

          — Não estou entendendo. Elabore. – pediu Skadi, tão perdido quanto os outros.

           — Ela é o afanador. – falou por fim, fazendo todos abrirem as bocas surpresos.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now