VINTE E NOVE | A VERDADE

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      —  Sei que estás acordada.

      Malya escutou o príncipe falar com ela, mexeu a cabeça para ver melhor o homem. Não entendia o porquê dele estar ali, principalmente sozinho. Pensou que talvez fosse uma armadilha.

       — Vamos, Malya. Venha para perto. – pediu após a falta de resposta da mulher.

        — Vá embora, Arden. – continuou no mesmo lugar.

       O príncipe buscou o objeto metálico do bolso, colocando-o com cuidado na fechadura da cela. Pegou a chave no vestido de Kelaya, quando tirou a última peça de roupa da noiva. Ele não sabia exatamente o que estava fazendo, porém sentia que era a atitude correta. Confiava em Malya, sentia que tirá-la da cela era a escolha mais apropriada a se fazer. Talvez estivesse sendo tolo, conduzido pela paixão. Ainda assim, não iria recuar.

      — O que está fazendo? – Malya percebeu o ato do outro.

       — Soltando-lhe, não é evidente?– abriu a porta da cela. – Saía.

       — Perdeu o juízo?! – não queria prejudicá-lo.

       — Não temos tempo para isso, saía logo da cela. – cochichou a ordem.

        — Eu não devo. – permaneceu parada.

       Ela não se sentia digna da benevolência dele, principalmente considerando o quão danoso seria para Arden libertar uma prisioneira de passado fétido e monstruoso.

       — Deves. Acredito nas tuas palavras, não me importa o teu passado. – ele encostou o rosto nas grades, tentando ficar mais perto da celosiana. – Precisas partir, só tu podes salvar Lucem.

        — Por que fala isso? Não percebeu ainda que não sou nenhuma heroína? –fitou os olhos dele. – Sou uma assassina.

       — Já encontrastes redenção. Vivestes para salvar os reinos nos últimos dias, tais atos não podem ser apagados por um passado, no qual não tinhas poder sobre tuas ações. – passou o polegar pelo espaço dos metais, tocando o rosto dela.

       — Eu não consigo. Não sou uma heroína. – a vontade de chorar rebentava a garganta.

       — Sinto muito pelos outros. Sei que eles ainda gostam de ti, só estão impactos pelas visões... – ele achava que tinha obrigação de esclarecer isso. Conhecia o suficiente dos outros, para deduzir que também sofriam com o evento.

      A celosiana recordou o rosto de Zaire, a decepção estampada no rosto dele, seguida pela repulsa e temor. Ele não conseguiu cumprir a promessa, porém ela não se achava no direito de julgá-lo.

        — Kelaya é uma aliada de Nocti ou eu sou louca. – disparou para ele.

        — Acredito nas suas suposições. Não tenho nenhuma prova concreta, mas duvido que o Mago Idrovras partiria sem falar conosco...

         — Ela é sua noiva, Arden. Deveria ficar do lado dela e não de alguém como eu. – retaliou com pouca fé.

          — Tu mais que qualquer outra pessoa, deves saber que meu noivado é uma farsa. – sussurou ainda mais baixo.

          — E se eu estiver errada?! – pensou nas consequências de uma falha como aquela.

         — É um risco que estou disposto a correr. – ele já tinha se decidido.

        Arden estava consciente de que poderia ser um traidor da jornada, uma chance mínima existia de tudo não passar de um engano. Malya estava tão atordoada que poderia ter se confundido, depositado suas suspeitas na pessoa errada. Porém, ainda assim, havia muitas rachaduras na postura de Kelaya. A morte do Mago Idrovras, sua ausência quando fora chamada em Amaranto, o repentino aparecimento do fragmento roubado... A mestiça fez questão de expor a história da celosiana para todos, fragilizando a acusação e minando a atenção ao mostrar o fragmento afanado. As circunstâncias beneficiavam demais a meia bruxa.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioМесто, где живут истории. Откройте их для себя