CATORZE | OS EKSILER

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      — Abram! Abram! – Skadi bateu os punhos contra a parede de ferro. – Malditos!

      Era a cólera que tomava conta dos sentidos do ivoriano, não conseguiu controlar a raiva contra a situação. Os outros olhavam desconfortáveis a reação irritada, não sabiam o que fazer. Nunca haviam visto alguém de Ivory agir dessa maneira, nem mesmo Kale conseguiu acalmar o amigo.

      — Como podem fazer isso! Vamos morrer aqui fora. – exclamou furioso.

      Sentia-se injustiçada. Sem norte. Vivera todos os dias de sua história para aquela jornada, sobrevivendo ao descaso de seus conterrâneos. Os olhares indiferentes e de desdém contra ele, por sua falta de aptidão em controlar as emoções. A alcunha de fracasso lhe fora dada, enquanto ela se preparava para enfrentar um desafio de ser uma Lectus, como ordenara o acordo entre Ivory e os seres celestiais.

     O mais fraco, mais frágil, não é bom para Ivory. Deve ser exilado, não possuí funcionalidade. Passou a maior parte de seus dias escutandos os comentários desacreditados, os quais deixavam evidente que ele era apenas um mal necessário. Por mais que se esforçasse nos estudos e no arco nunca se tornava o suficiente para os seus. É muito suscetível às emoções, veja como treme. Seu protetor falou, durante os treinos de pontaria.

      Skadi fugiu de si mesmo tantas vezes que mal podia se lembrar, seguira as instruções o mais rigorosamente possível. Mas para quê? Para se sacrificar em nome de um povo que agora lhe deixava para morrer na tempestade? Todos devem contribuir, todos tem uma função. Seus desenhos não trazem nada de útil a Ivory. Concentre-se nos estudos necessários, Éostre uma vez lhe disse.

      Tantas restrições, as infinitas auto-condenações, tinham acuado seu talento artístico  para se sentir mais merecedor de pertencer ao seu povo. Um povo que lhe abandonou na primeira oportunidade. Ela sabia que sobreviveria ao frio, embora pudesse ser carregada pela tempestade com seu corpo franzino. Entretanto, sua maior preocupação era seus amigos.

        O grupo estava abaixado, espremido uns contra os outros. Zaire abraçava Keisha e Malya, Halina protegia seu familiar, sendo enlaçada pelos braços de seu irmão. Esteban e Kale estavam um do lado do outro, tentando confortar o ivoriano. Todos já tinham batido incansavelmente na muralha de ferro, não obtendo nenhum resultado. Era um gasto inútil de energia, deveriam concentrar todas as forças em manter o corpo aquecido.

      — Devem ter fechado a muralha por conta da nevasca. – Zaire declarou.

      — Eles acreditam que podemos sobriver à ela. – Kale concordou.

      Malya tremia, sua manta parecia não ser forte o suficiente para lidar com tanta pressão externa. Vivendo em Celosia sua tolerância com o frio era ainda menor que a dos outros. Resistia ao desejo de gastar todas as suas pedras em isolamentos temporários. Suas extremidades ficavam rijas, sinais de grangrena. Usou muita energia nos feitiços, já não podia fazer nenhum encantamento que pudesse lhe ajudar ou aos outros.

      — N-não vvvou conseguir. – Malya murmurou.

      — É claro que vai, aguente firme. – Zaire a apertou com mais força. – Você tem que conseguir.

      A nevasca ficava mais intensa, mal podiam enxergar a um palmo de distância. A consciência deles penava para resistir, ficar acordado não era uma prioridade, quando o corpo lutava para se manter aquecido.

      — Tem pessoas na muralha. – ouviram alguém dizer, mas não havia energia para emitir uma resposta ou pedido de socorro.

      — Não é um problema nosso, ivorianos não merecem nossa compaixão. – outro desconhecido falou.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum