DEZENOVE | DOLENT

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       “ Resista Malya, você consegue controlá-lo.– Hayat falou.

       A moça estava numa redoma de isolamento, as órbitas cobertas pelas membranas sombrias. Fazia um ano que saíra das garras de Lappam, ainda tinha traços de desnutrição no corpo franzino.

      — Eu não consigo lamentou. – com as membranas oscilando. – Me ajude, por favor. – chorou.

      — nuqi. – a feiticeira disse, afastando a presença.

      — Por que faz isso comigo? – choramingou. – Você pode me ajudar, e ainda assim prefere me torturar. – o ranho sujava sua face.

      — Criança, pare de terceirizar sua proteção. É forte o suficiente para se manter segura. Só precisa aprender a resistir. – Hayat falava firme.”

        Resistir.

        A força dentro de Malya conduziu suas espadas para o corpo do príncipe, que arqueeou em resposta. A mulher desferiu um segundo golpe, derrubando Arden, o qual não atacava. As espadas dela se posicionaram como tesouras no pescoço dele, fazendo-o gemer profundamente.

        — Eu sei que ainda estás aí. – falou o príncipe ofegante.

         A mulher largou as espadas, assustada com a própria posição. Afastou-se do homem prostrado, envergonhada do seu próprio ato. Conseguiu afastar a presença com um esforço hercúleo, mas não poderia desfazer o acontecimento.

        — E-eu... – começou trêmula.

        — Temos tempo para essa conversa depois, agora devemos sair daqui. – Arden se levantou, atingindo um Lestrigão com a espada. – Pegue suas armas celosiana.

        Malya entregou o fragmento para ele antes de pegar as espadas, os dois precisavam acuar os últimos monstros para avançarem entre os Lestrigões. O smaragdino recolheu seu machado em um dos corpos, as feras continuavam descontroladas, atacando impiedosas. Uma listra de sangue maculava a face pálida de Skadi, que ficava sem setas na sua aljava.

       Keisha sangrava, seu rosto perdia a cor. Mais Lestrigões surgiam a cada segundo. Não poderiam resistir por mais tempo, só tinham a escolha de recuar e torcer para que nenhum saísse machucado fatalmente.

       — Recuem! Pegamos o fragmento. Recuem imediatamente! – Arden brandiu.

      Escutando a ordem, começaram a recuar. Zaire colocou Keisha nas costas, seu familiar abria o caminho para que os dois passassem livremente. Skadi seguiu os companheiros, tonto com a pancada na cabeça, o voldsom dava coices para manter os Lestrigões distantes. Os monstros tentavam segui-los, mas as árvores se fechavam para eles. Halina gritou, seu cavalo foi devorado e agora ela era arrastada por uma das criaturas. Seu irmão correu em sua busca, decepando a mão do gigante que o chutou para longe. Aryeh mancando, pegou a princesa pelos ombros e arrastou o príncipe com dificuldades para fora do local. Apenas os irmãos palladianos e Malya estavam dentro do Bosque Werau, resistindo às intentadas furiosas.

      Eleina tocou no solo, abrindo uma cratera que engoliu parte das feras, dando espaço para que os três corressem. Um dos Lestrigões lançou uma pedra em Kale, deixando o rapaz, antes em fuga, desacordado. Malya tentou puxá-lo pela camisa, mas ele era pesado demais para ela, que ainda sentia as costelas machucadas. Eleina veio em seu encalço, puxando a camisa de Kale em conjunto com ela. Conseguiram sair do bosque.

     Vulneráveis e feridos respiraram aliviados quando as árvores se fecharam, mantendo os gigantes vermelho presos. O suor e o sangue se misturavam no ar, deixando-os com um cheiro desagradável. Foi o desafio mais cansativo a ser cumprido, mal saíram  vivos do Bosque. Desejavam retornar à aldeia para descansar nas camas macias, clima ameno e comida saborosa. Todavia, o destino não pretendia ser generoso ou acalentador para com eles. De posse do terceiro fragmento do Coração de Dália, já estava na hora do novo remetente ser traçado.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now