VINTE E OITO | O PÁRAMO E TENEBRIS

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        Um ano após a primeira Guerra Sombria.

         — Você se sente preparada para este propósito, jovem estrela? – Saffron, a estrela da primavera questiona.

          — Sim, entendo minha função na manutenção do equilíbrio. – o ser celestial pueril confirmou.

          Estavam no Salão Arcano, o corpo estelar discutia as ações tomadas para enfrentar a segunda Guerra Sombria que aconteceria depois de trezentos anos de sua precursora. O Páramo era o lar do seres celestiais, o local onde a energia pura que alimentava os astros fluía livremente, proporcionando o poder das criaturas. Um lugar e não-lugar, simultaneamente. O salão em questão, tinha uma abóboda tão alta que causava vertigem, tudo era feito em mármore e ouro. No chão, uma grande pintura em cerâmica do Sol e das três lua, mantenedores daquela ordem local do Páramo.

           — Prossigo acreditando que é tolice mandar outra estrela a Lucem. – Telassy, a mais nova do conselho falou convicta.

            — Gabrianna é nossa barreira de contenção de danos. Ela é a correção das quedas da estrela Dália e do cometa Milo. – Cian, um cadente, tentou argumentar, coçando sua barba grisalha.

             — Até quando permitiremos que seres celestiais deixem o Páramo, os efeitos da queda de Dália não foram o suficiente para nos alertar? Já temos o equilíbrio de reinos demais para nos concentrar. – contrapôs firme, Telassy. – Echo, controle seu aprendiz. Milo não deve deixar o Páramo, assim a humana não nos será mais um problema.

              — Não posso impedir os desígnios do destino. Meu aprendiz rebelde cairá, inevitavelmente terá uma prole com uma humana. – Echo tinha os cabelos cor de mel até os ombros, olhos verdes e uma voz imponente.

               — Esta prole terá contato com Magia sombria. Uma humana com parte dos três planos, o celestial, mundano e de Tenebris. – Telassy insistia. – Nas mãos de Nocti, junto com o Coração de Dália, nem mesmo nós seremos capazes de controlar um mal como esse. Isso são as consequências de permitir que vida brotasse numa prisão.
    
         — Sabes que não planejávamos isso, Telassy. Foi o núcleo celestial quem decidiu. Ele é uma força independente de nossas mentes, tem seu próprio propósito. E decidiu que deveria haver vida complexa nesta terra. – Saffron cruzou os dedos sobre a mesa.

        — E nós incentivamos. Trazendo uma constelação inteira para cá, tirando o Coração de Dália das estranhas e dando aos mundanos para que eles pudessem lutar. Talvez o destino dos cincos reinos estivesse fadado na primeira Guerra Sombria. Nocti ficaria satisfeito em apenas dominá-los. – a estrela de bronze se sentia frustrada com toda a situação. – E mais uma vez faremos isso.

         —  Conheces Nocti, possui uma ambição ilimitada. Provavelmente, alastraria o poder para os outros reinos. Destruiria os outros prisioneiros, se tornaria um mal maior do que jamais vimos em qualquer parte do universo. Por isso mandaremos Gabrianna, ela conduzirá a mundana para o caminho certo. Mudando o fim da profecia secreta. – Emalline, defendeu sua aprendiz. Ela era a chefe do conselho, uma estrela da Alvorada.

         — Que garantia teremos que vossa aprendiz não irá se corromper nos próximos trezentos anos? Que ela permanecerá nos limites dos cinco reinos? – Saffron voltou a falar.

     Ela era a estrela da primavera. Também não gostava muito da ideia de enviar mais um astro para Lucem, mas sabia que o futuro era intransponível. A profecia pintada pelo Páramo não tinha atalhos ou outras resoluções, ocorreria de todo modo. E nem os seres celestiais possuíam o poder de controlar esse evento. Ainda que a profecia secreta tenha sido pautada com um final maleável, algo raro nas previsões no núcleo sagrado.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now