OITO | O MAGO

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       Malya saiu da tenda em choque, tossiu exasperadamente quando conseguiu alcançar uma distância segura do dormitório. Queria pôr para fora a aflição que corroía sua alma, vomitou intensamente. Ficando fraca, seu rosto ficou lívido. Foi para o riacho, no qual tomara banho na noite anterior, encarou o próprio reflexo nas água cristalinas.

      Ele voltou. – pensou aos prantos.

     Lavou o rosto, tentando se consolar. Inútil. Abraçou as próprias pernas enquanto soluçava. Tinha medo do que Arden falaria se a visse, será que ainda seria aceita na expedição? Ou seria jogada para fora como uma traidora, ficando à mercê de Lappam?

    Apertou o pingente contra o peito, sentiu a textura da pedra. A sensação lhe levou para o dia, no qual ganhara o colar.

     “ — Isso vai mantê-la segura, obviamente a pedra não fará o trabalho sozinha. Precisa se esforçar, lutar e resistir. – Hayat tocou sua mão.

     Fazia uma semana que saíra do bando de Lappam, ainda estava desconfiada com grande generosidade das feiticeiras. Não quis comer nada que lhe havia sido dado nos primeiros três dias.

      — Ainda está dentro de mim? – perguntou, na esperança de receber um não.

     — Malya, eu vejo algo dentro de você. Algo muito maior que esse mal, o qual carrega. Acredite nisso. – falou gentilmente.”

       Ficou repetindo as palavras de Hayat até se recompor, não cederia agora. Tinha lutado até então, continuaria. Precisava disso, afinal não tinha outra escolha. Apesar de sentir tanta dor, ela também queria viver. Queria descobrir o que a vida lhe reservava, esperava que fosse algo bom.

     — Já arrumou suas coisas, Malya? – Kale perguntou, assim que avistou a moça. Estava de bom humor, outra vez. Esperançoso. As fadas levantaram seu ânimo.

     — Vou arrumar. – falou cabisbaixa, caminhava de volta para o alojamento.

    Halina e Arden conversavam em um dos cantos do lugar, o príncipe lançou um olhar indiferente para a celosiana que chegara. Ela tremeu em resposta. Os irmãos trocavam palavras conciliadoras, medidas remediadoras que só atenuavam a tensão entre os dois.

    — Está tudo bem? – Zaire indagou, ajudando a empacotar a barraca para o transporte.

     — Estou. – disse sucinta.

     — Você não tomou café da manhã, senhorita. Aqui está. – era Keisha com pão e uma maçã.

    — Oh, muito obrigada. Não precisava...

    — Minha superiora me fez prometer que manteria os Lectus bem alimentados. E depois de ontem, quando preparou a comida para todos, sinto-me especialmente em dívida com você. Todos estavam transtornados demais para pensar numa refeição, mas você fez isso por nós. – o tom era de admiração, Malya se sentiu culpada por gerar tal sentimento em outra pessoa.

    A amaranta se afastou, voltando a fazer suas obrigações.

     — Keisha vai seguir com a gente, é uma boa moça. – Zaire contou. – Amiga de minha irmã mais nova.

     — Ela  é realmente prestativa. – estava pensativa, preocupava-se com que Arden conversava com sua irmã.

    — Eu me pergunto, – o amaranto começou a sussurrar – qual pureza os seres celestiais encontraram no coração da princesa. Digo, a linhagem real de Smaragdine derramou tanto sangue inocente em sua história... Eu quero dizer, não sou um homem digno ou de grandes valores, sou apenas um agricultor. Sequer imagino, porque sou um Lectus...

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora