NOVE | VIVIDAE

45 15 105
                                    

        Arden parecia sereno, pedira para que se afastassem um pouco do grupo, antes de iniciar a conversa. Já Malya estava aflita, uma série de perguntas cruzava sua mente alvoroçada. Tinha medo do que viria a seguir.

      — Já estamos suficientemente longe aqui. – o príncipe anunciou, quando chegaram numa clareira.

      Lá, ainda era possível ouvir as falas baixas dos outros membros e ver as chamas da fogueira tremularem. Era uma noite de lua índigo, então uma fina camada azul banhava os dois na floresta. As outras duas luas irmãs permaneciam tímidas, diante do brilho da azulada.

       — Por que não contaste sobre o mal que possuis? – o príncipe deu o pontapé inicial para a conversa.

      — Não achei fosse conveniente. – Malya olhava para o céu, escorada numa árvore.

      — Isso pode colocar a missão em risco. Expor todos ao perigo. – movia as mãos, exaltado.

      — Entenderei se você quiser me expulsar. – cerrou os punhos preocupada.

      — Tolice. Como posso expulsar uma Lectus?! – deu passo para atrás, escorando-se em uma árvore também. – Sabes o que é? – encarou a moça.

      — Não exatamente.

      — Vivestes com feiticeiras, elas não te contaram o que poderia ser? – sua curiosidade era palpável.

     — Elas também nunca souberam definir. – olhou para ele.

     — Mas me parece controlável. Aquela noite, foi a primeira vez que fizeste algo anormal, o resto do tempo és igual a todos os outros. – ele parecia formular os pensamentos.

     — É controlável até certo ponto. – replicou sucinta.

     — E há cura? – seu semblante anseava por resposta.

     — Não que eu saiba. – estava confusa com as perguntas do príncipe, elas pareciam muito mais motivadas por curiosidade, do que por receio.

     — Será que é como um contaminado? – enrugou a testa.

    — Não, é muito diferente. – voltou os olhos para o céu.

     — Evidente. Ainda continuas humana. Humana. – repetiu distante.

    — Não é primeira que você ver algo assim, é? – agora era ela quem indagava.

     — Não. Vi outra em outra oportunidade. Uma única vez. – retrucou pausadamente.

     — Tá bom. – arquejou. – O que pretende fazer? Vai contar para os outros? – era o que mais lhe afligia.

     Não queria que os outros soubessem, imaginava a reação do grupo e suspeitava que não seria tão tranquila como a de Arden. Zaire continuaria falando com ela? Keisha sussurraria as fofocas smaragdinas? Kale sorriria para ela durante a viagem? Skadi passaria vê-la como um monstro a ser estudado? Ainda não compreendia porque se importava com tais coisas. Todavia, apreciava ser bem aceita entre os outros.

       — Vais pernoitar na minha tenda a partir desta noite. – o príncipe falou neutro.

      — Vá à merda, smaragdino. – exclamou um pouco mais alto do que deveria.

      — Acredito que essa é atitude mais sensata, já que eu pareço ser o alvo daquilo. – trazia um sorrisinho debochado.

      — Seu miserável, acha isso engraçado. Porco bastardo. – seu rosto se tingira de vermelho.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now