VINTE E TRÊS | A TRAVESSIA

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         Saíram do bosque tristes, abandonando toda a fertilidade do local. Voltaram para a zona neutra de Dolent, onde um dia nublado os abocanhou outra vez. Era estação das chuvas em Smaragdine, não podiam evitar os pingos insistentes que caíam do céu. Tentavam se manter aquecidos, para que uma coisa tão mundana como uma gripe, não prejudicassem as forças deles. Precisavam atravessar Smaragdine e depois o vasto Reino Amaranto para finalmente chegar na Fronteira Mortem.

        O nome do destino ruía nos ouvidos deles, temiam o que aconteceria a seguir. Conseguiriam construir o Coração de Dália em tempo? Isso ainda era uma dúvida que pairava sobre a cabeça de todos, principalmente com um dos fragmentos perdidos e a ameaça constante de um ladrão.

        — Príncipe Arden e princesa Halina. – um soldado fez reverência, chegaram a um dos postos de Dolent.

        — Pode descansar soldado. – Arden declarou, fazendo o outro homem relaxar. – Não iremos passar pelo centro de Dolent, desse modo eu gostaria de requisitar a entrega de mantimentos. Teremos uma longa viagem. – pediu.

         O soldado logo se movimentou para obedecer as ordens da realeza, a expedição passaria a noite ali. Tinha contornado toda a cidade de Dolent, aquele era o segundo posto que encontravam. Mais dois dias e estariam fora de Smaragdine, os animais de carga estavam mais rápidos que antes. Como se a alimentação do bosque que precedia o labirinto fosse um combustível de potencial mais energético, para os animais.

           Keisha já estava quase plenamente recuperada de sua lesão, ajudava a preparar as refeições, enquanto Malya cumpria sua atividade rotineira de buscar lenha. O soldados da torre de observação não ousara permanecer muito tempo perto da expedição, temia dizer algo embaraçoso ou desrepeitoso aos Lectus. Alguns invejavam a posição dos escolhidos, dois deles chegaram a pedir para o príncipe para acompanhar a jornada. Arden negou veementemente, lembrando da perda de seu último cavaleiro.

      — Fui eu quem ganhou o prêmio do labirinto. – Zaire falou orgulhoso para Malya, cochichava para que os outros não lhe escutassem.

        Estavam ao redor do calor da fogueira, a chuva dera uma pequena trégua e lonas foram necessárias para que não ficassem expostos ao chão úmido.

         — Fico imensamente feliz por você. – sorriu tímida.

          — Vi meu pai, uma curta passagem no Páramo, o lar das estrelas. – prosseguiu, ele não havia contado isso a mais ninguém. Omitiu a situação dos outros, no dia anterior.

          — Você mereceu essa honra. – fitou-o com sinceridade.

           Keisha passou vagarosamente entre os dois, querendo saber o conteúdo da conversa. Os dois riram ao perceber o gesto da jovem, conheciam ela o suficiente para ler seus atos.

           — Você também merecia um prêmio, como em todos os outros desafios se mostrou essencial para nossa jornada. – elogiou a habilidade dela.

          — Não sei o que a Dama Alabastrina me mostraria, não tenho uma família como você. E se me mostrasse meus pais não os reconheceria. – reflitou, encarando as chamas da fogueira.

           — Perdeu eles muito cedo. Deve ter sido difícil não conhecer sua própria origem. – pôs a mão no ombro dela.

         A celosiana se controlou para não recuar ao toque, desde o episódio no Vale tinha medo de encostar em qualquer pessoa, temendo a reação que seu corpo apresentaria.

        — Acho que eram celosianos comuns, não me deixaram nada. Nem mesmo um nome. – deixou escapar.

       — Oh, então de onde vem Malya Basmah? – arqueou as sombrancelhas curiosos.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora