VINTE E SEIS | A INSURREIÇÃO

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        — Pashan?! – a celosiana exclamou ao ver o rosto amigo.

      O restante da manada parou em frente a eles, mostrando os rostos e sorrindo simpáticos. Não estavam ali para lutar contra eles, mas com eles.

       — Malya, seu camundongo do deserto! Nem um mísero bilhete você teve coragem de me enviar?! – ele apresentava uma irritação cômica no tom.

        Abraçou a mulher, afetuosamente. Pensou que nunca mais veria a amiga viva outra vez. Os outros recém chegados arfaram contentes, vendo o reencontro amistoso. Malya e Pashan trabalharam lado a lado durante anos no distrito da tecelagem.

       — O que estão fazendo aqui? Por que não estão nas fábricas? – indagou, reconhecendo os rostos familiares. Eram seu colegas de trabalho.

      — Tomamos as fábricas. – Hooda informou, ela costumava trabalhar nos aviamentos. – Somos uma insurreição agora.

     — Insurreição? – repetiu a palavra confusa.

      A mulher que disse aquele termo, tinha como passatempo fazer pães para os colegas laborais. E agora, segurava uma faca.

       — Sim, nós estamos aqui para ajudá-los. – Kalil, um dos que trabalhavam no setor de cargas, contou. Ele era jovem, mal chegava aos trinta anos.

        — Chegaram atrasados.– Skadi afirmou indiferente, recolhendo as flechas dos corpos mortos ou aquelas que ele errara e estavam enterradas na areia.

       — Nós percebemos. – Pashan devolveu sarcástico. – Ao menos deixem-nos oferecer um pernoite em nossa sede.

       Os integrantes da jornada estavam receosos em aceitar o convite, a última vez que fizeram isso inocentes morreram. Todavia, precisavam de um abrigo e o deserto estava longe de ser um lugar seguro. Além disso, Pashan se mostrou uma figura bastante resiliente no convite, deixando-os sem opções. A sede da Insurreição ficava há apenas um par de horas de distância do ponto, no qual estavam. Chegaram no local no pôr do Sol.

      Era uma gruta no deserto, que dava para um complexo de formações rochosas dentro de um cânion. A cor das pedras se camuflava com o resto do ambiente, dando a vantagem de discrição para os insurgentes que ali trabalhavam. Havia muitas pessoas dentro do local, de variadas idades e vindas de distritos distintos. Existia uma nascente de água numa das pedras, fraquinha, mas suficiente para suprir as demandas deles. A expedição foi recebida com alvoroço, aqueles que ficaram no locatário não esperavam que o bando volante conseguisse sair bem sucedido da missão.

     Pashan os levou para uma mesa baixa, na qual almofadas serviam de assentos. Novos insurgentes se juntaram a eles, enquanto outros saíram do espaço, buscando organizar a curta estadia dos visitantes. O local era escuro, apesar das inúmeras velas.

     — Então, este é nosso abrigo. – Pashan olhou a sua volta.

      O local era surpreendemente arejado, considerando a quantidade gigantesca de rochas que os rodeavam.

       — Não acreditamos quando ouvimos os boatos. – Hooda estava sentada numa das almofadas. – Uma celosiana operária tinha sido escolhida como uma Lectus, impossível pensamos. Mas depois as histórias foram se espalhando e você não apareceu mais para trabalhar, então ligamos os pontos.

       — A aristocracia tentou se aproveitar das fofocas, capturar nosso orgulho como forma de alienação. Contudo, uma de nós ter ascendido era o sinal de que poderíamos ser mais que animais de carga. – Samir, um velho senhor de barbas e cabelos grisalhos, falava gentilmente para a jovem.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now