DOIS | SKADI ANTERIC

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         O dia estava frio em Ivory, mas os nativos dali pouco se importavam com as baixas temperaturas. O clima congelante já fora dominado pelos ivorianos, sua habitações blindadas construídas em contato com o gelo eram climatizadas de acordo com as necessidades populacionais. Resultado de estudos longos para descobrir qual material seria o mais adequado.
    
         Ivorianos tinham se desenvolvido grandemente no ramo da tecnologia e produção científica, tratavam-se dos principais idealizadores de armas, projetos de engenharia, além de possuírem centros acadêmicos e educacionais, exportavam o conhecimento para todo o continente, quando lhes era conveniente financeiramente. Eram o cérebro de Lucem.

      Ivory de longe, era a mais evoluídas das nações, pelo menos do ponto de vista desenvolvimentista. Uma vez que socialmente falando, a sociedade ivoriana era dividida em rígidas castas. Todo cidadão nascido no território, já tinha seu destino predestinado no primeiro ano de vida. E aqueles que não apresentavam benefícios para o construção do reino eram exilados impiedosamente.

     Os Voktere eram os mais privilegiados, eram considerados os guardiões do conhecimento, dirigiam as pesquisas e ramos político da nação. Já os Makt eram a força de Ivory, abriam mão da dedicação exclusiva à intelectualidade, em nome do trabalho de campo. Em último plano, ficavam os Maur, os trabalhadores que não podiam participar da ordem política ou acadêmica do país. Viviam na subalternidade. Já os eksiler, sequer entravam nessa pirâmide, se uma deficiência incorrigível fosse dedectada em um bebê, ele era lançando fora no Inferno Album. O mesmo ocorria com os adultos que perdiam a utilidade.

      — Tragam-na. – o Conselheiro do condado de Løer, pediu.

      — É o mais fraco de Ivory? – o ser celestial inquiriu.

     — Sim, exatamente como consta em nosso acordo. – respondeu o Conselheiro.

     Um acordo sigiloso entre os ivorianos e as estrelas fora selado no fim da Guerra Sombria, os seres celestiais cederiam aos humanos um infinito conhecimento. Em contrapartida, no dia que Nocti retornasse o mais frágil de Ivory deveria ser enviado para a batalha como escolhido. Um que tivesse o coração puro e paciente.

      Skadi Anteric caminhou com disciplina no corredor, adentrou a sala de leitura, onde fora chamado. Viu o comandante do condado, ao lado dele um ser que parecia uma mulher. Em Ivory, não existiam gêneros, cada indivíduo era híbrido, portador do feminino e masculino não havendo diferenciação. Às vezes, os indivíduos escolhiam se alinhar a um único gênero. Sabiam que nos outros reinos, os sexos eram bem separados e determinados, ao menos nos três que faziam parte do continente. Palladian ainda era segredo, até mesmo para os mais sábios. 

    Na parede do fundo da sala, uma pintura da Dália preenchia o horizonte com seus olhos claros, tão límpidos quanto um diamante. Os cabelos eram brancos acinzentados e a postura era imponente. Ninguém de Lucem havia visto a estrela, mas fora assim que os seres celestiais a descreveram. O painel era um dos poucos monumentos artísticos de Ivory.

     — Skadi Anteric. – a estrela falou devagar, saboreando cada letra.

     O ser celestial tinha um cabelo cor de cobre, pele escura como a noite e usava uma túnica magenta. Já Skadi, assim como seus conterrâneos, possuíam uma pele alva como a neve, olhos amendoados com órbitas de um vermelho escuro. Os cabelos eram brancos, quase prateados, trançados em um penteado delicado e belo. O corpo do ivoriano era magro e esguio, seu rosto era geométrico e o nariz afilado.

     — Está ciente de sua condição, Ivoriana? – a estrela questionou.

      — Sim. Estou preparado para minha função. – respondeu, relevando uma voz rouca e aveludada. Sentia-se honrado de servir Ivory, especialmente porque passara a vida escutando ser um estorvo.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now