VINTE E CINCO | O RETORNO DO ALGOZ

5 3 1
                                    

       — Vejo que o tempo lhe deixou mais atrevida, cordeirinho. – Lappam ignorou a raiva contida na voz dela. – E agora você tem alguns amigos. Quem diria...

      A presença dentro de Malya se agitou, tentando romper o controle e dominar seus músculos.

       — Saía imediatamente do nosso caminho, seu bastardo. – Arden exigiu, reconhecendo o homem de seu primeiro encontro com Malya.

      — Oh, você tem até um príncipe encantado. – abriu um sorriso sarcástico. – Mas sua aventura acabou, menina. É hora de voltar ao seu lar.

       O resto da expedição fitava o homem com desconfiança, não entendia quem ele era para Malya. Contudo, podiam sentir na sua presença resquícios de magia sombria. A aparência do algoz era assustadora por si só.

       — Como se atreves a falar com uma Lectus dessa maneira, seu relés mercenário? – Halina não gostava do tom dele.

       — Então é verdade. Você cordeirinho é realmente uma Lectus? – gargalhou com prazer. – Os seres celestiais devem estar desnorteado para pôr alguém, um ser abjeto como tu, neste papel.

       A resistência do Lappam era pálpavel. Portanto, os outros companheiros de viagem empunharam as armas prontos para um combate. Não perderiam mais nenhum membro, muito menos Malya que se mostrou tão determinada e ligada ao objetivo da jornada. Os outros mercenários permaneciam parados, esperando as ordens de seu mestre. A maior parte deles não mostrava o rosto, escondido sob lenços. No entanto, a celosiana conseguia reconhecer cada um deles, gravara as feições daqueles que foram conivente com sua tortura.

       — Esta é uma luta só nossa, Lappam. Deixem os outros fora disso. – Malya falou determinada.
     
      Não mate o mestre, sem ele você perderá o poder das sombras, a presença tenebrosa argumentou.

      Passou a vida fugindo de Lappam, prestando uma atenção suprema em cada boato que envolvia o nome do mercenário, com o propósito de se esconder de seu algoz. Mesmo sob a proteção das Feiticeiras, andava escondida nas ruas de seu distrito. Temerosa de que algum de seus capangas lhe reconhecesse, tal qual ocorreu no seu último dia em casa. Inicialmente, a sua entrada na jornada foi motivada pela busca por proteção e redenção de um passado fragmentado. O medo lhe conduzira por tempo demais, mas não nesse momento. Depois de tudo que tinha vivido, após os desafios enfrentados e suas habilidades constantemente testadas... Agora, ela já não tinha mais medo de Lappam. Ele seria apenas mais um monstro, cujo o sangue molharia as lâminas de suas espadas. Enfim, ela conseguia compreender a própria força, mesmo desconhecendo a sua natureza.

     — Nenhum de nós luta sozinho. – Zaire disparou. – Sua luta também é a nossa, Malya.

      Os outros assentiram.

       — Emocionante. – debochou Lappam. – Fico orgulhoso com as amizades tecidas por você. Porém, será que eles seguirão ao seu lado quando souberem de seu passado?

         Ele está certo. Vão te repudiar. És impura. Sequer se lembra dos crimes cometidos, ela tentava fazer a voz se calar.

         O questionamento do bruxo socou o estômago da mulher, não tinha tanta segurança de que seus amigos permaneceriam lhe apoiando, se tivessem consciência de que ela fora um objeto de experimentação de magia sombria. Nem ao menos sabia se seria capaz de se aceitar, no instante em que descobrisse toda a verdade.

       — Pobre menina órfã, vendida como escrava para um mercenário e bruxo da escuridão. Sabiam disso? – questionou exultante para o resto do grupo.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now